|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Retirada de sem-terra no RS deixa 69 feridos
Número equivale a mais de 10% das manifestantes que invadiram fazenda; ouvidor diz que ação da PM deve ser investigada
Sete grávidas e dez crianças estão entre as atendidas por hospitais da região; um oficial foi ferido e PM nega ter havido abuso em ação
Emilio Pedroso/Agência RBS
|
Integrantes do MST bloqueiam a rodovia BR-386, em Nova Santa Rita, para protestar contra ação da PM na fazenda da Stora Enso |
GILMAR PENTEADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTANA DO LIVRAMENTO
Cinqüenta e nove mulheres e
dez crianças ficaram feridas
durante a operação de reintegração de posse realizada pela
Polícia Militar, anteontem à
tarde, na fazenda Tarumã, em
Rosário do Sul (390 km de Porto Alegre), invadida pelo movimento Via Campesina. Foram
atendidas em hospitais da área.
Uma mulher de 49 anos e
uma criança de seis continuavam internadas ontem.
Uma das trabalhadoras rurais sem terra foi presa, acusada de agredir o comandante da
PM, coronel Lauro Binsfeld,
que sofreu um corte no braço.
O oficial foi o único PM ferido,
segundo o subcomandante da
PM gaúcha, coronel Paulo
Mendes, ao final da operação.
O número de feridos equivale
a mais de 10% das cerca de 500
manifestantes que invadiram a
área anteontem de madrugada.
O grupo, de mulheres e crianças, protestava contra a exploração da área pela empresa sueco-finlandesa Stora Enso.
As manifestantes, que organizaram a invasão também para marcar o Dia Internacional
da Mulher (sábado), afirmam
ter sido agredidas até quando
estavam rendidas. A PM nega.
"Esse percentual de 10% é
muito preocupante. Eu acho
que houve exagero [por parte
da polícia] e isso precisa ser investigado", afirmou o ouvidor-geral da Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do
Sul, Adão José Correa Paiani,
que esteve no local, segundo
ele, com autorização da governadora Yeda Crusius (PSDB).
Segundo o Hospital Santa
Casa de Santana do Livramento, 58 mulheres (sete grávidas),
e dez crianças foram atendidas
com lesões causadas por balas
de borracha, estilhaços de
bomba, sabre (espada da cavalaria da PM) e pisões de cavalos.
A Secretaria Municipal de
Saúde informou que 105 manifestantes foram levadas à Santa
Casa e ao pronto-socorro municipal. Uma grávida foi atendida em Rosário do Sul, totalizando 69 feridos. O número de manifestantes lesionados só foi
conhecido na madrugada de
ontem. A imprensa não teve
acesso à operação de retirada.
Depois de rendidos, manifestantes foram colocadas pela
PM em ônibus e levadas para
uma delegacia em Santana do
Livramento. A intenção era
responsabilizar criminalmente
as manifestantes. Elas ficaram
quase quatro horas nos ônibus
fechados. Diante da delegacia,
porém, houve confusão e a PM
teve de levar as feridas às pressas para hospitais.
Lorena Catarina de Abreu,
49, que ainda se recupera de seqüelas de um AVC (acidente
vascular cerebral) sofrido há
seis anos, foi presa e algemada
na ação. Ontem, ela permanecia internada na Santa Casa
com lesões em braços e pernas.
À Folha ela disse que foi arrastada e algemada pelas costas. "Senti muito dor. Achei que
iria ter um derrame de novo",
disse. A PM chegou a anunciar
a sua prisão, mas desistiu por
causa da sua condição de saúde. Ontem, a Justiça determinou a soltura de Irma Ostroski,
36, presa durante a ação.
O coronel Mendes e o coronel Binsfeld negam o abuso.
"Usamos todos os instrumentos não-letais previstos. Seria
muito pior se usássemos armas
de verdade", disse Binsfeld.
O secretário da Segurança
Pública, José Francisco Mallmann, afirmou desconhecer o
número de feridos e possíveis
abusos. Ele disse que o ouvidor
da secretaria não apresentou as
denúncias e que a PM relatou
que só um policial foi ferido.
"Se houver indícios de irregularidade, vamos investigar."
Depredação
Mais de 7.000 eucaliptos foram derrubados durante a invasão, segundo a Stora Enso. A
empresa informou ainda que
enviou à Justiça um pedido de
reintegração "não-violenta".
A Stora Enso afirma que obteve todas as licenças ambientais para atuar no Estado. Diz
ainda que cumpriu uma série
de 30 condicionantes impostas
em "processo rigoroso" pelo órgão ambiental do Estado.
Colaborou FELIPE BÄCHTOLD,
da Agência Folha
Texto Anterior: Pará: MPF aponta irregularidade em convênio Próximo Texto: MST bloqueia rodovias no RS em protesto Índice
|