São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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Filme sobre a periferia é uma boa intenção fracassada

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Uma Onda no Ar", longa-metragem de Helvécio Ratton que estréia amanhã nos cinemas brasileiros, é um filme cheio de boas intenções. Mas no cinema, como na política, boas intenções não garantem resultados satisfatórios.
O cineasta buscou reproduzir na tela a trajetória de jovens da periferia belo-horizontina que se recusam ao caminho "fácil" do tráfico e empenham tempo e energia na instalação de uma rádio comunitária, "a voz do morro", e, por extensão, "a verdadeira voz do Brasil".
A trama se baseia na história real da Rádio Favela.
Por ser pirata e, sobretudo, por denunciar a responsabilidade das camadas de população do "asfalto" na situação miserável da favela e a inoperância do Estado, a emissora enfrenta a perseguição truculenta da polícia.
Porém a voz do morro dribla as dificuldades e se reergue a cada golpe contando com a cumplicidade engajada dos moradores da comunidade e com a tenacidade de seus idealizadores.
O reconhecimento de um organismo internacional, aliado à simpatia da imprensa à iniciativa, termina por "sensibilizar" as autoridades brasileiras, que finalmente regularizam a situação da rádio, garantindo o final feliz.
Ratton entregou os papéis principais a atores desconhecidos e escalou nos secundários a nata artística mineira, incluindo nomes da música e da dança que representam exemplos individuais de gente oriunda de uma situação social desfavorável que se impôs pelo talento.
Os problemas cinematográficos de "Uma Onda no Ar" estão na precariedade de suas interpretações, muitas delas beirando o constrangedor, no tom panfletário dos diálogos e na incômoda linearidade de seu roteiro. É, enfim, uma boa intenção que resultou numa platitude.


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