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GOVERNO LULA
Cúpula do PMDB reage à candidatura Sarney à presidência do Senado
Acordo com PT no Congresso
está "por um fio", diz Temer
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente nacional do
PMDB, deputado Michel Temer
(SP), disse ontem que "o acordo
entre o PMDB e o PT para que as
duas siglas elejam os presidentes
do Senado e da Câmara, respectivamente, corre risco, pode estar
por um fio".
Para Temer, "não ficou claro até
agora se o governo apoiará o candidato do PMDB para a presidência do Senado, muito pelo contrário. O governo do PT tem sinalizado que pode apoiar um candidato
avulso do PMDB, contra o nome
que a bancada do partido indicar
para concorrer".
A declaração de Temer é uma
reação à reunião ocorrida no sábado, em Curitiba (PR), da ala
dissidente peemedebista (mais
próxima ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva). No encontro,
foi lançado oficialmente o nome
do senador José Sarney (PMDB-AP) para concorrer à presidência
do Senado. A eleição será no dia 1º
de fevereiro.
A cúpula atual do PMDB (que
deu sustentação ao governo de
Fernando Henrique Cardoso)
prefere que o candidato a presidente do Senado seja Renan Calheiros (AL). Em troca, apoiaria o
nome do deputado João Paulo
Cunha (PT-SP) para presidir a
Câmara. A eleição na Câmara
ocorre no mesmo dia da disputa
no Senado.
"O senador Sarney está disposto
a concorrer como candidato avulso, no plenário do Senado, se não
for escolhido como candidato da
bancada peemedebista", diz o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), um dos líderes
peemedebistas da ala ligada ao
governo Lula.
Fisiologia
Há risco de Sarney concorrer e
perder? Requião responde: "Essa
atual cúpula do PMDB é igual a
uma verruga, que amarrada por
um fio fino perde a irrigação e cai.
Basta o governo do PT não alimentar mais esse pessoal".
Michel Temer se incomoda com
a pecha que o partido carrega de
fisiológico. "Nunca pleiteamos
cargos no governo Lula. Fomos
procurados insistentemente pelo
então futuro chefe da Casa Civil,
José Dirceu. O senador Sarney
disse recentemente que o PMDB
queria "tungar" o PT. Isso é uma
farsa, quase um jogo sujo. Essa
conversa me dá náusea".
Nos meses de novembro e dezembro do ano passado, o PT
procurou o PMDB para oferecer
participação no governo Lula. Depois de quase tudo acertado, os
peemedebistas ficariam com dois
ministérios. A negociação foi conduzida por Dirceu e Temer.
Na hora de concluir o acordo,
Lula considerou-o inconveniente.
Dispensou o PMDB de participar
em seu governo. A partir daí, a
atual cúpula peemedebista passou a avaliar que não poderia confiar na direção petista no que se
refere à eleição dos presidentes da
Câmara e do Senado.
Pela tradição das duas Casas, os
presidentes são eleitos pelas
maiores bancadas. Pela configuração da eleição de 2002, o PT ficará com a presidência da Câmara, e o PMDB com a do Senado.
Ocorre que o voto é secreto e sempre há espaço para traições.
Expectativa
O PMDB teme que o PT não
cumpra o acordo de apoiar Renan
Calheiros. Espera dos petistas
uma declaração clara, inclusive
dizendo se descartam ou não votar em um candidato avulso contra Calheiros.
Apesar da reação, a cúpula do
PMDB está enfraquecida. Sua opção seria fechar um acordo com
outros dois partidos que foram
fernandistas, PFL e PSDB, para fazer frente ao PT e tentar garantir
para esse grupo as presidências da
Câmara e do Senado. Mas não há
indicações de que essas siglas
queiram afrontar o governo que
acaba de assumir.
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