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OPERAÇÃO VAMPIRO
Suspeito de liderar quadrilha pretendia vender projeto
Arquivos revelam plano de lobista para pasta da Saúde
ANDRÉA MICHAEL
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O lobista Laerte de Arruda Corrêa Júnior, suspeito de encabeçar
uma das supostas quadrilhas que
agiam no Ministério da Saúde,
pretendia vender à pasta um projeto de atendimento a doentes
crônicos -hipertensos, diabéticos e hemofílicos, por exemplo.
Os detalhes da idéia, batizada de
Chega Mais Saúde, constam dos
arquivos de computador do empresário Eduardo Passos Pedrosa,
apreendidos pela Polícia Federal
no dia 19 de março, em meio a diligências da Operação Vampiro.
Concretizada a venda, pretendia implementar o projeto de
atendimento com a contratação
de duas empresas ligadas ao próprio Corrêa Júnior e aos lobistas
Jaisler Jabour e Lourenço Peixoto.
Os três foram presos pela Polícia Federal no dia 19 de maio último sob a acusação de pagar propina a servidores para fraudar
compras de medicamentos no
Ministério da Saúde. Corrêa Júnior, posteriormente, foi solto.
Cadastro de doentes
O Chega Mais Saúde consiste na
elaboração de um cadastro de
doentes crônicos, com base no
qual seria possível gerenciar a entrega periódica, em domicílio, dos
medicamentos controlados ao
paciente.
Com isso, seriam criadas condições para reduzir o número de vezes que o usuário passa por consultas médicas no SUS (Sistema
Único de Saúde), muitas das
quais são realizadas apenas para
obtenção da receita para compra
do medicamento.
A promessa era de mais conforto ao paciente e redução de até
30% nos custos para o ministério.
Para implementar o Chega Mais
Saúde, segundo planejava Corrêa
Júnior, seriam contratadas as empresas ABC-Datasaúde, ligada aos
lobistas Peixoto e Jaisler Jabour, e
a Prevsaúde, ligada ao próprio
Corrêa Júnior, que se encontra foragido desde a última segunda-feira, quando a Justiça decretou
novamente sua prisão preventiva.
A Folha procurou os responsáveis pela ABC-Datasaúde e pela
Prevsaúde, mas não conseguiu falar com nenhum deles até o fechamento desta edição.
A elaboração do Chega Mais
Saúde pode ser a chave para revelar as referências feitas ao personagem Lilico, em diálogos gravados pela Polícia Federal. Lilico é o
apelido de Frederico Coelho Neto, irmão do ex-governador de
São Paulo e deputado federal Luiz
Antonio Fleury Filho (PTB).
Lilico confirma ter se reunido
com Corrêa Júnior e Eduardo Pedrosa, entre outras datas, no dia
27 de janeiro deste ano, ocasião
em que trataram até de um plano
de marketing para divulgação do
programa Chega Mais Saúde.
O encontro aconteceu na sede
da empresa Phoenix, que pertence a Pedrosa.
"Conheço o Laerte. Fui eu quem
o apresentou ao Eduardo Pedrosa. E, a pedido dele, ajudei a fazer
o projeto", disse Coelho Neto.
A reportagem procurou assessores de Corrêa Júnior e foi orientada a encaminhar perguntas por
meio de um e-mail. Até o fechamento desta edição, no entanto,
não houve resposta.
Criatividade
Comerciante do ramo de medicamentos, no qual atua desde os
anos 80, Corrêa Júnior é conhecido pela amplitude de sua relação
com políticos de diferentes governos.
Em 1987 acabou denunciado
por médicos e hospitais. Acusavam-no de trazer para o mercado
nacional, mediante práticas supostamente irregulares, o AZT,
que na época era um medicamento revolucionário no tratamento
de aidéticos.
Corrêa Júnior negou ter comercializado o produto no Brasil.
Afirmou que nem teria meios legais para isso. Disse que estava se
preparando para abrir a BM Serv
Suprimentos Médicos Ltda., da
qual seria sócio.
O negócio da empresa seria ensinar os interessados a comprar
medicamentos importados diretamente dos laboratórios, com o
que conseguiriam um preço menor.
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