São Paulo, segunda-feira, 06 de janeiro de 2003

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GOVERNO LULA

Cúpula do PMDB reage à candidatura Sarney à presidência do Senado

Acordo com PT no Congresso está "por um fio", diz Temer

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), disse ontem que "o acordo entre o PMDB e o PT para que as duas siglas elejam os presidentes do Senado e da Câmara, respectivamente, corre risco, pode estar por um fio".
Para Temer, "não ficou claro até agora se o governo apoiará o candidato do PMDB para a presidência do Senado, muito pelo contrário. O governo do PT tem sinalizado que pode apoiar um candidato avulso do PMDB, contra o nome que a bancada do partido indicar para concorrer".
A declaração de Temer é uma reação à reunião ocorrida no sábado, em Curitiba (PR), da ala dissidente peemedebista (mais próxima ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva). No encontro, foi lançado oficialmente o nome do senador José Sarney (PMDB-AP) para concorrer à presidência do Senado. A eleição será no dia 1º de fevereiro.
A cúpula atual do PMDB (que deu sustentação ao governo de Fernando Henrique Cardoso) prefere que o candidato a presidente do Senado seja Renan Calheiros (AL). Em troca, apoiaria o nome do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) para presidir a Câmara. A eleição na Câmara ocorre no mesmo dia da disputa no Senado.
"O senador Sarney está disposto a concorrer como candidato avulso, no plenário do Senado, se não for escolhido como candidato da bancada peemedebista", diz o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), um dos líderes peemedebistas da ala ligada ao governo Lula.

Fisiologia
Há risco de Sarney concorrer e perder? Requião responde: "Essa atual cúpula do PMDB é igual a uma verruga, que amarrada por um fio fino perde a irrigação e cai. Basta o governo do PT não alimentar mais esse pessoal".
Michel Temer se incomoda com a pecha que o partido carrega de fisiológico. "Nunca pleiteamos cargos no governo Lula. Fomos procurados insistentemente pelo então futuro chefe da Casa Civil, José Dirceu. O senador Sarney disse recentemente que o PMDB queria "tungar" o PT. Isso é uma farsa, quase um jogo sujo. Essa conversa me dá náusea".
Nos meses de novembro e dezembro do ano passado, o PT procurou o PMDB para oferecer participação no governo Lula. Depois de quase tudo acertado, os peemedebistas ficariam com dois ministérios. A negociação foi conduzida por Dirceu e Temer.
Na hora de concluir o acordo, Lula considerou-o inconveniente. Dispensou o PMDB de participar em seu governo. A partir daí, a atual cúpula peemedebista passou a avaliar que não poderia confiar na direção petista no que se refere à eleição dos presidentes da Câmara e do Senado.
Pela tradição das duas Casas, os presidentes são eleitos pelas maiores bancadas. Pela configuração da eleição de 2002, o PT ficará com a presidência da Câmara, e o PMDB com a do Senado. Ocorre que o voto é secreto e sempre há espaço para traições.

Expectativa
O PMDB teme que o PT não cumpra o acordo de apoiar Renan Calheiros. Espera dos petistas uma declaração clara, inclusive dizendo se descartam ou não votar em um candidato avulso contra Calheiros.
Apesar da reação, a cúpula do PMDB está enfraquecida. Sua opção seria fechar um acordo com outros dois partidos que foram fernandistas, PFL e PSDB, para fazer frente ao PT e tentar garantir para esse grupo as presidências da Câmara e do Senado. Mas não há indicações de que essas siglas queiram afrontar o governo que acaba de assumir.



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