São Paulo, quarta-feira, 06 de junho de 2007

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Lula diz não crer em culpa de irmão, mas respalda a PF

"Se o nome dele aparecia, paciência", afirma presidente durante viagem à Índia

"A única chance que as pessoas têm de não serem molestadas é andar direito, não cometer nenhum equívoco", declara petista


KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI

O presidente Luiz Inácio da Lula da Silva disse ontem, em Nova Déli, capital da Índia, não acreditar no envolvimento do seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, em irregularidades. "Não acredito que o Vavá tenha envolvimento em qualquer coisa, não acredito mesmo. Agora, como presidente da república, se a PF tinha uma autorização judicial e o nome dele aparecia, paciência". Vavá foi indiciado sob acusação de tráfico de influência no Executivo e exploração de prestígio no Judiciário. Lula disse que tem "um carinho pelo Vavá extraordinário", que ele é um de seus "melhores irmãos". Contou que é padrinho do filho de Dario Morelli Filho, indiciado sob a acusação de corrupção ativa e formação de quadrilha.

 

PERGUNTA - Como o sr. recebeu a notícia da ação da PF na casa do seu irmão?
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA -
Ainda não recebi as notícias porque foi ontem. Penso que a Polícia Federal está cumprindo um papel extraordinário no Brasil. Eu disse outro dia que a Polícia Federal vai continuar investigando todas as pessoas se tiver uma determinação judicial em função de quebra de sigilo telefônico. Inocentes vão ser inocentes. Culpados vão ser punidos. A única coisa que nós precisamos garantir é que haja justiça efetivamente, que haja seriedade, que haja apuração. Conheço o meu irmão há 61 anos. Sou capaz de duvidar de que o meu irmão tem algum problema. Mas, de qualquer forma, se a PF fez a investigação, está feita. Isso vale para qualquer um dos 190 milhões de brasileiros. A única chance que as pessoas têm de não serem molestadas é andar direito, não cometer nenhum equívoco. A única coisa que peço publicamente, já pedi a semana passada, é que a polícia tenha serenidade nas investigações para que a gente não condene inocentes e para que a gente não venha a absolver culpados.

PERGUNTA - O sr. falou com o seu irmão, presidente?
LULA -
Não, não falei. E não vou poder falar hoje porque vou estar embarcando, agora são quatro horas da manhã lá [no Brasil], e eu vou chegar em Berlim cinco e meia da tarde. Ou seja...

PERGUNTA - O sr. falou com o ministro Tarso Genro?
LULA -
O Tarso só disse que tinha feito a operação, que [a PF] tinha investigado a casa do meu irmão, e acho que isso é normal.

PERGUNTA - Quando o sr. falou com o Tarso?
LULA -
Acho que há uma hora.

PERGUNTA - Fale da sua reação como presidente e como irmão.
LULA -
Sempre tento separar o papel de ser humano normal e de irmão e de presidente. Separei na questão do aborto com o papa, mostrando o papel meu como ser humano e o papel meu como presidente. Obviamente, como irmão, tenho um carinho pelo Vavá extraordinário. É um dos melhores irmãos que eu tenho. É uma espécie de pessoa que cuida dos problemas de todo mundo que tem um problema. Não acredito que Vavá tenha envolvimento em qualquer coisa, não acredito mesmo. Agora, como presidente, se a PF tinha uma autorização judicial e o nome dele aparecia, paciência. Todos nós estaremos submetidos às investigações que sejam feitas para apurar qualquer delito cometido no Brasil. Eu conheço pouquíssimos detalhes. As pessoas não forem investigadas ainda, não foram ouvidas. Vamos aguardar e dentro de 48 horas devemos ter mais notícia.

PERGUNTA - Na primeira vez em que saiu notícia sobre a atividade do seu irmão [suposto escritório de lobby], o sr. conversou com ele a respeito dessa atividade? O sr. pediu para ele parar com essa atividade?
LULA -
Primeiro, não acredito que o Vavá tenha atividade [suposto esquema de lobby]. Eu conheço o Vavá há 61 anos. Não tanto porque tinha um tempo em que eu não conseguia distingui-lo. Eu o conheço bem. Não acredito que ele tenha isso, que ele tenha qualquer coisa [ilegal]. Não acredito. Não acredito mesmo, de verdade. De qualquer forma, tem uma investigação. Vamos ver o que dá.

PERGUNTA - O sr. conhece o nome da operação?
LULA -
Não, não

PERGUNTA - Xeque-mate.
LULA -
Xeque-mate [sorriso]. Temos um problema nessa questão do bingo no Brasil. Eu mandei uma medida provisória dois anos atrás para acabar com o bingo no Brasil. Essa medida provisória foi derrotada no Congresso. Depois, não houve uma regulamentação. Enquanto não houver uma regulamentação, os bingos vão continuar uma parte legal, uma parte clandestina. Vai ter indústria das liminares. Desconfia-se de que haja lavagem de dinheiro. Vamos ver se essa operação agora consegue investigar. E vamos ver se regulamenta o bingo. Ou proíbe ou não proíbe.

PERGUNTA - O sr. é a favor de quê?
LULA -
Sou a favor de não ter bingo. Já fiz uma medida provisória para acabar com os bingos porque eu estava convencido naquele instante, pelas informações que recebia da própria PF, de que o bingo era utilizado como lavagem de dinheiro. Agora, dizem que tem uma diferença. Uma coisa é o bingo, no qual vão as mulheres, as velhinhas jogar, e outra coisa são as máquinas nas quais, ali, parece que há distorção. De qualquer forma, acho que o Congresso pode regulamentar, proibindo ou não.

PERGUNTA - O sr. teve informações sobre a prisão do Dario?
LULA -
Não tive. Não tive.

PERGUNTA - O sr. sabe de quem se trata?
LULA -
Sei. Sei. Sou padrinho do filho dele. Fui informado de que talvez ele estivesse na lista. Depois, não conversei mais com o Tarso. Vamos ver.

PERGUNTA - Ele foi preso.
LULA -
Se foi preso, será investigado, interrogado, e depois haverá um veredicto.


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