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São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

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Polícia vê 13 indícios de contas no exterior

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um relatório da Diretoria de Inteligência da Polícia Federal do último dia 17 relacionou documentos arrecadados pela Operação Anaconda que se constituiriam em 13 conjuntos de indícios de existência de contas bancárias em EUA, Itália, França, Suíça, Ilhas Cayman e Uruguai supostamente relacionadas ao juiz federal da 4ª Vara Criminal, João Carlos da Rocha Mattos, e à sua ex-mulher, Norma Regina Emílio Cunha. Ambos estão presos.
A polícia recolheu um documento de transferência de valor para um favorecido identificado como "Rock" no Standard Chartered Bank nas Ilhas Cayman.
O relatório "Indícios de contas no exterior" incluiu duas conversas telefônicas gravadas por Norma, de um lote apreendido em seu apartamento, no centro de São Paulo, nas quais ela afirma ao juiz que ele próprio teria pago US$ 30 mil para um seu sobrinho servir de testa-de-ferro no banco suíço Ubercy Bank.
"O seu caixa dois, naquele banco suíço, o seu sobrinho, para quem você teve que entregar US$ 30 mil, para ele poder ser seu testa, no Ubercy Bank", acusa Norma Cunha, na conversa com o juiz federal, segundo a íntegra da fita de 35 minutos, à qual a Folha teve acesso.
Rocha Mattos, na conversa, não confirmou o uso do sobrinho como testa-de-ferro. Ele disse: "Não me serve esse assunto".
Norma respondeu: "Ele te cobrou US$ 30 mil para ser seu testa-de-ferro, João Carlos. Esse sujeito é tão sórdido quanto você, tá? Porque negócio malfeito é uma coisa, agora cobrar taxa para ser testa-de-ferro...".
"Do diálogo infere-se que João Carlos seria possuidor de conta da Suíça (Ubercy Bank) e que esta estaria em nome de seu sobrinho", concluiu o relatório policial.
A conversa, na verdade, se trata quase de um monólogo de Norma Cunha. Ela mesma gravou o telefonema, no qual desfilou uma série de ataques pessoais contra o ex-marido. Na maior parte do tempo, Rocha Mattos diz que ela "está louca", não responde ou pede que o "deixe em paz".
Entre os documentos arrecadados pela polícia, há uma folha de papel com o cabeçalho rasgado contendo manuscritos em inglês destinado ao Banque Clariden Genere e assinado por Norma.
Segundo a transcrição feita pela polícia, o texto diz: "Como dito na nossa conversa telefônica de hoje, eu peço a você para fechar minha conta e transferir todos os meus ativos para Banque Clariden, Genebra". O texto é endereçado ao "sr. Patrick Pochon".
O relatório da PF também relaciona duas viagens de Rocha Mattos para o Uruguai num período de quatro meses -entre 6 e 9 de setembro de 2001 e entre 2 e 9 de janeiro de 2002-, além de dois outros bilhetes emitidos em 11 de maio e 29 de abril de 2002.
"Os documentos acima indicam que Rocha Mattos efetuava diversas viagens ao Uruguai, com tempo de permanência curto, em média cinco dias. Além disso, possuía cartões de imobiliárias que indicariam a procura por propriedades e cartões de casas de câmbio", afirma o relatório.
Entre os documentos apreendidos, também há etiquetas e pedaços de papel com nomes de veículos como Ranger, Frontier e Nissan, números e valores.
Os policiais acreditam tratar-se de contas bancárias abertas com nomes de carros -o relatório lembra que o juiz do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo Nicolau dos Santos Neto, preso sob acusação de lavagem de dinheiro, também usava uma conta batizada de "Nissan" na Suíça.


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