|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPERAÇÃO ANACONDA
Denúncia apresentada por procuradores à Justiça revela diálogos que comprometem juízes e destacam papel de ex-mulher de um deles
Envolvidos temiam descoberta de esquema
DA REPORTAGEM LOCAL
Gravações de conversas reproduzidas na denúncia contra os
juízes federais João Carlos da Rocha Mattos, Ali Mazloum e Casem
Mazloum, e outros acusados de
formação de quadrilha, revelam
que os envolvidos temiam os efeitos da descoberta do esquema criminoso apurado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público
Federal na Operação Anaconda.
Nas fitas, o agente da Polícia Federal César Herman Rodriguez
diz a Rocha Mattos: "Esse problema seu respinga em mim, respinga no Casem [Mazloum]". O juiz
diz: "Claro, vai todo mundo".
Sobre o papel da ex-mulher do
juiz, Norma Regina Emílio Cunha, Rodriguez diz que ela "está
na posição de quem não tem vinculação com nada que houve."
Rocha Mattos comenta que "os
cinco anos que ela faz a conta, não
funciona." E acrescenta: "A Norma pensa que sai fora e acrescenta
que qualquer "merda" que acontecer com ele ela está dentro".
A denúncia foi oferecida no dia
13 de outubro pelas procuradoras
da República Ana Lúcia Amaral e
Janice Ascari à desembargadora
Therezinha Cazerta, do Tribunal
Regional Federal.
Na peça acusatória, o MPF cita o
início de desentendimentos entre
o delegado da PF José Augusto
Bellini e a ex-mulher de Rocha
Mattos. É quando Rodriguez "sugere a Bellini alguns argumentos
para conter Norma, entre eles a
menção a contas na Suíça em seu
nome [dela], objeto de investigação da Polícia Federal".
Rodriguez forneceria aparelhos
telefônicos aos magistrados e deu
passagens aéreas para o Líbano
para Casem Mazloum e familiares
do juiz. Rodriguez diz que "agora
está vivendo, pois comprou um
helicóptero, três carros novos, está fazendo um prédio, um galpão,
planejando deixar a polícia federal e fechar o escritório".
A denúncia de 60 páginas surgiu
a partir de investigações da Polícia Federal, informada de que o
delegado federal aposentado Jorge Luiz Bezerra da Silva estava
corrompendo policiais federais
para receber dados privilegiados
sobre inquéritos na instituição,
além de fazer ameaças e pressões
a pessoas -inclusive policiais-
investigadas pela PF em Alagoas.
São considerados mentores da
quadrilha, além de Rocha Mattos,
o delegado Bellini, o agente Rodriguez e Bezerra da Silva, que tinham a função de "planejar, promover, organizar ou dirigir atividades dos demais ".
Os mentores eram auxiliados
por Dirceu Bertin, delegado da
PF, Wagner Rocha (o "Peru"),
Norma (ex-companheira de Rocha Matos), os advogados Carlos
Alberto da Costa Silva, Affonso
Passarelli Filho e o empresário
Sérgio Chiamarelli Jr.
Os juízes Casem e Ali Mazloum
"ocupam funções peculiares na
quadrilha": atuam em processos
de interesse dos "mentores" e
usam "serviços" prestados pela
quadrilha "para obter vantagens
e/ou favores ilícitos".
Bellini, Rodriguez, Bertin e Jorge Luiz atuam "oferecendo seus
serviços" a pessoas investigadas
em inquéritos policiais. A quadrilha usava infiltrados em companhias telefônicas e em órgãos do
Judiciário e da polícia.
"Todos os acusados integrantes
da quadrilha trocam "favores" entre si, utilizando-se de suas funções públicas ou de suas atividades privadas visando a eficácia
das ações criminosas planejadas e
executadas pela quadrilha", conclui a denúncia.
O grupo usava frequentemente
o restaurante Angélica Grill, na
av. Angélica (região central de São
Paulo), como local de "reuniões".
Texto Anterior: Presidente quer banco para financiar pobres Próximo Texto: Contrabandistas tinham facilidades Índice
|