UOL

São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIAGEM AO ORIENTE

Iraquianos devem escolher seu próprio governo, diz nota

Lula e ditador sírio pedem fim da ocupação do Iraque

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o seu colega sírio, Bashar al Assad, divulgaram ontem em Damasco um comunicado conjunto no qual pedem o fim da "ocupação" do Iraque. No mesmo documento, falam sobre a necessidade de o Iraque "escolher seu próprio governo", numa crítica indireta aos Estados Unidos, que comandam as ações naquele país.
Eis o trecho do comunicado conjunto que fala sobre o Iraque: "Quanto à deterioração da situação do Iraque, os dois presidentes enfatizaram a necessidade de dar passos acelerados com vistas à transferência do poder para o povo iraquiano, pôr fim à ocupação e conceder às Nações Unidas um papel fundamental para que o povo iraquiano possa exercer sua soberania, escolher seu próprio governo e garantir a integridade de seu território".
A Síria vive sob um regime ditatorial e mantém tropas desde o fim da década de 80 no Líbano, país sob seu virtual comando político. Hoje, há cerca de 20 mil soldados sírios em território libanês -embora ambos governos declarem que a permanência das tropas seja em comum acordo.
O termo ""ocupação", semanticamente correto, tem sido evitado por instâncias diplomáticas, como a ONU (Organização das Nações Unidas). Em geral, a expressão é usada quando a ONU se refere a territórios ocupados por Israel e reclamados pela Autoridade Nacional Palestina.
Indagado se a declaração conjunta de Lula e Assad, incluindo a expressão "ocupação", não ficaria próxima de uma confrontação com os Estados Unidos, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, disse: "Quando houve a guerra, não teve autorização da ONU. Era uma ocupação".
"É comum o termo "forças de ocupação" na BBC e na CNN [redes de TV britânica e americana, respectivamente]. A ocupação é um fato. Nós não estamos dizendo que é legal ou ilegal", declarou o ministro.
Em outras ocasiões, o presidente Lula se referiu de maneira mais amena ao conflito no Iraque. Na ONU, em Nova York, em setembro deste ano, o petista fez um discurso com tom menos enfático do usado em Damasco. "No Iraque, o clima de insegurança e as tensões crescentes tornam ainda mais complexo o processo de reconstrução nacional", disse.
"Estamos colocando um pé aqui para desequilibrar a correlação de forças nesta região. A arte do possível nunca se aplicou tão bem a uma situação", diz o deputado João Hermann (PPS-SP), membro da comitiva.

Israel e Líbano
Anteontem, o presidente havia dado declarações enfáticas sobre o conflito entre árabes e Israel, embora repetindo posições já conhecidas. Por exemplo, Lula disse que o Brasil votaria a favor da resolução da ONU que pede a devolução das colinas do Golã à Síria -a votação ocorreu nesse dia.
Essa resolução é de 1967 e tem de ser votada regularmente para ser mantida. O Brasil é historicamente a favor. Lula usou sua passagem por Damasco para enfatizar o fato -além da coincidência entre sua declaração e a votação do texto serem no mesmo dia.
Também defendeu a criação do Estado palestino e a limitação de novos assentamentos judaicos em áreas árabes.
Ontem, Lula viajou para o Líbano no meio da tarde. Esse é o segundo país de seu giro de nove dias por nove nações árabes.
No Líbano, o presidente brasileiro foi menos peremptório ao falar sobre Iraque. Depois de se encontrar com o presidente Émile Lahoud, ambos divulgaram um comunicado conjunto. "Os dois líderes [Lula e Lahoud] concordaram que a legitimidade internacional poderia garantir soluções aplicáveis para o Iraque" foi a frase mais arrojada do documento.


Os repórteres FERNANDO RODRIGUES e ALAN MARQUES viajam no avião do governo nos deslocamentos do presidente pelos países árabes por falta de opções de vôos comerciais para esta cobertura jornalística.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Olhar estrangeiro: Lula anda na chuva e visita mesquita
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.