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Por mais verba, Defesa quer tropas na segurança pública
Jobim defende mudança de lei para "antecipar os meios para atender às necessidades"
Projeto de alteração da lei integra o Plano Nacional de Defesa Nacional; Exército se diz pronto para atuar, mas precisa do suporte legal
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Mudar a lei e permitir o emprego das Forças Armadas na
segurança pública, proposta
lançada pelo Ministério da Defesa, é uma maneira de alavancar mais recursos para o orçamento das Forças, admite o ministro Nelson Jobim.
A pasta pediu um estudo sobre a alteração do "estatuto jurídico" da Garantia da Lei e da
Ordem (GLO), ampliando as
possibilidades legais de as forças militares serem usadas em
crises de segurança nos Estados. Jobim admitiu à Folha
que a mudança da lei permitirá
aumento dos recursos para a
Defesa. "Sim, sim, evidente que
sim. Seria necessário ter o aparelhamento ajustado [às novas
necessidades]", justificou.
É uma nova oportunidade de
as Forças Armadas conseguirem recursos após perderem
para a Senasp (Secretaria Nacional de Segurança) o comando da segurança do Pan do Rio.
O projeto de mudança da lei
integra o Plano Nacional de
Defesa Nacional, presidido por
Jobim e coordenado pelo ministro Mangabeira Unger, a ser
concluído em setembro de
2008. Nas palavras de Jobim, o
objetivo da mudança é abrir a
discussão sobre o assunto e
"antecipar os meios para atender às necessidades"; ou seja,
poder usar as Forças Armadas
quando necessário, sem nova
discussão jurídica a cada vez.
"Já começamos a examinar
os estatutos de tropas internacionais e alterações eventuais
nos estatutos locais. O certo é
que, para o emprego mais efetivo das Forças Armadas nesse
tipo de atividade, precisamos
mudar o estatuto legal das Forças. Não é questão de ser favorável ou contra: depende da necessidade -é a necessidade
que determina. Não tenho antecipação de necessidade, preciso antecipar os meios para
atender às necessidades."
De acordo com a Lei Complementar 117/2004, que hoje
regula o "preparo e o emprego
das Forças Armadas" em atribuições subsidiárias, elas só
podem ser usadas quando o
chefe do Executivo federal ou
estadual reconhecer os instrumentos de polícia "esgotados",
"indisponíveis, inexistentes ou
insuficientes ao desempenho
regular de sua missão constitucional". A intervenção deve ser
"episódica, em área previamente estabelecida e por tempo limitado", para "assegurar o
resultado das operações na garantia da lei e da ordem". As
Forças Armadas assumem o
controle operacional dos órgãos de segurança pública.
Os militares hoje vêem com
cautela situações do gênero
porque alegam não contar com
garantias legais para a tropa
-como poder de polícia-, o
que poderia expor soldados a
eventuais processos judiciais.
A alteração daria essa garantia.
A posição do Exército é que a
Força está preparada para
atuar, mas precisa do suporte
legal, não só do componente
político. Na prática, a mudança
seria argumento para o aumento dos recursos para a pasta,
em um tema sensível junto à
sociedade, segurança.
A possibilidade de mais recursos agrada às Forças. Dois
integrantes do Alto Comando
do Exército ouvidos pela Folha, porém, dizem que o órgão
tem de ser ouvido, e as ações teriam de continuar a ser exceção. Jobim disse que discutirá o
tema com o comandante do
Exército, general Enzo Peri.
Os militares dizem que cumprem qualquer missão, mas
precisam de meios -equipamentos novos e armamentos
não-letais e treinamento, segundo um integrante do Alto
Comando do Exército.
Um oficial operacional da
Força ouvido pela Folha estimou que a preparação específica para esse tipo de missão exige de três a quatro meses
-tempo semelhante ao dos
contingentes enviados ao Haiti, onde o Brasil participa desde
2004 de missão de paz.
Jobim assumiu com o ministério em crise, durante o caos
aéreo, e conseguiu aumentar
para R$ 6 bilhões a previsão de
gastos no Orçamento para as
três Forças -embora por enquanto apenas no papel.
O secretário nacional de Segurança Pública, Antonio Carlos Biscaia, não quis falar sobre
o assunto. "Desconheço isso."
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