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ROMBO TRANSAMAZÔNICO
Metasa, no RN, da qual o ministro foi sócio até 1998, recebeu cerca de R$ 6,5 mi de autarquia
Empresa de Bezerra teve verba da Sudene
ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
A empresa que foi comandada
pelo ministro Fernando Bezerra
(Integração Nacional) durante
nove anos recebeu quase todo financiamento de R$ 6,6 milhões
que pediu à Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste) e ainda assim não funciona como o previsto.
O ministro é o responsável pela
autarquia, extinta na semana passada com a Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da
Amazônia) pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
A empresa é a Metasa (Metais
do Seridó S.A.), no Rio Grande do
Norte. Durante nove anos, ela foi
presidida por Bezerra e por seu filho Hélio. A empresa hoje pertence a um ex-sócio do ministro.
A Metasa conseguiu junto ao Finor R$ 6,6 milhões. Restam cerca
de R$ 100 mil para que a Metasa
receba tudo que requereu.
Segundo auditoria feita pela Sudene na empresa, sua implantação se arrasta há 12 anos e ela só
produz 6% do que foi proposto
para obter financiamento do Finor (Fundo de Investimento do
Nordeste).
Ela gera 60 empregos, segundo
o atual proprietário, Mário Porto,
ex-sócio de Bezerra. Deveria gerar
mais de 140, segundo o projeto
original, e, na semana passada, só
havia 15 funcionários em atividade, segundo a chefia da produção.
"Há problemas de mercado para nosso produto. A China está
dominando 75% do mercado
mundial", afirmou Porto.
Os Bezerra deixaram a empresa
em junho de 1998, durante a campanha do ministro ao Senado. A
Metasa existe desde 1986. Bezerra
passou a controlá-la em 1989 e, no
ano seguinte, a empresa passou a
receber recursos do Finor.
Bezerra saiu da presidência em
dezembro de 1994, quando assumiu no lugar do senador Garibaldi Alves (PMDB), que se elegera
governador do Rio Grande do
Norte. Ele deixou Hélio Araújo
Bezerra, seu filho, no cargo.
Apesar de produzir apenas 6%
das 200 toneladas por mês de ferro-tungstênio que prometia fornecer, a Sudene continuou fazendo liberações à Metasa.
O minério é usado em armas e
sondas de petróleo. A última liberação ocorreu em dezembro de
2000, e foi de R$ 94 mil. Bezerra é
ministro desde agosto de 1999.
O ministro afirmou que quando
a empresa foi concebida havia
mercado para o produto, já que a
empresa possui a única mina em
atividade no país.
De acordo com Bezerra, o avô
de seu ex-sócio no negócio ""ficou
milionário" durante a Segunda
Guerra Mundial com a exploração da mesma mina.
"Não quero defender a Metasa.
Mas o problema está no modelo
que estamos substituindo. Há
muitos atrasos nas liberações de
recursos. Além disso, o ramo mineral evolui muito rapidamente",
afirmou Bezerra.
O relatório da Sudene faz da
Metasa um paradigma de um tipo
de investimento que, por falta de
retorno social e econômico, o governo tentou abolir na quarta-feira passada ao extinguir a Sudene e
a Sudam e criar agências de desenvolvimento para substituí-las
(leia texto nesta página).
Além disso, a anistia de dívidas
de empresários financiados pela
Sudene e pela Sudam pode beneficiar a empresa que foi de Bezerra, idealizador da medida provisória que possibilita o perdão.
O ministro descarta ter havido
qualquer favorecimento à Metasa. ""Jamais faria isso."
A MP elaborada pelo ministério, de agosto de 2000, ajuda cerca
de mil empresas -inclusive
aquelas que estão sendo investigadas por fraude. A anistia pode
atingir R$ 1,7 bilhão de dívidas.
O presidente Fernando Henrique Cardoso assinou a MP um
mês depois que a Receita Federal
entregou um dossiê sobre fraudes
na Sudam. No caso da Sudene, a
CPI do Finor já estava em curso.
O rombo na Sudam, até agora, é
estimado em R$ 1,8 bilhão, e o da
Sudene, em R$ 2,2 bilhões -o
ministério contesta esses dados.
O Finor e o Finam tinham como
objetivo ajudar empresários a se
instalar no Nordeste e na Amazônia, respectivamente. Em operação desde 1974, eles estão estruturados como fundos mútuos de
ações (frações de uma empresa
que asseguram renda variável e
tornam o possuidor "dono" de
parte da companhia) e debêntures (títulos de empresas que asseguram renda fixa e tornam o possuidor um credor da companhia).
A MP permite que os empresários convertam em ações as debêntures não conversíveis, que representam 25% dos recursos investidos pelos fundos nas empresas. No caso da Metasa, o eventual
beneficiário pode ser o ex-sócio
de Bezerra, Mário Porto.
Desde 1991, os empresários tinham que restituir aos fundos esses 25% em pagamentos em dinheiro e em parcelas semestrais.
A MP permitiu que essa dívida
fosse convertida em ações. Como
as ações dos dois fundos têm deságio médio de 96%, os empresários só terão que pagar, na prática,
4% de suas dívidas.
O perdão da empresa pode ser
de 96% do R$ 1,6 milhão que ela
teria de emitir em debêntures
quando o projeto fosse concluído.
"A adoção da medida foi muito
estudada pelo governo. Como a
âncora do Plano Real era uma elevada taxa de juros, as empresas
incentivadas ficaram com passivos (dívidas) muito altos. Foi uma
renegociação semelhante à feita
com os agricultores", diz Bezerra.
Colaborou EDUARDO SCOLESE, da Agência Folha
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