São Paulo, sábado, 06 de julho de 2002

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PF SOB SUSPEITA

Segundo órgão, líderes petistas pediram "escuta telefônica e busca e apreensão" em apuração de morte de prefeito

"PT pediu grampo", diz documento da PF

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

Na tentativa de rebater as acusações petistas de que teria realizado espionagem política por meio de grampos telefônicos, a Polícia Federal divulgou ontem um documento no qual, em 22 de janeiro, o partido solicitou ao presidente Fernando Henrique Cardoso, entre outras ações, "escuta telefônica e busca e apreensão" para investigar o assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT) -ocorrido dois dias antes.
Assinado pelo presidente da sigla, José Dirceu (SP), e pelo candidato petista à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, o ofício do PT solicitava a FHC "especial atenção" e "todos os esforços" nas investigações da morte de Daniel.
Segundo o documento -encaminhado à época por FHC ao então ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira-, Lula e Dirceu consideravam de "extrema importância" a convocação de agentes federais, plenos poderes e meios de trabalho à PF nas investigações e o "alargamento das hipóteses em que caberia escuta telefônica e busca e apreensão".
Nas últimas semanas, o PT tem afirmado que a PF se valeu de um pedido para investigar o narcotráfico a fim de obter autorização legal de quebra de sigilo de 41 telefones de autoridades petistas de Santo André. Segundo a legenda, "houve espionagem política e uso ilegal de grampo". Respaldados em decisões judiciais, os grampos são permitidos no país. As 40 fitas que conteriam gravações de conversas de petistas estão em poder do Ministério Público Federal.
De acordo com a PF, o pedido de grampo se baseou em informações anônimas, e a Justiça o autorizou por haver suspeita de que traficantes estariam envolvidos no assassinato de Daniel.
Além da questão dos grampos de Santo André, há o caso de que denúncia feita à CPI do Narcotráfico levou a PF a investigar Lula a partir de dezembro de 2000.
No documento, os líderes petistas pediram a FHC empenho para que as ações em busca do esclarecimento do crime não fosse burocratizado "pelas vias normais".
Segundo o delegado da PF Gilberto Tadeu, as investigações feitas por meio de escutas telefônicas "nunca tiveram como alvo o PT". Segundo ele, "foram investigadas pessoas que estavam ligadas a Celso Daniel".
A direção geral da Polícia Federal em Brasília também reuniu a imprensa ontem pela manhã para divulgar o mesmo documento.
O assistente do diretor-geral da PF, Glédston Campos, disse que a investigação da morte de Celso Daniel optou pelo "viés do narcotráfico" porque a equipe da PF designada para dar apoio às investigações era especializada no combate ao tráfico de drogas.
A intenção da PF na divulgação do documento era mostrar que o PT havia solicitado na investigação o uso das escutas telefônicas, mas tropeçou na explicação do motivo pelo qual o pedido de grampo apresentado ao juiz corregedor teve como objetivo a investigação de narcotráfico.
Inicialmente, ele não soube explicar o motivo do "viés". A explicação só foi dada depois de consultar a direção da PF. Segundo Campos, a investigação poderia ter seguido por outro caminho caso a equipe da PF fosse especializada em outro tipo de crime.
"O narcotráfico é uma das facetas do crime organizado e naturalmente poderíamos chegar às quadrilhas de assaltantes de bancos, sequestradores e que em uma destas quadrilhas houvesse nomes envolvidos com a morte do prefeito", disse Campos.


Colaborou a Sucursal de Brasília



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