São Paulo, quinta-feira, 05 de outubro de 2006

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JANIO DE FREITAS

Campanha a caminho

Criticou-se muito a campanha de Alckmin, mas a de Lula foi péssima. Nem um só instante de originalidade ou simpatia

O TABU QUEBROU-SE, e a difundida idéia da invencibilidade de Lula substitui-se, com fácil constatação nas mais diversas áreas, pela admissão perplexa de que o segundo turno pode ser vencido por qualquer dos dois. O que já tem, para Alckmin, o valor de uma vitória inicial e necessária às suas pretensões. Embora em equilíbrio, os dois estão, no entanto, em situações muito diferentes. Para Alckmin, trata-se de avançar por caminhos virgens, até aqui, nas suas conquistas do eleitorado. Ao passo que Lula, antes de buscar conquistas para vencer, precisa recuperar o longo percurso do seu recuo, do ponto em que caiu no primeiro turno até ponto avançado em que esteve. Esforço tão mais problemático quanto foi a contribuição, para essa perda, de sua campanha.
Criticou-se muito a campanha de Alckmin, mas a de Lula foi péssima. Nem um só instante de originalidade, nem um breve momento de simpatia. Presunção, desafios e agressividade fizeram, combinados, o estilo da comunicação de Lula com o eleitorado em geral. Se ainda houvesse motivos ocasionais para isso, vá lá, mas nem os problemas criados pelo PT o foram, porque só se tornaram embaraços de campanha por falta de sensatez e, se não for pedir demais, alguma criatividade. Em vez dos irados e rápidos comentários sobre dossiê, fotos, mensalão, o eleitorado esperou por abordagens francas e calmas dos esclarecimentos devidos. Esperou em vão. E deu sua resposta.
Lula não absorveu a lição de sua disputa, em 2002, com José Serra/ Nizan Guanaes. Não está sozinho. Heloísa Helena não aprendeu nem a lição de que foi vítima. Sua "proibição" de que "filiados do PSOL digam publicamente em quem vão votar", por ter ela decidido pela omissão do partido no segundo turno, vem do mesmo autoritarismo tirânico que a expulsou do PT por discordar da reforma previdenciária. Ainda bem que outros fundadores do PSOL, como Chico Alencar e Ivan Valente, não se dispõem a ser o "gado" a que Heloísa Helena também se referiu.
Quem aparenta ter bastante a aprender, em política, é Denise Frossard. Induzida pela reação de Cesar Maia ao entendimento Alckmin/Garotinhos, radicalizou ainda mais e proclamou sua recusa a apoiar Alckmin ou ser por ele apoiada. Isso, quando a reunião do PSDB do Estado do Rio repelia o apoio ao peemedebista Sérgio Cabral e encaminhava, contra ele, a adesão a Denise Frossard. Pendente só de negociações, que os peessedebistas fluminenses não as dispensam jamais.
A reação de Cesar Maia se explica por ter ele a posição mais privilegiada na candidatura de Frossard, e não querer outras influências nas redondezas. Os Garotinhos têm no interior do Estado um contingente eleitoral muito forte, como sabe e, por ora, agradece Sérgio Cabral. Este, aliás, tão aberto às lições políticas do passado, que vai apoiar Lula enquanto os Garotinhos vão de Alckmin, no que muita gente supõe haver crise e há, apenas, duplicação de horizontes acertada entre Cabral e seus principais apoiadores.


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