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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONEXÃO CUBANA
Alécio Fongaro, que conduziu Seneca em julho de 2002, afirma não saber, porém, se transportou bebidas ou dinheiro no avião
Piloto confirma vôo com petista e caixas
CATIA SEABRA
ENVIADA ESPECIAL A ANDRADINA
O piloto Alécio Fongaro, 49, enfrentará turbulência a partir de
agora. Foi ele quem conduziu, em
julho de 2002, o Seneca PT-RSX.
Dentro dele estavam as três caixas
de bebida, nas quais, segundo a
revista "Veja", estariam US$ 3 milhões - ou US$ 1,4 milhão, conforme a fonte - saídos de Cuba
para a campanha de Luiz Inácio
Lula da Silva à Presidência.
Três anos e quatro meses depois, ele confirma a versão do único passageiro do vôo de Brasília a
Campinas: Vladimir Poleto, ex-assessor do ministro Antonio Palocci (Fazenda).
"Fui eu mesmo [o piloto]. E o
que esse rapaz [Poleto] está falando confere", afirmou Fongaro à
Folha.
O piloto, no entanto, não é capaz de assegurar qual era o conteúdo das três caixas, carregadas,
segundo ele, por Poleto e pelo
motorista da van na qual o ex-assessor de Palocci chegou ao aeroporto de Brasília. "Ele mesmo carregou as caixas. Ele e o rapaz da
van", lembrou.
Fongaro diz não recordar de
que empresa era a van. Apenas
que operava no aeroporto de Brasília. Pilotando a serviço do empresário José Roberto Colnaghi
-amigo de Palocci-, Fongaro
afirma não ter recebido qualquer
recomendação especial para o
vôo. "O que me passaram foi: você vai para Brasília, pega um passageiro e leva para São Paulo."
O registro do plano de vôo, segundo Fongaro, foi feito em Brasília. "A Infraero tem."
No dia 31 de julho do ano eleitoral de 2002, ele decolou de Penápolis pela manhã, sozinho, chegando a Brasília por volta de
meio-dia. "Lá, me apresentei. Não
me recordo se telefonei para Poleto ou para o Fabril [José Carlos Bico Fabril, piloto de Colnaghi]."
Dez minutos depois, Poleto chegou numa van. "Ele disse "tenho
algumas coisas minhas" e mostrou as caixas", relata.
Segundo Fongaro, Poleto não
manifestou qualquer sinal de
apreensão. E, nas três horas e
meia de vôo, os dois só se falaram
quando avisou que, por causa do
mau tempo, teriam de aterrissar
em Campinas, e não em Congonhas, como planejado. "Expliquei
que as condições do tempo estavam adversas e que a alternativa
era Campinas [Viracopos]. Ele
disse que tudo bem."
Fongaro diz que não reparou se
Poleto era esperado por um Omega preto ao chegar, por volta das
16h30, no aeroporto de Viracopos, em Campinas. O piloto diz
que não estranhou o vôo, único
feito por ele para Colnaghi. Até a
semana passada, quando reconheceu Poleto nas páginas da revista. "Vi a foto. Pensei: "não é
possível. Com a foto de Beto Colnaghi confirmou", disse.
Fongaro ficou assustado. "É
uma coisa chata. Fiquei indignado de carregar dinheiro. É uma
coisa estranha. Agora, vou ter de
passar por isso", lamenta.
Ainda hoje, Fongaro é piloto do
frigorífico Bertin que, à época, tinha uma parceria com os Colnaghi compartilhando aeronaves.
Fabril é o piloto oficial de Colnaghi. Mas era substituído por outros do frigorífico quando não estava à disposição. Para a tarefa,
Fongaro não recebeu um único
centavo. "Tinha de cumprir horas
de vôo mesmo. E o Fabril me telefonou." Se Colnaghi conhecia
qual era sua missão? "Ah, só ele
pode responder", diz.
Colaborou ANDREA MICHAEL, da Sucursal de Brasília
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