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Filme sobre a periferia é uma boa intenção fracassada
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Uma Onda no Ar", longa-metragem de Helvécio Ratton que
estréia amanhã nos cinemas
brasileiros, é um filme cheio de
boas intenções. Mas no cinema,
como na política, boas intenções
não garantem resultados satisfatórios.
O cineasta buscou reproduzir
na tela a trajetória de jovens da
periferia belo-horizontina que se
recusam ao caminho "fácil" do
tráfico e empenham tempo e
energia na instalação de uma rádio comunitária, "a voz do morro", e, por extensão, "a verdadeira voz do Brasil".
A trama se baseia na história
real da Rádio Favela.
Por ser pirata e, sobretudo, por
denunciar a responsabilidade
das camadas de população do
"asfalto" na situação miserável
da favela e a inoperância do Estado, a emissora enfrenta a perseguição truculenta da polícia.
Porém a voz do morro dribla
as dificuldades e se reergue a cada golpe contando com a cumplicidade engajada dos moradores da comunidade e com a tenacidade de seus idealizadores.
O reconhecimento de um organismo internacional, aliado à
simpatia da imprensa à iniciativa, termina por "sensibilizar" as
autoridades brasileiras, que finalmente regularizam a situação
da rádio, garantindo o final feliz.
Ratton entregou os papéis
principais a atores desconhecidos e escalou nos secundários a
nata artística mineira, incluindo
nomes da música e da dança que
representam exemplos individuais de gente oriunda de uma
situação social desfavorável que
se impôs pelo talento.
Os problemas cinematográficos de "Uma Onda no Ar" estão
na precariedade de suas interpretações, muitas delas beirando o constrangedor, no tom
panfletário dos diálogos e na incômoda linearidade de seu roteiro. É, enfim, uma boa intenção
que resultou numa platitude.
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