São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

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OPERAÇÃO VAMPIRO

Suspeito de liderar quadrilha pretendia vender projeto

Arquivos revelam plano de lobista para pasta da Saúde

ANDRÉA MICHAEL
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O lobista Laerte de Arruda Corrêa Júnior, suspeito de encabeçar uma das supostas quadrilhas que agiam no Ministério da Saúde, pretendia vender à pasta um projeto de atendimento a doentes crônicos -hipertensos, diabéticos e hemofílicos, por exemplo.
Os detalhes da idéia, batizada de Chega Mais Saúde, constam dos arquivos de computador do empresário Eduardo Passos Pedrosa, apreendidos pela Polícia Federal no dia 19 de março, em meio a diligências da Operação Vampiro.
Concretizada a venda, pretendia implementar o projeto de atendimento com a contratação de duas empresas ligadas ao próprio Corrêa Júnior e aos lobistas Jaisler Jabour e Lourenço Peixoto.
Os três foram presos pela Polícia Federal no dia 19 de maio último sob a acusação de pagar propina a servidores para fraudar compras de medicamentos no Ministério da Saúde. Corrêa Júnior, posteriormente, foi solto.

Cadastro de doentes
O Chega Mais Saúde consiste na elaboração de um cadastro de doentes crônicos, com base no qual seria possível gerenciar a entrega periódica, em domicílio, dos medicamentos controlados ao paciente.
Com isso, seriam criadas condições para reduzir o número de vezes que o usuário passa por consultas médicas no SUS (Sistema Único de Saúde), muitas das quais são realizadas apenas para obtenção da receita para compra do medicamento.
A promessa era de mais conforto ao paciente e redução de até 30% nos custos para o ministério.
Para implementar o Chega Mais Saúde, segundo planejava Corrêa Júnior, seriam contratadas as empresas ABC-Datasaúde, ligada aos lobistas Peixoto e Jaisler Jabour, e a Prevsaúde, ligada ao próprio Corrêa Júnior, que se encontra foragido desde a última segunda-feira, quando a Justiça decretou novamente sua prisão preventiva.
A Folha procurou os responsáveis pela ABC-Datasaúde e pela Prevsaúde, mas não conseguiu falar com nenhum deles até o fechamento desta edição.
A elaboração do Chega Mais Saúde pode ser a chave para revelar as referências feitas ao personagem Lilico, em diálogos gravados pela Polícia Federal. Lilico é o apelido de Frederico Coelho Neto, irmão do ex-governador de São Paulo e deputado federal Luiz Antonio Fleury Filho (PTB).
Lilico confirma ter se reunido com Corrêa Júnior e Eduardo Pedrosa, entre outras datas, no dia 27 de janeiro deste ano, ocasião em que trataram até de um plano de marketing para divulgação do programa Chega Mais Saúde.
O encontro aconteceu na sede da empresa Phoenix, que pertence a Pedrosa.
"Conheço o Laerte. Fui eu quem o apresentou ao Eduardo Pedrosa. E, a pedido dele, ajudei a fazer o projeto", disse Coelho Neto.
A reportagem procurou assessores de Corrêa Júnior e foi orientada a encaminhar perguntas por meio de um e-mail. Até o fechamento desta edição, no entanto, não houve resposta.

Criatividade
Comerciante do ramo de medicamentos, no qual atua desde os anos 80, Corrêa Júnior é conhecido pela amplitude de sua relação com políticos de diferentes governos.
Em 1987 acabou denunciado por médicos e hospitais. Acusavam-no de trazer para o mercado nacional, mediante práticas supostamente irregulares, o AZT, que na época era um medicamento revolucionário no tratamento de aidéticos.
Corrêa Júnior negou ter comercializado o produto no Brasil. Afirmou que nem teria meios legais para isso. Disse que estava se preparando para abrir a BM Serv Suprimentos Médicos Ltda., da qual seria sócio.
O negócio da empresa seria ensinar os interessados a comprar medicamentos importados diretamente dos laboratórios, com o que conseguiriam um preço menor.


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