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São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

Denúncia apresentada por procuradores à Justiça revela diálogos que comprometem juízes e destacam papel de ex-mulher de um deles

Envolvidos temiam descoberta de esquema

DA REPORTAGEM LOCAL

Gravações de conversas reproduzidas na denúncia contra os juízes federais João Carlos da Rocha Mattos, Ali Mazloum e Casem Mazloum, e outros acusados de formação de quadrilha, revelam que os envolvidos temiam os efeitos da descoberta do esquema criminoso apurado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal na Operação Anaconda.
Nas fitas, o agente da Polícia Federal César Herman Rodriguez diz a Rocha Mattos: "Esse problema seu respinga em mim, respinga no Casem [Mazloum]". O juiz diz: "Claro, vai todo mundo".
Sobre o papel da ex-mulher do juiz, Norma Regina Emílio Cunha, Rodriguez diz que ela "está na posição de quem não tem vinculação com nada que houve."
Rocha Mattos comenta que "os cinco anos que ela faz a conta, não funciona." E acrescenta: "A Norma pensa que sai fora e acrescenta que qualquer "merda" que acontecer com ele ela está dentro".
A denúncia foi oferecida no dia 13 de outubro pelas procuradoras da República Ana Lúcia Amaral e Janice Ascari à desembargadora Therezinha Cazerta, do Tribunal Regional Federal.
Na peça acusatória, o MPF cita o início de desentendimentos entre o delegado da PF José Augusto Bellini e a ex-mulher de Rocha Mattos. É quando Rodriguez "sugere a Bellini alguns argumentos para conter Norma, entre eles a menção a contas na Suíça em seu nome [dela], objeto de investigação da Polícia Federal".
Rodriguez forneceria aparelhos telefônicos aos magistrados e deu passagens aéreas para o Líbano para Casem Mazloum e familiares do juiz. Rodriguez diz que "agora está vivendo, pois comprou um helicóptero, três carros novos, está fazendo um prédio, um galpão, planejando deixar a polícia federal e fechar o escritório".
A denúncia de 60 páginas surgiu a partir de investigações da Polícia Federal, informada de que o delegado federal aposentado Jorge Luiz Bezerra da Silva estava corrompendo policiais federais para receber dados privilegiados sobre inquéritos na instituição, além de fazer ameaças e pressões a pessoas -inclusive policiais- investigadas pela PF em Alagoas.
São considerados mentores da quadrilha, além de Rocha Mattos, o delegado Bellini, o agente Rodriguez e Bezerra da Silva, que tinham a função de "planejar, promover, organizar ou dirigir atividades dos demais ".
Os mentores eram auxiliados por Dirceu Bertin, delegado da PF, Wagner Rocha (o "Peru"), Norma (ex-companheira de Rocha Matos), os advogados Carlos Alberto da Costa Silva, Affonso Passarelli Filho e o empresário Sérgio Chiamarelli Jr.
Os juízes Casem e Ali Mazloum "ocupam funções peculiares na quadrilha": atuam em processos de interesse dos "mentores" e usam "serviços" prestados pela quadrilha "para obter vantagens e/ou favores ilícitos".
Bellini, Rodriguez, Bertin e Jorge Luiz atuam "oferecendo seus serviços" a pessoas investigadas em inquéritos policiais. A quadrilha usava infiltrados em companhias telefônicas e em órgãos do Judiciário e da polícia.
"Todos os acusados integrantes da quadrilha trocam "favores" entre si, utilizando-se de suas funções públicas ou de suas atividades privadas visando a eficácia das ações criminosas planejadas e executadas pela quadrilha", conclui a denúncia.
O grupo usava frequentemente o restaurante Angélica Grill, na av. Angélica (região central de São Paulo), como local de "reuniões".


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