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Publicitário do PT é favorecido em El Salvador
Indicado por Lula, João Santana fez a campanha do presidente Funes e ganhou, sem licitação, maiores contratos estatais
Assessor do presidente diz que medida objetiva reduzir custos, mas reconhece que publicitário brasileiro tem
a confiança do governo
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Meses após coordenar, por
indicação do presidente Lula, a
campanha eleitoral vitoriosa
do líder esquerdista Mauricio
Funes em El Salvador, o marqueteiro João Santana obteve
do governo centro-americano a
reserva de praticamente todos
os contratos publicitários estatais, sem passar por licitação.
As agências de publicidade locais acusaram a decisão de ilegal, desleal e anticompetitiva.
A decisão de Funes foi revelada pelo jornal digital salvadorenho "El Faro" em janeiro.
A publicação obteve uma resolução de Funes, editada em
19 de novembro. Ali, ele determina que a Presidência e os
principais ministérios e autarquias, como as pastas de Educação e Saúde, só podem contratar serviços publicitários da
empresa Polistepeque, fundada
por Santana e a mulher, Monica Moura, em 9 de julho passado, 38 dias depois da posse de
Funes, à qual Lula compareceu.
A resolução justifica a preferência pela Polistepeque afirmando que, após "uma exaustiva pesquisa de mercado", a empresa de origem brasileira é a
única em El Salvador em condições de atender o governo.
A resolução obriga ministérios e a Presidência a contratar
a Polistepeque, mas, segundo o
governo Funes, os únicos trabalhos feitos até agora são o logotipo e spots televisivos.
A suposta falta de opções
consta da resolução para justificar a contratação direta sem
licitação, prevista nos artigos 71
e 72 da Lei de Aquisições e Contratação da Administração Pública "quando houver apenas
uma fonte" de um serviço.
O argumento foi duramente
questionado pela Asap (Associação Salvadorenha de Agências de Publicidade), que, em
nota, colocou em dúvida a existência da investigação ao afirmar que nenhuma de suas sócias "foi objeto de um estudo
formal e transparente de serviços e capacidades por uma empresa de investigação".
A Asap diz que El Salvador
tem empresas capacitadas para
atender o governo e que a resolução de Funes "dá a essa empresa uma força de pressão e
controle sem precedentes em
nosso país e monopoliza a forma de expressão pública do Estado". Durante recente reunião
com a Asap, Funes se negou a
mostrar o suposto estudo, mas
prometeu abrir licitações para
outras áreas do governo.
O governo salvadorenho é
responsável por 20% a 30% do
mercado publicitário do país,
que movimenta cerca de US$
400 milhões ao ano. Segundo
uma alta fonte do mercado publicitário, os números são pouco exatos devido à falta de
transparência tanto dos governos anteriores quanto do atual
em relação a gastos no setor.
Grande parte da influência
de Santana no governo é atribuída em El Salvador à presença do argentino Luis Verdi na
Casa Presidencial, onde ele figura como um dos principais
colaboradores de Funes.
Verdi e Santana se conheceram em 1999, na Argentina, na
derrotada campanha presidencial de Eduardo Duhalde. Em
El Salvador, os dois voltaram a
atuar juntos para eleger Funes.
No governo, Verdi é assessor de
comunicação, com acesso direto ao presidente. À Folha, Verdi negou envolvimento com a
Polistepeque, mas defendeu a
contratação.
"O governo começou a contratação de uma compra coletiva de algumas instituições do
Executivo com a Polistepeque.
Isso é um sistema de compra
coletiva que o governo tem não
só com a publicidade, está fazendo com outras áreas, para
baixar custos. Mas obviamente
é um tema que tem a ver com a
confiança com a Polistepeque,
porque são as pessoas que fizeram a campanha", afirmou.
Verdi disse que o contrato da
Polistepeque não foi contestado legalmente e que dois terços
dos órgão governamentais farão licitações para contratar
agências: "Se há alguma dúvida
ou suspeita a respeito, é absolutamente subjetiva".
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