São Paulo, sexta-feira, 06 de julho de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Petista ataca "apagão" de FHC e cita Getúlio, JK e militares como exemplos de governos com planejamento

Lula elogia realizações do regime militar

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALPINÓPOLIS

Luiz Inácio Lula da Silva, virtual candidato do PT à Presidência em 2002, disse que o governo Fernando Henrique Cardoso "talvez seja o que vai deixar o maior passivo da história do país, sem deixar nenhum ativo", falando da crise energética. Como contraponto, elogiou até os governos militares.
Ele atribuiu a crise à falta de planejamento. Citou como exemplos de governos que administraram com planejamento os de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e até os presidentes do regime militar (64-85): "Por mais que tenhamos sofrido nas mãos deles [militares", eles criaram o pólo petroquímico e as empresas de energia. Eles endividaram o país, mas pelo menos ficou uma marca. A marca do FHC será o apagão", disse.
Lula deu suas declarações na cidade de Alpinópolis, que faz parte de seu roteiro na região do lago de Furnas Centrais Elétricas, no sudoeste de Minas. Indagado sobre a mudança de imagem de radical para "light", Lula disse que sempre foi um negociador, desde os tempos do regime militar. Afirmou que em 1975 negociou com os militares a abertura política.
Citou também as negociações nas greves dos metalúrgicos da região do ABC, em 1978, e as articulações para garantir governabilidade ao então presidente Itamar Franco (92-94), hoje governador de Minas Gerais pelo PMDB.
"O Itamar sabe o quanto o PT foi importante no impeachment do Collor. Depois, havia no PT uma corrente que não queria que o Itamar tomasse posse. Eu negociei a garantia de governabilidade e o apoio ao Itamar. O PT não fez oposição a ele", disse.
Lula admitiu que o PT foi radical "há dez anos" e que não se arrepende: "Para o PT se legalizar foi preciso radicalizar. Agora, eu não quero radicalizar na questão ideológica, quero a criação de um modelo de desenvolvimento".
Mais tarde, Lula aproveitou para rebater as críticas do governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), que disse que o presidenciável petista é inexperiente e que o programa do PT é liberal.
"Tem gente que, para crescer politicamente, faz o que eu estou fazendo: andar pelo Brasil para construir alternativas. Tem outro tipo de gente que prefere sentar em cima do próprio ego e ficar julgando todo mundo", disse.

Olívio
O secretário de Comunicação do governo do Rio Grande do Sul, Guaracy Cunha, disse ontem que Lula "talvez esteja mal-informado" sobre as realizações da gestão do governador Olívio Dutra (PT).
Anteontem, durante sua visita a Minas, o presidenciável criticou a política de comunicação do Executivo gaúcho, declarando, por exemplo, que o investimento de R$ 200 milhões em energia elétrica não teve divulgação adequada. A falha na comunicação seria responsável pela última colocação de Olívio no ranking de governadores do Datafolha, com nota 4,8.
"Achamos que os índices não são ruins. Temos tempo e vamos melhorar. Talvez [os índices] apavorem o Lula, que é candidato", disse Cunha.
O secretário retrucou o argumento de Lula em relação à área energética, lembrando que o próprio programa eleitoral do PT destacou o investimento realizado. Segundo Cunha, o governo não desenvolve uma campanha publicitária por força da "austeridade" que limita o gasto nesse setor a cerca de R$ 13 milhões.
"Vendemos nosso peixe, mas não temos o controle editorial dos meios de comunicação."


Colaborou CARLOS ALBERTO DE SOUZA, da Agência Folha, em Porto Alegre


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