São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grampo mostra suposta trama de morte

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ANJ (Associação Nacional dos Jornais) e a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) manifestaram ontem repúdio à revelação de que o empresário acusado de chefiar o esquema das ambulâncias superfaturadas e um assessor do deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) teriam tramado a morte do jornalista Lúcio Vaz, do "Correio Braziliense", que investigava a fraude no final do ano passado, em Rondônia.
Gravações feitas pela PF de conversa telefônica entre Luiz Antonio Vedoin, o empresário envolvido na fraude, e Francisco Machado Filho, o assessor do deputado, ambos presos, revelam que os dois teriam cogitado a morte do jornalista como forma de impedir a revelação do esquema.
"Podia arrumar um jeito de mandar matar o cara lá, o que que cê acha", pergunta o empresário ao assessor de Capixaba, parlamentar suspeito de integrar o esquema de fraude. "Eu também acho que é uma boa", diz o assessor, rindo. Em seguida, o empresário Vedoin sugere afogamento: "Vou falar pra um amigo meu... vou ver se esse cara agüenta ficar dez minutos debaixo d'água".
A PF avaliou, durante as investigações, que a conversa sobre o jornalista era num tom de brincadeira. Por isso, não teria tomado uma medida na ocasião.
"A ANJ manifesta grande preocupação com a notícia. (...) A preocupação é ainda maior diante do fato de que a Polícia Federal, mesmo tendo conhecimento do fato desde o final do ano passado, não tomou nenhuma providência no sentido de assegurar a integridade física do jornalista", diz nota divulgada pela associação, que segue: "A ANJ considera que as autoridades policiais têm a obrigação de garantir a segurança desse e qualquer outro profissional de jornalismo que esteja correndo risco em função do trabalho de levar informação ao público".
O presidente da Fenaj, Sérgio Murillo de Andrade, afirmou que a revelação é grave e que vai pedir providências à PF. "Isso coloca em público a forma como se faz política nesse país, mostra como parte da elite, a mais atrasada, mas retrógrada, lida com a mídia. Fala em matar e mata", afirmou.
O jornalista Lúcio Vaz, 48, afirmou que se sentiu chocado com a notícia. "A gente sabe que corre esse tipo de risco, lida com isso sempre, mas quando acontece com a gente, dá um choque".
O delegado da PF Tardeli Boaventura afirmou ontem que a suposta trama de morte do jornalista não passou de "uma brincadeira". "Mesmo assim, eu pedi informação especial e nós continuamos monitorando e eles não falaram mais nada sobre assunto."
A Folha não conseguiu localizar o deputado Capixaba e seus assessores ontem. (RB e SN)


Texto Anterior: Fraude com ambulâncias pode envolver mais de 100 cidades
Próximo Texto: Novo escândalo: Suassuna sabia de esquema, indica gravação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.