UOL

São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VICE-PROBLEMA

Cúpula do governo já compara vice a Itamar

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Algo atônita, a cúpula do governo está dividida e não sabe o que fazer para controlar as críticas duras do vice-presidente José Alencar aos juros altos. Membros do governo próximos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegam a comparar Alencar ao ex-presidente Itamar Franco. Vice de Fernando Collor de Mello (90-92) antes de governar o país, entre 92 e 94, Itamar ficou carimbado como uma personalidade teimosa, de difícil trato e gestos imprevisíveis. Rompeu com Collor antes de sua queda e entrou em atrito várias vezes com seu sucessor, Fernando Henrique Cardoso.
Lula, porém, ainda não tem a avaliação de que Alencar virou "um Itamar". Apesar disso, o ataque de Alencar feito ontem contra os juros voltou a desagradar ao presidente e a auxiliares.
Anteontem, Lula ficou 40 minutos conversando com Alencar na Base Aérea, em Brasília. Disse a seu vice que as declarações na verdade só atrapalhariam uma futura queda dos juros.
O governo não está incomodado com efeitos econômicos, porque até agora as declarações de Alencar não têm afetado os principais indicadores. A preocupação é que o vice conseguiu popularizar uma discussão em torno de um tema negativo, segundo avaliação de auxiliares do presidente. Lula está ficando com o ônus dos juros altos, enquanto Alencar defende boa causa.
Apesar de toda a preocupação dos auxiliares do presidente, ele ainda está inclinado a tentar a via da conciliação. Lula acha que é preciso dar tarefas de governo a Alencar para que ele não fique isolado em seu gabinete, recebendo empresários e políticos que fazem lobby pela queda dos juros.
Lula tem tentado a conciliação, porque gosta de Alencar e acha que deve dar a ele espaço para discordâncias. Dirceu e Palocci pressionaram o presidente a falar com o vice, o que Lula fez duas vezes. O presidente disse-lhe que as críticas atrapalhavam os planos de baixar os juros. As duas conversas, no entanto, foram ineficazes.
Ontem, Palocci e Dirceu voltaram a demonstrar contrariedade com Alencar, segundo apurou a Folha. Um deles indagou: "Isso não vai parar nunca?!".
Lula e Palocci, mais conciliadores, defendiam até ontem nova tentativa de "ganhar" Alencar, sem rompimento. Dirceu, porém, tinha dúvidas. No final da tarde de ontem, Palocci foi ao Palácio da Alvorada, para uma conversa com Lula. Oficialmente, não havia pauta definida, mas auxiliares do presidente davam como certo que Alencar seria um dos assuntos.
No governo, as alternativas para lidar com Alencar vão desde um discurso duro de Lula até o completo isolamento do vice das principais decisões de governo. Outra possibilidade: nova conversa de Lula ou encontros individuais de Palocci e de Dirceu com Alencar para esclarecer eventuais mágoas.


Texto Anterior: Palocci é médico, não sente pressão, diz Lula
Próximo Texto: Janio de Freitas: A soberania no balcão
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.