São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2000


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EM MIAMI
Representante nos EUA de empresa do ex-presidente trabalha para consultoria citada no dossiê Caribe
Receita investiga negócios de Collor

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

A Receita Federal está investigando a possível ligação do ex-presidente Fernando Collor de Mello com empresas sediadas em Miami, nos Estados Unidos.
Essas empresas podem estar relacionadas à criação e divulgação do dossiê Caribe.
O dossiê é um conjunto de papéis fotocopiados, sem comprovação, que sugere a existência de contas bancárias e uma associação no exterior entre o presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Mário Covas, o ministro da Saúde, José Serra, e Sérgio Motta, que foi ministro das Comunicações e morreu em abril de 1998.
FHC e outros tucanos negaram ter essa sociedade no exterior, quando o dossiê surgiu, em novembro de 1998.
A Polícia Federal iniciou uma investigação, mas nada concluiu. A PF solicitou mais prazo para investigar, mas o pedido foi negado pela Justiça, por sugestão da Procuradoria Geral da República.
Segundo os documentos em posse da Receita Federal, em Brasília, um representante de empresas de Collor nos EUA, Alvaro Castillo, desempenha a mesma função para a Overland Advisory Services -uma consultoria cujo nome aparece em um dos papéis do dossiê Caribe.

Documentos
Os documentos obtidos pela Receita Federal estão no arquivo público da Divisão de Corporações da Flórida, um órgão responsável por cadastrar as empresas daquele Estado norte-americano. A Folha obteve ontem, por meio da Internet, as mesmas informações.
São cinco as empresas envolvidas. Duas estão em nome de Fernando Collor e três em nome de Oscar de Barros, um dos sócios da Overland.
Oscar de Barros foi preso na semana passada pelo FBI (Federal Bureau of Investigation, a PF norte-americana). Há contra ele várias acusações, inclusive a de estar envolvido com tráfico de cocaína.
No caso de Collor, segundo os documentos oficiais da Flórida, as empresas que poderiam ter alguma relação no caso são a Gazeta de Alagoas International Corporation (dissolvida no ano passado) e a Gazeta de Alagoas Holding Corporation (fechada em 1998).
Em ambas as empresas, Fernando Collor aparece assinando o relatório anual. O "registered agent" (representante) das duas instituições é Alvaro Castillo, nomeado por Collor.
As empresas de Oscar de Barros são as seguintes: Overland Advisory Services, Overland Financial Corporation e Telemarketing Management Administration. Alvaro Castillo é o representante das três. Oscar de Barros aparece sempre como diretor.
No caso da Telemarketing Administration, além de Oscar de Barros aparecem outras duas pessoas ocupando cargos de diretores: José Maria Teixeira Ferraz e Ney L. Santos. José Maria está preso junto com Oscar de Barros.
Na Overland Financial Corporation também é diretor Pedro Valentin.

Avaliação
Segundo a Receita Federal, em princípio não há nenhuma irregularidade no fato de Collor ter alguma relação empresarial com Alvaro Castillo, que também representa as empresas de Oscar de Barros.
A eventual irregularidade que a Receita Federal investiga é se Collor declarou no seu Imposto de Renda todas as suas atividades empresariais fora do país.
Algumas das pessoas nas empresas supostamente ligadas ao dossiê Caribe são brasileiras -por exemplo, Oscar de Barros. Também serão investigadas pela Receita Federal se ainda tiverem domicílio fiscal no Brasil.


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