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GOVERNO
Única vitória importante até agora foi a aprovação, no início de março, das novas regras para o setor elétrico
Agenda econômica de Lula pára no Congresso
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Prestes a ver encerrado o semestre legislativo, o governo não conseguiu aprovar praticamente nada de sua agenda econômica prioritária -as propostas com as
quais pretende estimular os investimentos e o crescimento.
Dos 14 projetos que dependem
do Congresso, 12 não têm mais
chances de serem convertidos em
leis até o início do recesso de deputados e senadores. Uma boa
parte deles, aliás, nem sequer chegou a ser concluída e apresentada
pelo Executivo.
A única vitória importante até
agora foi a aprovação, no início de
março, das duas medidas provisórias que fixaram as novas regras
para o setor elétrico. E, como as
eleições municipais tendem a
concentrar as atenções dos congressistas daqui para a frente, há o
risco de o semestre perdido se
transformar em um ano perdido.
A maior parte da agenda econômica do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva é composta por projetos de lei ordinária, que podem
ser aprovados por maioria simples na Câmara e no Senado. Ainda assim, há dificuldades.
São três os projetos cuja aprovação é tida como mais urgente: a
nova Lei de Falências, o novo desenho das agências reguladoras e
a regulamentação das PPPs (Parcerias Público-Privadas). Dos
três, só o último tem possibilidades -pequenas- de ir à sanção
presidencial neste mês.
Com as PPPs, o governo procura driblar a penúria orçamentária
e viabilizar investimentos em infra-estrutura com a ajuda do dinheiro privado. O texto passou
pela Câmara e enfrenta dificuldades no Senado, onde pode ser modificado e ter de ser novamente
examinado pelos deputados.
A nova Lei de Falências, cujo
objetivo é reduzir os juros de mercado com o aumento das garantias oferecidas aos bancos credores, está pronta para votação no
plenário do Senado, mas o projeto
já foi alterado e terá de voltar à Câmara em seguida.
No caso das agências reguladoras, os problemas começaram no
próprio governo, que levou mais
de um ano para concluir sua proposta. O projeto, que deveria ter
ficado pronto no final de 2003, só
chegou em abril à Câmara -onde, até agora, não andou.
Reformas abandonadas
A situação é pior no caso das reformas constitucionais, cuja
aprovação depende dos votos favoráveis de 60% dos deputados e
senadores.
Neste ano, pelo cronograma
imaginado inicialmente, o Planalto se empenharia na conclusão da
reforma tributária e na votação da
reforma trabalhista. Sem votos
suficientes no Congresso e sob
pressão dos governadores, porém, o governo concordou em
adiar a primeira para 2005.
Na reforma trabalhista, que racha a base petista, o governo optou por outro caminho: separou o
projeto em dois, deixando a revisão dos direitos trabalhistas para
o próximo ano e a reforma da estrutura dos sindicatos para agora
-no entanto, nem a reforma sindical foi apresentada.
Mesmo a reforma previdenciária, grande êxito legislativo de Lula no ano passado, engrossa a lista
dos insucessos deste ano: até hoje
o Planalto não foi capaz de enviar
ao Congresso o projeto que regulamenta os fundos de pensão dos
servidores públicos, sem o que
boa parte da reforma não tem
efeito prático.
"Congresso tem seu ritmo"
"O Congresso tem seu ritmo,
que deve ser respeitado, e o ritmo
tem sido bem razoável", diz o secretário-executivo da Fazenda,
Bernard Appy, sobre o atraso da
"agenda para o crescimento" da
equipe econômica. "O Congresso
tem melhorado muito os projetos, que são complexos", reforça o
secretário de Política Econômica,
Marcos Lisboa.
Ainda que faça sentido, a argumentação omite que a lentidão
também tem origem na discrepância entre o teor dos projetos e
o discurso histórico do PT -o
que ajuda a explicar a série de impasses tanto no Executivo como
no Legislativo.
Lisboa, por exemplo, é obrigado
a ser lacônico ao falar sobre a proposta de conceder autonomia ao
Banco Central, promessa pós-eleitoral de Lula ao mercado financeiro que, como só falta o governo admitir, não deverá ser
cumprida. "Isso está sendo discutido no governo", limita-se a dizer
o secretário.
Os fracos resultados colhidos
neste semestre refletem, ainda, a
desarticulação de sua base no
Congresso, que começou pelo caso Waldomiro Diniz, ex-assessor
do ministro José Dirceu (Casa Civil) que aparece em vídeo de 2002
pedindo propina a um empresário do ramo de jogos. Divulgada
em fevereiro deste ano, a fita provocou a demissão, "a pedido", de
Waldomiro. Com a revelação do
caso, Dirceu perdeu, de fato e de
direito, o posto de principal articulador político do Planalto.
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