São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PIPOCA E VOTO

Criador de rádio comunitária critica ausência de Lula, representado pelo vice em sessão de filme

Ciro diz sentir vergonha de ser político

Juca Varella/Folha Imagem
Lívia, filha de Ciro Gomes, o candidato do PPS e sua mulher, Patrícia Pillar, assistem ao filme "Uma Onda no Ar", em São Paulo


PATRICIA ZORZAN
LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, afirmou ontem, após sessão especial do filme ""Uma Onda no Ar", em São Paulo, ter sentido ""muita vergonha" de ser político.
"Senti um sentimento dúbio. Senti muita vergonha de ser político no Brasil", disse sob aplausos de cerca de 200 pessoas.
"Por outro lado, entretanto, enquanto o meu nó de garganta se desfazia e eu olhava a minha filha do lado (...), aquela vergonha foi se dissipando. Porque me lembrei de que estou contra tudo isso e de que estou dando tudo o que posso para derrotar tudo isso. E vou me esforçar para colaborar para que essas coisas mudem", completou.
O filme, dirigido por Helvécio Ratton, conta a história da Rádio Favela, uma rádio comunitária criada em um morro de Belo Horizonte, e relata a perseguição ao fundador da emissora.
Adolescente na ocasião, o criador da rádio, Misael Avelino dos Santos, foi preso várias vezes. Em uma delas, foi solto, de acordo com o filme, pela pressão exercida por entidades civis durante um período eleitoral.
Acompanhado da mulher, a atriz Patrícia Pillar, e da filha, Lívia, 18, Ciro participou da sessão de divulgação social do filme, patrocinada pelo Instituto Ayrton Senna. Além dele, Anthony Garotinho (PSB), Rita Camata (PMDB) -vice de José Serra (PSDB)-, e José Alencar (PL) -vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)-, estiveram no evento.
Cada um deles recebeu uma cópia do documento ""Por uma política de juventude no Brasil", preparado a pedido do instituto.
No momento em que um dos protagonistas do filme é assassinado por engano no morro, Patrícia, depois de verificar estar sendo observada pela imprensa, franziu o rosto, preparando-se para chorar. Ciro e Garotinho levaram os dedos aos olhos, em um gesto característico de quem enxuga lágrimas.
Em pelo menos mais duas ocasiões, o pepessista e a atriz ainda ficaram com os olhos marejados. Em uma delas, quando a presidente do instituto, Viviane Senna, declarou, com a voz embargada, que, assim como aquela platéia, todos os pais deveriam ter o direito de ter os filhos vivos.
A cena se repetiu após Viviane afirmar que os jovens são a "verdadeira seleção [de futebol]" que fará "o país vitorioso".
Já Rita Camata chegou a cochilar durante a exibição.
Depois de ter cumprimentado Ciro e Patrícia duas vezes, no final do filme, Garotinho ainda se dirigiu ao pepessista e disse a ele que os dois precisavam conversar. "Claro, claro, depois vamos, sim", respondeu Ciro, fazendo um sinal positivo com o polegar. O diálogo aconteceu dois dias depois de os dois terem trocado gentilezas no debate da Record.
O candidato do PPS foi elogiado publicamente pelo criador da rádio. "Ele é parceiro. Teve a coragem de subir o morro." Apesar disso, Misael negou que essa seja sua opção de voto. "Mas não posso falar quem é porque tenho peso por estar no filme."
Ele fez questão, entretanto, de criticar indiretamente Lula. "Vou falar do candidato que diz que representa a periferia, mas não veio. Ele não gosta de pobre. Mandou um empresário. Já viu patrão representar empregado?"



Texto Anterior: Ciro recebe passagens e adesivos em jantar
Próximo Texto: Filme sobre a periferia é uma boa intenção fracassada
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.