|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Leia a íntegra da
nota divulgada
pelo ministro
DA REDAÇÃO
Brasília, 22 de outubro de 2004.
Estimado senhor presidente,
Após uma reflexão prolongada a
respeito das ocorrências desta semana, julgo necessária uma atribuição
mais efetiva de responsabilidades
com relação à nota emitida pelo Exército no último domingo.
Embora a nota não tenha sido objeto de consulta ao Ministério da Defesa, e até mesmo por isso, uma vez que o Exército brasileiro não deve emitir
qualquer nota com conteúdo político
sem consultar o ministério, assumo a
responsabilidade que me cabe, como
dirigente superior das Forças Armadas, e apresento a minha renúncia ao
cargo de Ministro da Defesa, que tive
a honra de exercer sob a liderança de
Vossa Excelência.
Tenho sido o seu ministro da Defesa com os propósitos básicos de contribuir para a reinserção plena e definitiva das Forças Armadas do Brasil
no seio da sociedade política brasileira, de ser o enlace entre elas e o governo, representando-as junto a Vossa
Excelência e à sua equipe, e de melhorar a sua eficiência e a sua capacidade
de ação.
Muito avançamos neste período. A
título de exemplo, no que diz respeito
aos interesses das Forças Armadas,
logramos reverter a dramática situação orçamentária em que se encontravam as nossas Forças e reiniciamos os programas para o seu reaparelhamento. O reajuste parcial da remuneração dos militares também
deu início à necessária correção dos
seus vencimentos desatualizados.
O governo cumpriu plenamente
com os seus propósitos acima delineados e tratou permanentemente as
Forças Armadas com o respeito que
elas merecem e obteve delas pronta
resposta sempre que necessário, com
o ardor, o desprendimento e o profissionalismo que caracterizam os seus
integrantes.
Foi, portanto, com surpresa e consternação, que vi publicada no domingo, dia 17, a nota escrita em nome do
Exército brasileiro que, usando linguagem totalmente inadequada, buscava justificar lamentáveis episódios
do passado e dava a impressão de que
o Exército, ou, mais apropriadamente, os que redigiram a nota e autorizaram a sua publicação, vivem ainda o
clima dos anos 70, que todos queremos superar. A nota divulgada no domingo 17 representa a persistência de
um pensamento autoritário, ligado
aos remanescentes da velha e anacrônica doutrina da segurança nacional,
incompatível com a vigência plena da
democracia e com o desenvolvimento do Brasil no século 21. Já é hora de
que os representantes desse pensamento ultrapassado saiam de cena.
É incrível que a nota original se refira, no século 21, a "movimento subversivo" e a "Movimento Comunista
Internacional". É inaceitável que a
nota use incorretamente o nome do
Ministério da Defesa em uma tentativa de negar ou justificar mortes como
a de Vladimir Herzog. É também inaceitável, a meu ver, que se apresente o
Exército como uma instituição que
não precise efetuar "qualquer mudança de posicionamento e de convicções em relação ao que aconteceu
naquele período histórico".
Não posso ignorar que aquela nota
foi publicada sem consulta à autoridade política do governo. Assumo a
minha responsabilidade. Agi neste
episódio desde o primeiro momento.
Informei Vossa Excelência, sugeri
ações, convoquei, no próprio domingo 17, o comandante do Exército, entreguei-lhe um ofício que pedia a
apuração das responsabilidades e a
correção da nota publicada. Segui a
orientação de Vossa Excelência e não
divulguei posições e pontos de vista
individuais. Vossa Excelência sabe
que em momento algum fui omisso
ou deixei de cumprir com as minhas
responsabilidades no exercício das
minhas funções.
Reitero, senhor presidente, que foi
uma honra trabalhar sob a sua direção direta nestes quase dois anos.
Reafirmo também a minha total lealdade a Vossa Excelência e a minha
admiração pelo notável trabalho que
vem realizando em prol do progresso
do nosso país e da união de todos os
brasileiros.
Respeitosamente,
José Viegas Filho.
Texto Anterior: Após reunião, ministro passa o dia em casa Próximo Texto: Questão militar: Alencar se diz "jovem animado" com cargo Índice
|