São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2004

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TODA MÍDIA

Bush e o sul

NELSON DE SÁ

A BBC e jornais mexicanos destacavam ontem que, em telefonema do presidente Vicente Fox a George W. Bush, o americano "assegurou que no segundo mandato vai buscar uma relação mais próxima da América Latina".
E mais não disse, pelos relatos. Mas o americano "Miami Herald" dedicou extensa cobertura às relações no hemisfério, que abriu sublinhando:
- A segunda administração Bush vai revisar sua política em relação à América Latina para assegurar que esteja no caminho certo para promover a democracia, a segurança e a integração econômico, disseram funcionários do governo.
Não quer dizer muita coisa. Mais à frente, os tais funcionários defenderam o histórico de Bush na região, "apontando esforços conjuntos com o Brasil na crise da Venezuela e a decisão de Brasil, Argentina e Chile de contribuir com tropas para a força da ONU no Haiti".
O Haiti seria "uma preocupação maior" do novo mandato, segundo "alto funcionário do Pentágono", assinalando que os EUA "sabem muito bem da deterioração da situação".
Mas tudo depende, quanto à nova política de Bush em relação à América Latina, de quem vai substituir o atual secretário de Estado, Colin Powell.
O "Miami Herald" diz que três nomes "circulam" em Washington: o embaixador na ONU, John Danforth, o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Richard Lugar, e a conselheira de Segurança Nacional, Condoleezza Rice.
 
Andres Oppenheimer, colunista do "Miami Herald" e da CNN em espanhol, opinava ontem que "Bush será forçado a dar mais atenção à região por causa do estabelecimento de um bloco hispânico de votos mais poderoso na eleição".
Mais importante, os hispânicos -antes majoritariamente democratas- se firmaram como "bipartidários".
Ainda mais importante, segundo uma pesquisa da Zogby, 70% dos eleitores hispânicos nos EUA disseram que a política em relação à América Latina é uma questão que eles consideram importante na hora de decidir em quem votar.
Conclui Oppenheimer:
- Bush -e os sucessores- não terão alternativa a não ser criar pontes com a região. É uma questão de voto, a única coisa a que os políticos dão atenção.
 
Por aqui, o embaixador americano, John Danilovich, disse ao "Valor" que "o Brasil vai indo bem e não foi mencionado" na campanha, o que "pode ser visto como uma coisa boa".
E também Danilovich citou elogiosamente a "manutenção da paz no Haiti" como sinal de que o Brasil "apóia a guerra contra o terror", embora não seja favorável à invasão no Iraque.
Enquanto o embaixador sublinhava que a reeleição permite a retomada das negociações da Alca, o chanceler brasileiro Celso Amorim parecia apostar em outro sentido, ontem. Dele, segundo sites diversos:
- Se retomarmos [a Alca] no ponto em que deixamos, creio que podemos avançar rapidamente. Evidentemente, teria em paralelo as negociações da Organização Mundial do Comércio, que, eu repito sempre, para o Brasil são prioritárias.

SUSPENSE


No "La Nación", Kirchner convida estudantes para a Casa Rosada


Sites mexicanos noticiavam ontem que o presidente Vicente Fox havia chegado ao Brasil. O mesmo faziam sites chilenos, peruanos e outros pela América Latina, com seus respectivos presidentes.
Mas na Argentina as páginas iniciais do "La Nación" e do "Clarín" destacavam que o presidente Néstor Kirchner, "sem dar a conhecer os motivos", suspendeu a viagem para a reunião do Grupo do Rio. Em lugar da viagem, ele avistou jovens estudantes pela janela da Casa Rosada, saiu ao jardim e os convidou para tirar fotos em seu escritório. Foi algo "inusitado", segundo a descrição do "La Nación".

Metáfora
A "Economist" buscou ontem espelhar "o gosto de Lula pelas metáforas de futebol". Disse que ele chega ao "intervalo do jogo" com "uma pequena vantagem". Só que, passadas as eleições, "o time já não está tão coeso como poderia -e o outro lado ganhou novo ânimo".
Para a revista britânica, o governo teve vitórias e derrotas. As últimas "podem torná-lo mais cuidadoso, sobretudo quanto à autonomia do Banco Central e a reforma trabalhista":
- Mas isso seria uma pena. Se Lula é sábio, ele vai gastar o segundo tempo do mandato no ataque e não na defesa.

Um tributo
Nem todos reagem como Larry Rohter ao programa nuclear brasileiro, nos EUA. O "Miami Herald" deu editorial com elogios à recém-adquirida "capacidade para produzir urânio enriquecido, num tributo ao esforço do Brasil de modernizar a sua economia".
Sobre as inspeções, disse que "ninguém acusa o Brasil de planos secretos para desenvolver armas nucleares", mas defendeu um acordo com a ONU.
Horas depois, as agências americanas AP e UPI soltavam despachos dizendo que a ONU anunciava ter chegado, afinal, ao acordo com o Brasil.


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