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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/OPERAÇÃO ABAFA
Relatório da Polícia Federal critica atuação de departamento sob controle da pasta da Justiça; dados sobre contas de Duda chegam ao Brasil
Ministério atrapalha investigação, diz PF
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Relatório interno da Polícia Federal acusa um órgão criado pelo
governo Lula no Ministério da
Justiça de "criar obstáculos" para
o acesso a documentos das investigações do "mensalão" e das movimentações do publicitário Duda Mendonça no exterior.
A ação do DRCI (Departamento
de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional),
segundo o documento da PF, está
na base dos atrasos e adiamentos
que vêm ocorrendo para que autoridades e parlamentares tenham acesso à documentação.
Na semana passada, o Ministério da Justiça reforçou, com uma
portaria conjunta com a AGU
(Advocacia Geral da União) e o
Ministério Público Federal, os poderes do DRCI. No entendimento
da PF, a nova portaria limita ainda mais a ação de seus policiais.
Tanto a PF como o DRCI são órgãos do Ministério da Justiça.
O relatório da Polícia Federal
acusa explicitamente Wanine
Santana Lima, coordenadora-geral do DRCI, de criar restrições à
entrega de documentos da investigação do "mensalão" à PF durante diligência feita por policiais
em Nova York, em outubro.
"Enquanto as equipes policiais
trabalhavam nas investigações no
Brasil e operacionalizavam a ida a
Nova York, a representante do
DRCI [Wanine Lima] encontrava-se no exterior buscando influenciar as autoridades americanas a não repassar as informações
solicitadas às autoridades de investigação constituídas e legitimadas", diz o relatório da PF.
Licença médica
O documento relata ainda que,
na semana anterior à viagem da
PF a Nova York, os policiais que
investigam o "mensalão" fizeram
vários contatos com o DRCI para
trocar informações e obter detalhes sobre a missão.
"Entretanto, foi informado que
a sra. Wanine estava de licença
médica. (...) O que causou espécie
[estranhamento] a esta missão é
que a senhora Wanine Lima não
entrou em contato para avisar
que estava tentando obstacularizar a entrega de documentos à
PF", diz o relatório.
Procurada, a assessoria de imprensa do DRCI informou que
Wanine Lima está em férias e que
o diretor do departamento, Antenor Madruga, está em Portugal.
Segundo o documento da PF, já
amparado na nova portaria sobre
o DRCI, o subprocurador-geral
da República, Eugênio Aragão,
atuou em conjunto com Wanine
Lima para "influenciar" as autoridades dos EUA a não repassar a
documentação à PF.
Procurada, a assessoria de Aragão informou que ele estava em
viagem e que não teria como se
pronunciar sobre o assunto.
O relatório, encaminhado ao diretor-geral da PF, Paulo Lacerda,
explicita, do ponto de vista dos
policiais, como o DRCI tem atuado para conter as investigações
que envolvem a suspeita de práticas de corrupção no governo.
O DRCI foi criado na gestão do
ministro Márcio Thomaz Bastos
(Justiça) para centralizar as ações
de combate à lavagem de dinheiro
e recuperação de ativos. O departamento é apontado hoje por policiais federais como responsável
pela lentidão das investigações.
Oficialmente, a assessoria de
imprensa da PF disse ontem à Folha que não procurava "desmentir nada", mas quis ressaltar que
os problemas entre a polícia e o
DRCI estariam "superados". Segundo a assessoria, seria "falsa" a
percepção de que há um clima de
animosidade entre os dois órgãos.
A avaliação do Ministério da
Justiça é de que PF e DRCI devem
trabalhar de maneira integrada.
Documentos sobre Duda
Ontem, finalmente chegaram
ao Brasil oito caixas de documentos da quebra do sigilo de contas
bancárias da empresa offshore
Dusseldorf Company, do publicitário Duda Mendonça, nos EUA,
e de outras 17 que a abasteciam.
A documentação, que está no
Ministério da Justiça, será repassada ao Ministério Público e à PF.
Na avaliação da PF, não fosse a
ação do DRCI, essa documentação já estaria sendo analisada no
Brasil há semanas. Duda disse ter
recebido R$ 10,5 milhões do PT
fora do país há quase três meses.
A PF reclama que muitos dos
canais constituídos numa relação
de confiança de anos com autoridades em Nova York estão sendo
comprometidos pelo DRCI.
Segundo a PF, o DRCI já teria
insinuado à Promotoria Distrital
de Nova York que são os policiais
federais os responsáveis, no Brasil, pelo vazamento de informações e documentos sigilosos obtidos em investigações nos EUA.
A maior parte das apurações sobre o envio ilegal de mais de US$
1,5 bi por 10.021 brasileiros e empresas ao exterior nos últimos
anos foi fruto dessa cooperação
entre a PF e os americanos. As prisões dos doleiros Antônio Claramunt, o Toninho da Barcelona, e
Hélio Laniado também saíram
dessa cooperação, assim como os
dados financeiros levantados no
exterior na CPI do Banestado.
Colaborou Silvana de Freitas, da Sucursal de Brasília
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