São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ CPI DOS BINGOS

Apontado como mandante da morte de Toninho do PT, Figueredo diz que nunca teve bingo em Campinas e afirma não saber por que foi citado

Empresário angolano nega versão de garçom

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário José Paulo Teixeira Cruz Figueredo está aturdido desde que seu nome foi citado como o mandante do assassinato de Toninho do PT, o prefeito de Campinas, ocorrido em 2001. Na versão apresentada em sessão secreta da CPI dos Bingos, o garçom Anderson Ângelo Gonçalves contou que viu Vadinho, como Figueredo é conhecido, tramar a morte do prefeito por ter tido interesses contrariados.
Nascido em Angola, Figueredo, 59, diz que a versão é absurda porque nunca teve casa de bingo em Campinas, cidade que visitou há cerca de 15 anos, segundo ele.
Figueredo não é um novato na CPI dos Bingos. Seu nome e de seu sócio, Artur José Valente de Oliveira Caio, foram apontados como doadores de R$ 1 milhão à campanha do PT em 2002. A doação foi articulada, segundo o advogado Rogério Buratti, pelo ex-ministro Antonio Palocci.
Em sua primeira entrevista desde que se tornou personagem da CPI, Figueredo diz que não doou dinheiro ao PT e nunca encontrou Palocci. "Nem conheço o [ex-] ministro", afirmou.
Figueredo vive em Angola, onde diz ter uma engarrafadora de água mineral. De um país da Europa que não quis identificar, deu a seguinte entrevista à Folha:
 

Folha - O sr. já teve algum tipo de negócio em Campinas?
José Paulo Teixeira Cruz Figueredo -
Nunca tive, nunca fui proprietário de bingo em Campinas.

Folha - Já teve algum problema com o Toninho do PT?
Figueredo -
Só conheci o Toninho pelos jornais, quando lhe aconteceu essa desgraça.

Folha - O sr. já teve problemas empresariais em Campinas?
Figueredo -
Nunca. A última vez que fui a Campinas foi há mais de 15 anos. Nunca tive bingo lá.

Folha - Onde o sr. teve bingo?
Figueredo -
Em São Paulo, em Belo Horizonte, em Recife.

Folha - Saberia explicar por que esse garçom disse ter visto o sr. tramar a morte do Toninho do PT?
Figueredo -
Não me passa pela idéia porque ele resolveu pôr o meu nome nisso aí. São problemas políticos, mas não faço a mínima idéia. Nunca vi esse senhor.

Folha - O sr. acha que possa haver algum uso político desse caso?
Figueredo -
Eu não gostaria de responder a essa pergunta.

Folha - Uma outra testemunha da CPI dos Bingos, um motorista, disse ter visto o sr. na chamada "casa do lobby" em Brasília.
Figueredo -
Nunca fui a nenhuma casa do lago em Brasília. Nunca fui ao Ministério da Fazenda. Nem conheço o [ex-] ministro.

Folha - Mas o sr. cedeu um helicóptero para levar Palocci a Angra dos Reis?
Figueredo -
Não, não tenho nenhum helicóptero.

Folha - Foi o sócio do sr. que cedeu o helicóptero?
Figueredo -
Eu tenho um sócio que tem helicóptero. Se ele cedeu ou não, você tem de perguntar a ele. Nunca tive helicóptero.

Folha - O advogado Rogério Buratti disse que dois empresários angolanos da área de bingo doaram R$ 1 milhão à campanha do PT de 2002. São você e seu sócio?
Figueredo -
Eu nunca dei dinheiro ao PT. Portanto, esses angolanos de que o Buratti fala não podem ser eu e meu sócio.

Folha - Por que deixou o Brasil?
Figueredo -
Deixei o Brasil porque em Angola apareceram negócios que eu achei convenientes de tocar agora. Como o negócio onde eu estive estão cheios de problemas, nunca mais se legalizam oficialmente, porque não é ilegal nem é legal, então isso me cansa.


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