São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

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Retirada de sem-terra no RS deixa 69 feridos

Número equivale a mais de 10% das manifestantes que invadiram fazenda; ouvidor diz que ação da PM deve ser investigada

Sete grávidas e dez crianças estão entre as atendidas por hospitais da região; um oficial foi ferido e PM nega ter havido abuso em ação

Emilio Pedroso/Agência RBS
Integrantes do MST bloqueiam a rodovia BR-386, em Nova Santa Rita, para protestar contra ação da PM na fazenda da Stora Enso


GILMAR PENTEADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTANA DO LIVRAMENTO

Cinqüenta e nove mulheres e dez crianças ficaram feridas durante a operação de reintegração de posse realizada pela Polícia Militar, anteontem à tarde, na fazenda Tarumã, em Rosário do Sul (390 km de Porto Alegre), invadida pelo movimento Via Campesina. Foram atendidas em hospitais da área.
Uma mulher de 49 anos e uma criança de seis continuavam internadas ontem. Uma das trabalhadoras rurais sem terra foi presa, acusada de agredir o comandante da PM, coronel Lauro Binsfeld, que sofreu um corte no braço.
O oficial foi o único PM ferido, segundo o subcomandante da PM gaúcha, coronel Paulo Mendes, ao final da operação. O número de feridos equivale a mais de 10% das cerca de 500 manifestantes que invadiram a área anteontem de madrugada. O grupo, de mulheres e crianças, protestava contra a exploração da área pela empresa sueco-finlandesa Stora Enso.
As manifestantes, que organizaram a invasão também para marcar o Dia Internacional da Mulher (sábado), afirmam ter sido agredidas até quando estavam rendidas. A PM nega. "Esse percentual de 10% é muito preocupante. Eu acho que houve exagero [por parte da polícia] e isso precisa ser investigado", afirmou o ouvidor-geral da Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, Adão José Correa Paiani, que esteve no local, segundo ele, com autorização da governadora Yeda Crusius (PSDB).
Segundo o Hospital Santa Casa de Santana do Livramento, 58 mulheres (sete grávidas), e dez crianças foram atendidas com lesões causadas por balas de borracha, estilhaços de bomba, sabre (espada da cavalaria da PM) e pisões de cavalos. A Secretaria Municipal de Saúde informou que 105 manifestantes foram levadas à Santa Casa e ao pronto-socorro municipal. Uma grávida foi atendida em Rosário do Sul, totalizando 69 feridos. O número de manifestantes lesionados só foi conhecido na madrugada de ontem. A imprensa não teve acesso à operação de retirada.
Depois de rendidos, manifestantes foram colocadas pela PM em ônibus e levadas para uma delegacia em Santana do Livramento. A intenção era responsabilizar criminalmente as manifestantes. Elas ficaram quase quatro horas nos ônibus fechados. Diante da delegacia, porém, houve confusão e a PM teve de levar as feridas às pressas para hospitais.
Lorena Catarina de Abreu, 49, que ainda se recupera de seqüelas de um AVC (acidente vascular cerebral) sofrido há seis anos, foi presa e algemada na ação. Ontem, ela permanecia internada na Santa Casa com lesões em braços e pernas. À Folha ela disse que foi arrastada e algemada pelas costas. "Senti muito dor. Achei que iria ter um derrame de novo", disse. A PM chegou a anunciar a sua prisão, mas desistiu por causa da sua condição de saúde. Ontem, a Justiça determinou a soltura de Irma Ostroski, 36, presa durante a ação.
O coronel Mendes e o coronel Binsfeld negam o abuso. "Usamos todos os instrumentos não-letais previstos. Seria muito pior se usássemos armas de verdade", disse Binsfeld. O secretário da Segurança Pública, José Francisco Mallmann, afirmou desconhecer o número de feridos e possíveis abusos. Ele disse que o ouvidor da secretaria não apresentou as denúncias e que a PM relatou que só um policial foi ferido. "Se houver indícios de irregularidade, vamos investigar."

Depredação
Mais de 7.000 eucaliptos foram derrubados durante a invasão, segundo a Stora Enso. A empresa informou ainda que enviou à Justiça um pedido de reintegração "não-violenta". A Stora Enso afirma que obteve todas as licenças ambientais para atuar no Estado. Diz ainda que cumpriu uma série de 30 condicionantes impostas em "processo rigoroso" pelo órgão ambiental do Estado.


Colaborou FELIPE BÄCHTOLD, da Agência Folha


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