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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Nanicos ganham segundos de fama no "Jornal Nacional"
Eymael e Bivar usam figurantes para simular "movimento eleitoral" em gravações
Cinegrafista da TV orienta
pessoas para assegurar a
naturalidade da cena: "Não
olha para a câmera, amigo,
conversa com o candidato"
MICHELE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em duas horas de coquetel,
apenas 30 segundos são relevantes na inauguração do comitê do candidato à Presidência da República Luciano Bivar
(Partido Social Liberal) -aqueles que a Globo gravou para levar ao ar no "Jornal Nacional".
Para que esses instantes pareçam bem naturais, o candidato-traço (0% de intenções de
voto no último Datafolha) tem
de contar com figurantes que
produzam uma espécie de "movimento eleitoral" atrás dele.
"Nosso voto é muito de opinião", diz Bivar, 61, sem apontar nenhum exemplo no local.
Moças contratadas para balançar bandeiras amarelas e
azuis se misturam a correligionários de outras praças que estendem cartões de apresentação à reportagem, enquanto esticam o pescoço em busca de
uma nesga de lente global.
O mesmo esforço de "movimento eleitoral" está presente
na campanha do presidenciável
José Maria Eymael (Partido
Social Democrata Cristão), 1%
no Datafolha. Suas caminhadas
da última semana foram acompanhadas por sete bandeiras,
também amarelas e azuis. Enquanto na terça-feira elas eram
agitadas na zona norte da capital por parentes e amigos de
candidatos do partido, na quarta, desempregados contratados
por R$ 10 por meia hora faziam
o serviço no centro da cidade.
Eymael, 66, que tenta pela
segunda vez chegar ao Planalto,
tem uma equipe de 30 pessoas.
Um desses assessores tem, entre outras missões, a de recrutar pessoas na rua para Eymael
cumprimentar. "Dá um abraço
no candidato", diz. Em seguida,
o democrata cristão dispara
frases como: "Aperta a mão do
Eymael, campeão" e "Vamos
juntos ganhar a Presidência".
Tudo sob as lentes das câmeras
-que não são muitas. Na terça,
além da Globo, as emissoras
RIT e Record gravaram o candidato. No dia seguinte, só a
Globo filmou sua caminhada.
Apesar do espaço diário nos
telejornais globais e do eterno
jingle ("Ey-Ey-Eymael, um democrata cristão"), poucos o reconhecem. A reportagem ouviu, em dois dias, três passantes
confundi-lo com "aquele do aerotrem" -Levy Fidelix (PRTB).
"Não olha para a câmera"
A situação de Eymael e Bivar
é muito melhor do que a de Rui
Costa Pimenta (PCO), que,
apesar de ter 1%, não tem direito a cobertura com imagens.
Ele está de fora por seu partido
não ter eleito nenhum deputado federal em 2002.
Já Cristovam Buarque, igualmente com 1%, recebe os mesmos segundos na TV que Luiz
Inácio Lula da Silva, Geraldo
Alckmin e Heloísa Helena. Segundo a Globo, a exposição de
Cristovam se justifica pelo PDT
ter 21 deputados na Câmara.
A cobertura dos nanicos provoca situações inusitadas. No
comitê inaugurado de Bivar, na
terça, o cinegrafista deu uma
bronca: "Não olha para a câmera, amigo, conversa com o candidato", orientou a um emergente que quase colocou toda a
espontaneidade do momento a
perder. No dia seguinte, foi a
vez de Eymael cobrar agilidade
da equipe da Globo. Ao se despedir do repórter da emissora,
disse: "Vamos, para dar tempo,
né". A intenção do candidato
era se ver no "Jornal Hoje".
Nos eventos de campanha,
perguntas são respondidas com
muitas respostas repetidas. Bivar martela sobre o imposto
único. "Qual a sua proposta?".
Resposta: "O imposto único,
que substitui os dez existentes
e vai resolver o problema de
mais de 50 milhões de pessoas
que vivem na marginalidade".
Após a entrevista, deixou o
comitê em sua Mercedes Benz
CLS 500 (R$ 396 mil; R$ 15 mil
de IPVA). Ele é o candidato a
presidente mais rico: seu patrimônio é de R$ 8,775 milhões.
Eymael tem uma única frase
sobre o escândalo dos sanguessugas: "Para mim, para a democracia cristã, todo político corrupto, marginal, é um serial killer, é um assassino em série, é
um matador em atacado".
Eymael diz que a sua candidatura tem o objetivo de chegar
ao segundo turno. "O sr. acha
que é possível?", diz a Folha.
"Veja: até há alguns dias atrás
eu não tinha nenhuma mídia,
zero de mídia. E, mesmo sem
mídia, nós já temos 1%."
Perguntado se ele estava fazendo campanha somente para
aparecer na TV, Eymael responde: "A minha vida inteira a
minha maneira de fazer política sempre foi muito próxima
com as pessoas".
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