São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2000


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CONTAS
Prefeito afirma não ter envolvimento com reforma da cozinha do apartamento da ex-primeira-dama
Pitta diz que só paga água, luz e telefone

da Reportagem Local

da Redação


O prefeito Celso Pitta (PTN) disse ontem que continua pagando apenas as contas de telefone, água e luz do apartamento em que vivem a ex-primeira-dama Nicéa Pitta e o filho do casal, Victor.
"Não vou deixar cortar a luz do apartamento", disse Pitta. São pagas por meio de débito automático em conta, segundo afirmou. O condomínio do apartamento varia de R$ 1.200 a R$ 1.600.
Pitta, que teve os bens bloqueados em 1997 devido às investigações sobre a emissão de títulos para pagar precatórios (dívidas judiciais), tem liberado apenas o seu salário líquido, de R$ 4.815.
O prefeito negou relação com a reforma da cozinha do imóvel, na alameda Franca, Jardins. Ontem, a Folha revelou que os móveis e eletrodomésticos custaram cerca de R$ 20 mil. As obras civis devem sair por R$ 25 mil.
"É uma pergunta a ser dirigida a dona Nicéa, uma vez que ela disse que tinha economias e algumas jóias", disse Pitta ao ser questionado sobre os recursos necessários para a reforma. Nicéa afirmou ter vendido algumas jóias.

Contradições
A ex-primeira-dama tem sido contraditória nas explicações que já deu sobre suas fontes de renda. Algumas das declarações de Imposto de Renda tiveram de ser retificadas após a posse de Pitta, em janeiro de 1997, quando as atenções se voltaram para o ex-casal.
Naquela época, a CPI do Senado que investigou o chamado escândalo dos precatórios obteve a quebra dos sigilos de Nicéa.
A declaração de IR do ano-base 1995 informava que Nicéa havia tido renda bruta de pouco mais de R$ 30 mil, enquanto a do ano-base 1996 apontava um valor muito superior, não revelado pela CPI.
Ao mesmo tempo, documentos obtidos pela CPI comprovaram que Nicéa havia recebido depósitos bancários de R$ 101,3 mil entre junho e dezembro de 1996.
Esses depósitos foram justificados por Nicéa em depoimento na polícia em junho de 1997, quando ela foi chamada para explicar a compra de um carro Vectra.
Suspeitava-se, então, que o veículo havia sido pago por uma empresa, por ordem de um doleiro. Pitta negava essa versão, afirmando que pagara o carro em dinheiro (R$ 30 mil), além de ter entregue um Escort usado (R$ 5.000).
No depoimento à polícia, Nicéa disse que prestava consultoria de arte "havia uns dois anos" para o empresário Jorge Yunes, presidente de honra do PPB e tesoureiro de campanha de Pitta.
Ela também afirmou que abandonara o trabalho quando assumiu a presidência de honra do Casa (Centro de Apoio Social e Atendimento), cargo sem vencimentos, em 1º de janeiro de 1997.
Yunes também emprestou R$ 800 mil a Pitta, para cobrir os gastos do prefeito devido ao bloqueio de bens. Em depoimento no Ministério Público do Estado de São Paulo, Victor, filho do prefeito, disse que o empréstimo teria como objetivo "justificar a renda (de Pitta) perante a opinião pública".

Recuo
Na semana passada, porém, Nicéa declarou na CPI dos Medicamentos que nunca trabalhou para Yunes: "Ele (Pitta) disse que, para justificar as nossas despesas, eles (Pitta e Yunes) usaram esse artifício. Eu assumo essa mentira".
Ainda na CPI, que a convocou para falar sobre as acusações de superfaturamento na compra de medicamentos para o PAS (Plano de Atendimento à Saúde), Nicéa disse que um contrato entre ela e Yunes, de 2 de janeiro de 1997, teria sido preparado às vésperas do depoimento na polícia.
Outra divergência entre a ex-primeira-dama e o prefeito surgiu nas despesas que Nicéa fez durante viagem a Nova York, em 1999.
Segundo a Folha apurou, Nicéa gastou mais de US$ 130 mil (cerca de R$ 247 mil) no aluguel de um apartamento para a filha, Roberta, na decoração e em compras, entre outros dispêndios.
A ex-primeira-dama afirmou que as despesas teriam sido pagas por Pitta, que nega a versão. O prefeito disse que pagou apenas a passagem aérea de Nicéa.

"Do lar"
Qualificada como "do lar" nos processos e interpelações judiciais de que tem sido alvo após as recentes acusações de corrupção na prefeitura, Nicéa tem um passado profissional vago.
Seu único registro em carteira, segundo ela própria, é da empresa B.N.B. Polar Calçados, no Rio, onde trabalhou por oito anos -foi por essa época que conheceu Pitta, em um baile de Carnaval. Eles foram casados por quase 30 anos.
Em depoimentos, Nicéa afirmou ter trabalhado em São Paulo como corretora de imóveis, mas jamais negociou algum. Ele teria trocado de ramo por sugestão de Sylvia Maluf, mulher do ex-prefeito Paulo Maluf, passando a atuar no setor de alimentos.
Essa nova passagem da carreira de Nicéa se deu na A D'Oro, de Fuad Lutfalla, irmão de Sylvia Maluf. A empresa vendeu coxas e sobrecoxas para a prefeitura ainda na gestão de Paulo Maluf, fato que deu origem às investigações do chamado Frangogate.
Nicéa teria feito um estágio não-remunerado na A D'Oro, que, segundo apuração do Ministério Público, não existiu do ponto de vista formal. Na época, o gerente de vendas da empresa, Jainel Buzzo, disse que Nicéa "não sabia onde ficava a cabeça do frango".



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