|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Conselho de Ética aprova pedido para cassar Renan
Plenário do Senado vai decidir se o presidente da Casa mantém seu mandato
Relatório passa também na CCJ; aliado menciona
chance de acordo em que Renan seria absolvido e
renunciaria à presidência
FERNANDA KRAKOVICS
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de três meses de trabalho e uma série de manobras
protelatórias, o Conselho de
Ética aprovou ontem, por 11 a 4,
em votação aberta, a cassação
do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), por
quebra de decoro. Em tramitação relâmpago, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça)
confirmou a decisão. Renan deverá ser julgado pelo plenário
na próxima quarta-feira.
Na reta final, Renan e seus
aliados mudaram de estratégia
e resolveram acelerar o desfecho do caso porque confiam na
absolvição em plenário, onde a
votação será secreta. O crescente desgaste político e o acúmulo de denúncias poderiam
diminuir seu apoio na Casa.
Na CCJ, o relator foi o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que concluiu pela inexistência de ilegalidades no processo. O único a votar contra foi
Wellington Salgado (PMDB-MG) e o placar foi 20 a 1. Nessa
instância, os senadores apreciam somente se o processo está de acordo com a Constituição e não discutem o mérito.
Aliados de Renan tentaram
minimizar a derrota e afirmaram que o resultado será revertido no plenário. "Não é referência para o plenário", disse
Almeida Lima (PMDB-SE), que
foi um dos relatores do caso e
pediu a absolvição de Renan.
O senador passou o dia recluso. Mas ao menos um aliado
trouxe à tona ontem uma antiga possibilidade, de ele "trocar"
a presidência da Casa por um
acordo para ser absolvido no
plenário. Integrante do Conselho de Ética, o senador Gilvan
Borges (PMDB-AP) afirmou:
"De repente isso pode demover
obstáculos em relação a alguns,
porque o grande embate foi a
questão de ele se afastar ou não
da presidência. Talvez este seja
um fato novo que ele possa
apresentar". Borges é aliado de
José Sarney (PMDB-AP), principal conselheiro de Renan.
Senadores que votaram pela
cassação no conselho admitem
que terão dificuldade para repetir a vitória no plenário. "Tenho minhas dúvidas porque lá é
o voto da covardia", disse Jefferson Péres (PDT-AM).
Apesar de o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ter manifestado apoio a Renan durante
o processo, o PT votou unido
pela cassação no conselho.
"Transmito ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, que no último sábado nos transmitiu como a ética é importante, que
minha decisão reflete isso que é
tão caro à história do Partido
dos Trabalhadores", afirmou o
senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Ele se referia ao discurso
de Lula no congresso do PT.
A surpresa foi o voto do senador João Pedro (PT-AM). Ele
havia se alinhado à tropa de
choque de Renan na defesa da
votação secreta. Mas como a
decisão foi às claras, não quis
ser o único do PT e de seu Estado a votar pela absolvição.
O Planalto não quer turbulência no Senado, onde possui
uma maioria apertada, e preferia não ver aberta uma disputa
pela presidência da Casa. Para
ser aprovado em plenário, o pedido de cassação precisa do
apoio de ao menos 41 dos 81 senadores (maioria simples).
Os senadores do DEM e do
PSDB que integram o conselho
apoiaram em bloco a perda do
mandato de Renan, assim como os do PMDB pediram o arquivamento da denúncia. É a
primeira vez que um presidente do Senado enfrenta processo
de cassação -Jader Barbalho
(PMDB-PA) renunciou antes.
Renan é acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista da empreiteira Mendes
Júnior. Ele ainda enfrentará
outros dois julgamentos no
conselho por quebra de decoro:
teria beneficiado a cervejaria
Schincariol em troca de vantagens pessoais e teria comprado
empresas de comunicação, por
meio de "laranjas", com dinheiro de origem desconhecida.
A cassação foi recomendada
pelos relatores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS). Eles afirmaram que Renan não conseguiu
provar que pagava com recursos próprios uma pensão alimentícia de R$ 12 mil à jornalista Mônica Veloso. Também
disseram que o presidente do
Senado mentiu em sua defesa.
Num último esforço, Wellington Salgado apresentou ontem no conselho um relatório
alternativo pedindo o arquivamento da denúncia. Ele rebateu acusações sustentadas por
Casagrande e Marisa.
"Se mentir ao conselho é
quebrar o decoro, indago-me se
a quebra de decoro não partiu
da própria relatoria nesse caso", afirmou Salgado, que também acusou os relatores de
"deslealdade". Ele rechaçou,
por exemplo, que a amizade de
Renan e o lobista Cláudio Gontijo configurasse quebra de decoro e afirmou o senador tinha
dinheiro para pagar a pensão.
Os termos utilizados por Salgado desagradaram sobretudo
a relatores do caso. "Quando a
gente faz um relatório não pode
ser visto como deslealdade
nem mentira", disse Marisa.
"Pode ser que sejamos duros
em nosso relatório, desleais
nunca", afirmou Casagrande.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Sessão do conselho transcorre sem gritos Índice
|