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ENTREVISTA/PATRICK KRON
"Empresa não corrompe agentes públicos", diz presidente da Alstom
Presidente do grupo rechaça acusações de pagamento de propina a políticos em SP
e afirma que caso é baseado em especulação
MARIO CESAR CARVALHO
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente mundial da Alstom, o francês Patrick Kron, diz
que o grupo que dirige está sendo condenado sem julgamento.
A empresa está sob investigação no Brasil, na Suíça e na
França sob suspeita de pagar
propinas a políticos para obter
contratos. Em visita a São Paulo, ele disse à Folha: "Vim para
dizer que a Alstom não foi afetada por uma doença contagiosa e que a Alstom não corrompe agentes públicos".
Veio também para assinar
um contrato com o Metrô de
280 milhões (R$ 706 milhões),
para modernização do sistema
de controle e sinalização dos
trens. Desta vez, a empresa foi
escolhida por meio de licitação.
Na entrevista a seguir, feita
na sede da empresa, o engenheiro nascido em 1953 diz que
as acusações contra a Alstom
não têm fundamento e que a
empresa adota a tolerância zero com desvios éticos.
FOLHA - Os grandes clientes da Alstom são governos. Como é possível
atuar nessa área sem se envolver
com corrupção?
PATRICK KRON - Há uma mescla
de setor público e setor privado
entre os clientes da Alstom.
Mas, já que você mencionou a
questão da corrupção, isso me
dá a oportunidade de tornar
precisas certas coisas. Há dois
meses o nome da Alstom no
Brasil vem sendo associado a
certas práticas que eu condeno,
que não são toleradas na nossa
empresa. A maneira como a
nossa empresa foi tratada [pela
mídia] ultrapassou todos os limites do razoável. Vim para dizer que a Alstom não foi afetada
por uma doença vergonhosa
nem contagiosa e que a Alstom
não corrompe agentes públicos. Só peço que a Alstom seja
tratada de maneira justa e equilibrada, que as informações sejam baseadas em fatos, não em
especulações.
FOLHA - Promotores suíços têm documentos que mostram que a Alstom transferiu cerca de US$ 30 milhões entre 1998 e 2001 para pagar
propinas no Brasil, na Venezuela,
em Cingapura e na Indonésia. Por
que a Alstom pagou propina a políticos de São Paulo, como dizem os investigadores suíços?
KRON - O inquérito aberto pelas autoridades suíças, com a
colaboração da Justiça francesa, é sobre as atividades de um
empresário suíço que teria tido
contato com a Cegelec, que a
Alstom comprou em 1998 e
vendeu algum tempo depois.
Até hoje, nenhum funcionário
atual ou ex-funcionário da Alstom foi acusado de coisa alguma. Paralelamente, nós realizamos auditorias internas para analisar os documentos aos
quais podemos ter acesso. O
que eu posso dizer é que essa
auditoria não confirma as hipóteses levantadas sobretudo pelo "Wall Street Journal". Não
encontramos nenhuma infração à ética nos contratos brasileiros que foram citados no
"Wall Street Journal". Nem do
Metrô de São Paulo. Gostaria
que me mostrassem o contrato
de US$ 45 milhões pelo qual foram pagos US$ 7 milhões de
propina [mencionado em reportagem do "Wall Street Journal"]. Ou então falemos do contrato da hidrelétrica Itá [em
Santa Catarina]. Me explicaram que centenas de milhões
de dólares foram pagos de propina por esse contrato. Em primeiro lugar, trata-se de uma
empresa privada. Em segundo
lugar, o contrato com a Itá não
ultrapassa US$ 90 milhões. Fomos condenados sem sermos
julgados. Fizeram isso com base em insinuações e é isso que
quero combater.
FOLHA - Em dois memorandos da
Cegelec, um executivo disse estar
disposto a pagar 7,5% de propina
para obter um contrato da Eletropaulo de R$ 110 milhões. Segundo
os documentos, o dinheiro iria para
as finanças do partido, para o tribunal de contas e para a Secretaria de
Energia. Não são indícios fortes de
que a Cegelec, já administrada pela
Alstom, corrompia políticos?
KRON - O sr. está falando de
uma empresa que a Alstom
comprou mais tarde. Ela tinha
uma atividade -fazia subestações de energia elétrica- que
não faz mais parte dos negócios
da Alstom. Então, você pode
imaginar que para mim não é
muito fácil comentar isso. Menos ainda avaliar o que ocorreu
ou o que não ocorreu. A Justiça
dirá o que aconteceu.
FOLHA - Em 2006, um executivo da
Alstom no Brasil foi preso num caso
em que havia indícios fortes de corrupção de políticos, inclusive de um
senador. Por que a Alstom não ajudou naquela investigação e diz auxiliar os promotores suíços? O Brasil
não é sério para receber ajuda da
Alstom nessa área?
KRON - Não conheço esse caso.
A Alstom colabora com autoridades judiciais em todas as partes do mundo. Nós temos um
código de ética muito rígido.
Nós respeitamos as leis e os regulamentos em todas as partes
do mundo. Temos tolerância
zero em relação à violação das
regras. É por isso que, quando
há um processo como o que
existe na Suíça e na França, nós
pedimos para sermos incluídos
como queixosos. Porque, se
houve malversação, isso foi em
detrimento da empresa, e a empresa precisa ter o direito de se
defender.
FOLHA - A polícia brasileira achou
dois comprovantes de transferências de 2003, que seriam pagamento de propina: 220 mil e US$ 550
mil. Foi exatamente nesse ano que o
sr. tornou-se presidente mundial da
Alstom. Foi o sr. que mandou pagar
essas propinas?
KRON - Não conheço as particularidades desse caso. Mas tenho certeza de que se houvesse
atitudes criticáveis ali as autoridades judiciais teriam se
apossado dessa documentação.
FOLHA - O nome Alstom no Brasil é
associado a corrupção e a pagamento de propina a políticos. O que a
empresa pretende fazer para mudar
essa imagem?
KRON - O objetivo da nossa
conversa é tentar convencê-lo
de que não existe um caso Alstom. Nossa empresa não tem
uma doença contagiosa. Somos
a favor da transparência. Quando há uma ação judicial, nós
sempre colaboramos com a
Justiça. Acho que as acusações
sem provas que fazem contra
nós não têm fundamento. O
que me parece muito importante é que nossos clientes e
nossos parceiros mantenham a
confiança em nós. Isso é demonstrado em um contrato
que assinamos [anteontem]
com o Estado de São Paulo para
modernização das linhas 1, 2 e 3
do Metrô. Isso é demonstrado
também pela decisão de nós e
da Bardella de investir numa
nova unidade em Rondônia.
Nenhum dos 4.000 funcionários que temos aqui merecem
ser tratados do modo como foram nas últimas semanas.
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