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Polícia vê 13 indícios de contas no exterior
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um relatório da Diretoria de Inteligência da Polícia Federal do último dia 17 relacionou documentos arrecadados pela Operação
Anaconda que se constituiriam
em 13 conjuntos de indícios de
existência de contas bancárias em
EUA, Itália, França, Suíça, Ilhas
Cayman e Uruguai supostamente
relacionadas ao juiz federal da 4ª
Vara Criminal, João Carlos da Rocha Mattos, e à sua ex-mulher,
Norma Regina Emílio Cunha.
Ambos estão presos.
A polícia recolheu um documento de transferência de valor
para um favorecido identificado
como "Rock" no Standard Chartered Bank nas Ilhas Cayman.
O relatório "Indícios de contas
no exterior" incluiu duas conversas telefônicas gravadas por Norma, de um lote apreendido em
seu apartamento, no centro de
São Paulo, nas quais ela afirma ao
juiz que ele próprio teria pago
US$ 30 mil para um seu sobrinho
servir de testa-de-ferro no banco
suíço Ubercy Bank.
"O seu caixa dois, naquele banco suíço, o seu sobrinho, para
quem você teve que entregar US$
30 mil, para ele poder ser seu testa, no Ubercy Bank", acusa Norma Cunha, na conversa com o
juiz federal, segundo a íntegra da
fita de 35 minutos, à qual a Folha
teve acesso.
Rocha Mattos, na conversa, não
confirmou o uso do sobrinho como testa-de-ferro. Ele disse: "Não
me serve esse assunto".
Norma respondeu: "Ele te cobrou US$ 30 mil para ser seu testa-de-ferro, João Carlos. Esse sujeito é tão sórdido quanto você,
tá? Porque negócio malfeito é
uma coisa, agora cobrar taxa para
ser testa-de-ferro...".
"Do diálogo infere-se que João
Carlos seria possuidor de conta da
Suíça (Ubercy Bank) e que esta estaria em nome de seu sobrinho",
concluiu o relatório policial.
A conversa, na verdade, se trata
quase de um monólogo de Norma Cunha. Ela mesma gravou o
telefonema, no qual desfilou uma
série de ataques pessoais contra o
ex-marido. Na maior parte do
tempo, Rocha Mattos diz que ela
"está louca", não responde ou pede que o "deixe em paz".
Entre os documentos arrecadados pela polícia, há uma folha de
papel com o cabeçalho rasgado
contendo manuscritos em inglês
destinado ao Banque Clariden
Genere e assinado por Norma.
Segundo a transcrição feita pela
polícia, o texto diz: "Como dito na
nossa conversa telefônica de hoje,
eu peço a você para fechar minha
conta e transferir todos os meus
ativos para Banque Clariden, Genebra". O texto é endereçado ao
"sr. Patrick Pochon".
O relatório da PF também relaciona duas viagens de Rocha Mattos para o Uruguai num período
de quatro meses -entre 6 e 9 de
setembro de 2001 e entre 2 e 9 de
janeiro de 2002-, além de dois
outros bilhetes emitidos em 11 de
maio e 29 de abril de 2002.
"Os documentos acima indicam que Rocha Mattos efetuava
diversas viagens ao Uruguai, com
tempo de permanência curto, em
média cinco dias. Além disso,
possuía cartões de imobiliárias
que indicariam a procura por
propriedades e cartões de casas de
câmbio", afirma o relatório.
Entre os documentos apreendidos, também há etiquetas e pedaços de papel com nomes de veículos como Ranger, Frontier e Nissan, números e valores.
Os policiais acreditam tratar-se
de contas bancárias abertas com
nomes de carros -o relatório
lembra que o juiz do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo
Nicolau dos Santos Neto, preso
sob acusação de lavagem de dinheiro, também usava uma conta
batizada de "Nissan" na Suíça.
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