São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2004

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Em discurso, Dirceu cita projetos que não saíram do papel

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao apresentar ontem, por uma hora e 20 minutos, um balanço de 18 meses da gestão Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro José Dirceu (Casa Civil) tentou mostrar um quadro favorável do governo, citando, em alguns casos, projetos que não saíram do papel, outros que dependem de verba suplementar e até atualizou dados já destacados na prestação de contas de um ano.
A fala de Dirceu foi baseada em revista editada pela Secretaria de Comunicação de Governo e que será distribuída em todo o país. A publicação "18 meses, o Brasil está mudando" diz, por exemplo, que o "desafio de não aumentar impostos também está sendo alcançado". Ocorre que no primeiro ano de governo Lula, a carga tributária teve alta de 35,52% para 35,68% do PIB.
Foram impressos 100 mil exemplares da revista, a um custo de R$ 327 mil, assim como nas duas primeiras edições.
Entre os programas que não saíram do papel estão, por exemplo, a Política Nacional de Saneamento Ambiental e o Marco Regulatório do setor (em discussão no Ministério das Cidades) e o Programa Universidade para Todos, que tramita no Congresso.
O Bolsa-Família, programa unificado de renda -que depende de verba suplementar para atingir a meta do ano-, teve seus dados atualizados. Em dezembro, o governo destacou ter atingido a meta de 3,6 milhões de famílias. Ontem lembrou que mais de 4 milhões receberam o benefício.
Com o ministro Antonio Palocci (Fazenda) na primeira fileira, Dirceu começou o discurso enaltecendo a retomada do crescimento do PIB (1,6% no primeiro trimestre deste ano em relação aos três meses anteriores), a "recuperação industrial" e o agronegócio.
Por duas vezes disse que o governo "não rouba e não deixa roubar", sem citar as investigações do caso Waldomiro Diniz, ex-subchefe de Assuntos Parlamentares do Planalto, próximo ao ministro, que apareceu em vídeo de 2002 pedindo propina a um empresário de jogos.
Dirceu acrescentou que o governo "leva para a cadeia quem rouba", mas admitiu que ainda vive "instabilidade". Também repetiu que o governo poderia ter feito mais se não fosse a herança de FHC (1995-2002).
Ao deixar Dirceu fazer o balanço do governo, Lula quis demonstrar a força do ministro, que tenta recuperar o prestígio pós-caso Waldomiro.
O ministro passou o discurso elogiando Lula. Falou da "liderança" internacional e na "coragem" e na "audácia" ao convidar a sociedade para participar de seu governo.
A atenção não foi unânime na platéia. O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), a todo o momento olhava para trás para conversar com outros parlamentares. O presidente do BNDES, Carlos Lessa, passou todo o discurso lendo texto que levou no bolso. (EDUARDO SCOLESE e LUCIANA CONSTANTINO)

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