São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2005

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O DIA DA CPI

Ação da Abin em estatal parou em diretoria do PT, diz agente

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento à CPI dos Correios, o agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Edgard Lange disse ontem que o órgão investigou, neste ano, indícios de corrupção na estatal e que a operação teria sido suspensa quando se aproximava da diretoria de tecnologia, ocupada pelo PT. Ele ressaltou, no entanto, que a única técnica de obtenção de informações adotada foi a de entrevistas, não sendo utilizados grampos.
O escândalo dos Correios teve início com a divulgação de um vídeo em que o ex-chefe de departamento Maurício Marinho aparece recebendo propina para favorecer empresas em licitações. O funcionário afirma na conversa que agia em consonância com o então presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ).
Segundo Lange, a Abin autorizou a "produção de conhecimentos" sobre os Correios no dia 5 de abril deste ano e que as atividades foram suspensas, por determinação do ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Jorge Armando Félix, no dia 17 de maio.
"Confesso que no dia 16, quando fizemos o último documento, estávamos nos aproximando dessa área [tecnologia] e recebemos a ordem para parar, por determinação do ministro", disse, ao responder pergunta do relator, Osmar Serraglio (PMDB-PR).
O relator queria saber se a diretoria de tecnologia, que possui o maior orçamento, foi investigada pela agência. Esse cargo é ocupado por Eduardo Medeiros, indicado por Silvio Pereira, secretário-geral do PT licenciado.
Lange disse ainda que recebeu a ordem para suspender a investigação um dia após receber o vídeo que gerou o escândalo. Jefferson teria encaminhado ao GSI a fita, em 16 de maio, pedindo a identificação do autor da gravação.
A operação da Abin na estatal foi motivada, de acordo com Lange, por uma denúncia anônima recebida pelo diretor-geral da agência, Mauro Marcelo de Lima e Silva. No documento estariam relacionados servidores e empresas fornecedoras que estariam envolvidas em irregularidades. Marinho não faria parte desta lista.
Alegando que as informações obtidas nos Correios têm caráter sigiloso, Lange não quis dar detalhes sobre a investigação, mas disse que o general Félix autorizou que os 16 relatórios produzidos por ele sobre o assunto sejam colocados à disposição da CPI, desde que não sejam divulgados.
O agente afirmou que não identificou participação política nas supostas irregularidades existentes nos Correios, mas ressaltou que as investigações não foram concluídas. "Era uma briga empresarial, por espaço", disse.
Uma das principais fontes de Lange na operação, diz ele, foi o ex-agente do SNI (Serviço Nacional de Informação) José Fortuna Santos Neves. Ele possui uma empresa chamada Atrium que estaria sendo prejudicada nas licitações realizadas pela estatal.
No terceiro depoimento da CPI ontem, Fortuna negou que tivesse qualquer envolvimento com a gravação da fita e afirmou que Jefferson mentiu ao acusá-lo de tentativa de extorsão com o vídeo. Além disso, disse que só tem ligação com o caso por meio do agente da Abin, Edgard Lange.


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