São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2004

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PT NO DIVÃ

Críticos internos da gestão Marta vêem cortina de fumaça em acusação a Suplicy; governo critica fogo amigo

Para petistas, governo quer transferir ônus

SÍLVIA CORRÊA
RICARDO BRANDT
DA REPORTAGEM LOCAL

Setores do PT críticos ao governo de Marta Suplicy apontam a responsabilização de Eduardo Suplicy pela derrota em São Paulo como uma cortina de fumaça.
O objetivo do núcleo duro da gestão municipal seria, segundo eles, evitar a discussão sobre falhas do governo -que se reproduziram na campanha- e levaram ao fracasso eleitoral.
A acusação a Suplicy foi feita por Valdemir Garreta, homem de confiança da prefeita, em entrevista à Folha. Para alguns petistas, integra uma estratégia maior.
"Eles saíram atirando porque não desejam se responsabilizar pelo erro fundamental: a política de governabilidade", afirma o economista Odilon Guedes.
"É a linha "a melhor defesa é o ataque'", continua o arquiteto Nabil Bonduki. "Eles têm de fazer autocrítica. Governaram sozinhos", completa Carlos Giannazi.
Guedes, Bonduki e Giannazi são vereadores da legenda, mas distantes do grupo que comandou o Executivo. Expoente da resistência, Giannazi foi o único que se reelegeu. "Foi uma demonstração de que é possível fazer política sem cargos, sem corrupção e sem negociar com a velha direita", diz.
A negociação com a velha direita é o cerne da crítica desse setor do PT à gestão de Marta -e, na opinião deles, a origem da derrota que o governo tenta esconder.
"A política da governabilidade foi construída sobre a distribuição de cargos. O PT se afastou de sua trajetória histórica de ética, transparência e honestidade. Essa contradição levou à derrota. A sociedade não agüenta mais. Essa foi a questão", resume Guedes.
Os petistas dizem que a matriz política da gestão de Marta enterrou o diálogo interno e externo, levando ao autoritarismo e ao afastamento da militância.
O governo reage. O deputado federal José Mentor, ex-líder da prefeita na Câmara, diz que falar em falta de diálogo é um equívoco e que "mesmo dentro da bancada a prefeita encontrou oposição". "Talvez aqueles que pudessem ajudar mais na classe média não tenham ajudado", rebate.
Pelo mapa de votação, os críticos da gestão estão entre os vereadores com mais penetração na classe média. Mas o diagnóstico deles é outro. "Aqui se desmontou um trabalho de quase dez anos, sobretudo do Lula, para reduzir a resistência ao partido nos setores médios, pois a interlocução com a sociedade foi malfeita. Isso despertou apatia e rejeição", diz Bonduki.


Colaborou CHICO DE GOIS, da Reportagem Local


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