São Paulo, sábado, 05 de setembro de 2009

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Governo quer Dilma menos "mãe do PAC" e mais social

Estratégia para 2010 é colar imagem da ministra a programas de maior apelo eleitoral

Mudança vem após período ruim para ela, que fez defesa de Sarney, foi acusada de mentir no caso da Receita e estagnou nas pesquisas

LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com o anúncio das regras do pré-sal e o fim do tratamento contra o câncer, o governo quer inaugurar uma nova fase da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência. A ministra da Casa Civil deve tirar uma semana de férias a partir de terça-feira. Quando voltar, terá uma agenda de trabalho mais política, um discurso mais eclético e popular e mais gente envolvida em sua pré-campanha.
Uma das principais novidades será a tentativa de ampliar a imagem da ministra para algo além de "mãe do PAC", o Programa de Aceleração do Crescimento -um dos principais selos do segundo mandato petista, mas com fraco apelo popular, conforme constatado em pesquisas contratadas pelo PT.
As longas projeções de PowerPoint e os pronunciamentos meramente técnicos, centrados em números e obras, aos poucos serão deixados de lado e substituídos por uma defesa mais abrangente das ações do governo Lula.
A ideia é atrelar o nome de Dilma a medidas mais tangíveis, como o Bolsa Família e o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
Essa variação já foi ensaiada na última viagem que Dilma fez para divulgar o PAC -no Rio Grande do Norte, no início de agosto. Veio para ficar, segundo assessores da ministra.
Outra novidade se dará no campo dos contatos políticos. O marco regulatório do pré-sal e um projeto que começa a sair do forno, o chamado "PAC da Copa", servirão de pretexto para colocar a ministra em contato permanente com governadores e parlamentares, num momento em que os palanques regionais começam a entrar num caminho de definição.
A aproximação também será uma forma de tentar desconstruir a fama de antipática e alheia às demandas mais rotineiras de deputados e senadores, uma queixa comum hoje.
As mudanças previstas para a rotina da ministra combinam com um desejo de maior participação do PT.
No dia 17, o Diretório Nacional do partido vai discutir a criação de um "grupo de trabalho eleitoral" -na prática, uma espécie de comando da pré-campanha de 2010.
Até então, esse assunto era tratado pela ministra apenas com um círculo restrito de amigos e colegas de governo -além de Lula, o ministro Franklin Martins (Comunicação Social), o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.
Agora, a divisão de tarefas ficará mais clara e incluirá mais gente. O deputado Antonio Palocci (PT-SP), por exemplo, deve ser incumbido dos contatos iniciais para a alavancagem financeira da candidatura.
O atual presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), o provável dirigente da sigla a partir de 2010, José Eduardo Dutra (SE), o ex-deputado José Dirceu (SP) e o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), devem ficar encarregados de ajudar a montar as coligações para as eleições de deputados e senadores em cada Estado. Lula encabeçará a costura das alianças na disputa pelos governos estaduais.

Exame
Ainda na semana que vem, Dilma fará um exame para constatar os resultados do tratamento contra o câncer, e a expectativa é que sua equipe médica anuncie a "cura".
O próximo passo no sentido de carimbar para o público que a doença é parte do passado será a primeira aparição da ministra sem a peruca que ela precisou usar em virtude da queda de cabelo, normal em tratamento contra câncer.
No dia 26 de agosto, em reunião com a Força Sindical para discutir o pré-sal, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, perguntou à ministra se seus cabelos já estavam crescendo. Ela respondeu que sim e que, em breve, abandonaria a peruca.
A mudança de rumos e a priorização de uma "agenda positiva" foram concebidas como resposta a um bimestre de notícias ruins para a petista, que, doente, se desgastou ao sair publicamente em defesa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), enfrentou acusações da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, e apareceu estagnada no último Datafolha, com 16% das intenções de voto.


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