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CONTAS
Prefeito afirma não ter envolvimento com reforma da cozinha do apartamento da ex-primeira-dama
Pitta diz que só paga água, luz e telefone
da Reportagem Local
da Redação
O prefeito Celso
Pitta (PTN) disse
ontem que continua pagando apenas as contas de telefone, água e luz
do apartamento em que vivem a
ex-primeira-dama Nicéa Pitta e o
filho do casal, Victor.
"Não vou deixar cortar a luz do
apartamento", disse Pitta. São pagas por meio de débito automático em conta, segundo afirmou. O
condomínio do apartamento varia de R$ 1.200 a R$ 1.600.
Pitta, que teve os bens bloqueados em 1997 devido às investigações sobre a emissão de títulos para pagar precatórios (dívidas judiciais), tem liberado apenas o seu
salário líquido, de R$ 4.815.
O prefeito negou relação com a
reforma da cozinha do imóvel, na
alameda Franca, Jardins. Ontem,
a Folha revelou que os móveis e
eletrodomésticos custaram cerca
de R$ 20 mil. As obras civis devem
sair por R$ 25 mil.
"É uma pergunta a ser dirigida a
dona Nicéa, uma vez que ela disse
que tinha economias e algumas
jóias", disse Pitta ao ser questionado sobre os recursos necessários para a reforma. Nicéa afirmou ter vendido algumas jóias.
Contradições
A ex-primeira-dama tem sido
contraditória nas explicações que
já deu sobre suas fontes de renda.
Algumas das declarações de Imposto de Renda tiveram de ser retificadas após a posse de Pitta, em
janeiro de 1997, quando as atenções se voltaram para o ex-casal.
Naquela época, a CPI do Senado
que investigou o chamado escândalo dos precatórios obteve a quebra dos sigilos de Nicéa.
A declaração de IR do ano-base
1995 informava que Nicéa havia
tido renda bruta de pouco mais de
R$ 30 mil, enquanto a do ano-base 1996 apontava um valor muito
superior, não revelado pela CPI.
Ao mesmo tempo, documentos
obtidos pela CPI comprovaram
que Nicéa havia recebido depósitos bancários de R$ 101,3 mil entre junho e dezembro de 1996.
Esses depósitos foram justificados por Nicéa em depoimento na
polícia em junho de 1997, quando
ela foi chamada para explicar a
compra de um carro Vectra.
Suspeitava-se, então, que o veículo havia sido pago por uma empresa, por ordem de um doleiro.
Pitta negava essa versão, afirmando que pagara o carro em dinheiro (R$ 30 mil), além de ter entregue um Escort usado (R$ 5.000).
No depoimento à polícia, Nicéa
disse que prestava consultoria de
arte "havia uns dois anos" para o
empresário Jorge Yunes, presidente de honra do PPB e tesoureiro de campanha de Pitta.
Ela também afirmou que abandonara o trabalho quando assumiu a presidência de honra do
Casa (Centro de Apoio Social e
Atendimento), cargo sem vencimentos, em 1º de janeiro de 1997.
Yunes também emprestou R$
800 mil a Pitta, para cobrir os gastos do prefeito devido ao bloqueio
de bens. Em depoimento no Ministério Público do Estado de São
Paulo, Victor, filho do prefeito,
disse que o empréstimo teria como objetivo "justificar a renda (de
Pitta) perante a opinião pública".
Recuo
Na semana passada, porém, Nicéa declarou na CPI dos Medicamentos que nunca trabalhou para
Yunes: "Ele (Pitta) disse que, para
justificar as nossas despesas, eles
(Pitta e Yunes) usaram esse artifício. Eu assumo essa mentira".
Ainda na CPI, que a convocou
para falar sobre as acusações de
superfaturamento na compra de
medicamentos para o PAS (Plano
de Atendimento à Saúde), Nicéa
disse que um contrato entre ela e
Yunes, de 2 de janeiro de 1997, teria sido preparado às vésperas do
depoimento na polícia.
Outra divergência entre a ex-primeira-dama e o prefeito surgiu
nas despesas que Nicéa fez durante viagem a Nova York, em 1999.
Segundo a Folha apurou, Nicéa
gastou mais de US$ 130 mil (cerca
de R$ 247 mil) no aluguel de um
apartamento para a filha, Roberta, na decoração e em compras,
entre outros dispêndios.
A ex-primeira-dama afirmou
que as despesas teriam sido pagas
por Pitta, que nega a versão. O
prefeito disse que pagou apenas a
passagem aérea de Nicéa.
"Do lar"
Qualificada como "do lar" nos
processos e interpelações judiciais de que tem sido alvo após as
recentes acusações de corrupção
na prefeitura, Nicéa tem um passado profissional vago.
Seu único registro em carteira,
segundo ela própria, é da empresa
B.N.B. Polar Calçados, no Rio, onde trabalhou por oito anos -foi
por essa época que conheceu Pitta, em um baile de Carnaval. Eles
foram casados por quase 30 anos.
Em depoimentos, Nicéa afirmou ter trabalhado em São Paulo
como corretora de imóveis, mas
jamais negociou algum. Ele teria
trocado de ramo por sugestão de
Sylvia Maluf, mulher do ex-prefeito Paulo Maluf, passando a
atuar no setor de alimentos.
Essa nova passagem da carreira
de Nicéa se deu na A D'Oro, de
Fuad Lutfalla, irmão de Sylvia
Maluf. A empresa vendeu coxas e
sobrecoxas para a prefeitura ainda na gestão de Paulo Maluf, fato
que deu origem às investigações
do chamado Frangogate.
Nicéa teria feito um estágio não-remunerado na A D'Oro, que, segundo apuração do Ministério
Público, não existiu do ponto de
vista formal. Na época, o gerente
de vendas da empresa, Jainel Buzzo, disse que Nicéa "não sabia onde ficava a cabeça do frango".
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