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JANIO DE FREITAS
As verbas na eleição
A descomunal intervenção do governo Lula nas
eleições municipais, com a repentina e acelerada torrente de
bilhões para prefeituras controladas, quase todas, por aliados
do Planalto, está sujeita a duas
formas de sustação capazes
ainda de defender o processo
eleitoral de tamanho ataque de
imoralidade.
A destinação de verbas, nos
últimos dias da semana passada, chegou a exigir que em alguns ministérios o trabalho entrasse pela noite, já que a autorização de recursos ficava proibida por lei a partir de 3 de julho, sexta-feira, e nos três meses
anteriores à eleição. Mas a lei
exige, também, que o repasse
de verbas se dê exclusivamente
para "obras em andamento".
O que o governo teve tempo
de fazer nos últimos dias, precisando até de edição especial do
"Diário Oficial", foram autorizações de liberação de verba.
A liberação para as prefeituras ficou, portanto, para se dar
dentro dos 90 dias anteriores à
eleição. Abre-se, então, a possibilidade de que procuradores
regionais eleitorais tenham
meios de sustar o recebimento
ou, pelo menos, a utilização do
dinheiro, no casos - a grande
maioria - em que não se destine a obras já em andamento.
A outra possibilidade contra
a intervenção financeira do governo nas eleições, ou pelo menos parte dessa intervenção, está já abordada pelo subprocurador-geral da República e pelo
vice-procurador geral eleitoral,
Mario Gisi e Roberto Gurgel.
É o recurso ao Tribunal Superior Eleitoral, a ser julgado pelo
ministro Sepúlveda Pertence,
contra o parecer em que o governo se baseia para autorizar
verbas nos casos de obra não
iniciada.
Autora do parecer, a Advocacia Geral da União, de má fama no governo anterior, ofereceu ao governo Lula a conclusão de que a lei, ao estabelecer a
exigência de "obra em andamento", não está exigindo obra
iniciada, propriamente.
Mesmo o que não passa de
antecedentes preparatórios já
seria obra em andamento.
Sejam quais forem os argumentos jurídicos do recurso
contra a AGU, o vernáculo não
deixa dúvida: foi sempre muito
claro o sentido da expressão
"obra em andamento". O que
antecede são processos administrativos e projeções técnicas
e, eventualmente, estéticas. A
obra, no caso de sua citação pela lei, é atividade física que sucede a fase de processos e projeções - se chegar a ser iniciada.
Em discursos recentes de Lula, e mesmo em uma das últimas reuniões ministeriais, encontram-se referências à "ordem de concluirmos as obras
que os governos passados iniciaram e deixaram paradas".
É claro, aí, o sentido de obra,
sem a inclusão das fases de planejamento e projeto que, em tal
estágio, foram deixados aos milhares pelos governos precedentes e Lula não convocaria os
seus ministérios a concluí-los.
A interpretação da AGU vai
tão longe, que dá a volta em si
mesma e entra outra vez na
AGU do governo passado. Mas,
se começou a fazê-lo na questão dos desaparecidos do Araguaia, não precisava chegar ao
comprometimento com tamanha imoralidade eleitoral. Ou
melhor, anti-eleitoral.
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