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SÃO PAULO
Cruzamento de desempenho tucano neste ano com série histórica de votações na cidade mostra expansão do PSDB rumo à periferia
Serra derrota Marta em sete redutos petistas
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
Está no avanço do PSDB rumo à
periferia da capital a explicação
para os quase oito pontos de vantagem que José Serra impôs à petista Marta Suplicy no primeiro
turno das eleições municipais.
Um cruzamento do mapa eleitoral da cidade com o resultado de
eleições anteriores mostra que os
tucanos venceram a cápsula do
centro-oeste, tomaram uma área
historicamente dividida, engoliram o eleitorado malufista e bateram o PT inclusive em sete redutos da legenda (veja quadro).
A identificação dos redutos foi
feita em uma pesquisa do Centro
de Estudos da Metrópole do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise
e Pesquisa) a partir do resultado
de quatro eleições. Indicam as regiões nas quais as legendas tiveram índices de votação superiores
aos de suas médias na cidade.
O fenômeno, porém, não se repetiu agora. Na capital, Marta teve
35,82% dos votos válidos. Nas zonas eleitorais dos redutos perdidos, variou de 25,99% a 34,12%.
"Esse crescimento de Serra pode ser creditado ao trabalho de vereadores ou ao papel localizado
de políticos ligados ao Estado e o
PSDB ", avalia Emmanuel Publio
Dias, consultor político e professor da ESPM (Escola Superior de
Propaganda e Marketing).
É também no que acredita o vereador Toninho Paiva (PL), o
mais votado nos redutos petistas
perdidos na zona leste. "O PT desagradou segmentos que formam
a opinião local e que eram a alavanca do partido, como a educação e a igreja", diz Paiva. "Os adversários foram no vácuo."
O vereador cita como exemplo a
campanha do advogado Adolfo
Quintas. Eleito vereador para a
12ª vaga conquistada pelo PSDB,
ele teve 20.908 votos na cidade
-10.375 deles em Ermelino. Lá,
integra uma associação de trabalhos comunitários, com estreita ligação com as paróquias locais.
Rumo ao centro
Na opinião de Paiva, o PT não
reconheceu essa força eleitoral do
voto local. "Até hoje não consegui
me reunir nem com o presidente
do meu partido para tratar disso
[da atuação na campanha de
Marta]. Agora, para virar o jogo, a
cúpula precisa de influência no
corpo-a-corpo. Fica este apelo."
Pelo mapa eleitoral, a saída seria, agora, fazer o caminho inverso ao de Serra e avançar para o
centro-oeste, a região mais rica.
É uma questão numérica. Nas
14 regiões em que Marta bateu o
tucano, 2,6 milhões pessoas escolheram algum candidato. Delas,
só 479 mil não votaram nem em
Marta nem em Serra -283 mil
escolheram Paulo Maluf (PP).
Isso significa que mesmo que
todas migrem para a candidatura
petista mal será suficiente para
superar os votos que o tucano obteve já no primeiro turno, quando
a diferença entre os dois foi de 477
mil votos em toda a cidade.
Resta a Marta, portanto, correr
atrás dos 772.501 votos que não
foram nem para ela nem para o
PSDB nas 27 zonas eleitorais em
que Serra venceu -e onde a rejeição à prefeita também é maior.
Para Publio Dias, a tarefa de
Marta é complicada: "O eleitor de
centro-esquerda dessa área, sensível à periferia, já foi agregado."
Um dos discursos que podem
encontrar eco no eleitorado mais
central é o "antes e depois" da gestão Marta, segundo Chico Malfitani, ex-marqueteiro petista e responsável pela campanha vitoriosa
de William Dib (PSB) contra o PT
em São Bernardo do Campo.
O problema é que não é estratégico repisar a "herança maldita"
de Maluf, sob o risco de perder os
já reticentes malufistas órfãos.
"O próprio Duda [Mendonça,
ex-marqueteiro de Maluf, hoje na
campanha da prefeita] encucou
durante anos um antipetismo nos
malufistas", diz Malfitani.
A opção de Marta seria, então,
apostar no discurso da continuidade: "Ela pode citar a revitalização do centro, a Faria Lima, os túneis. Ainda assim, pode vestir um
santo e descobrir o outro".
CEUs e programas sociais
É arriscado, mas há indícios de
que as realizações do governo podem ser bons cabos eleitorais.
Marta venceu Serra, por exemplo,
na área de influência de 19 dos 21
CEUs da cidade.
Instalados em áreas de extrema
exclusão -tradicionais redutos
petistas-, os escolões foram
equipados com coisas que antes
não se via na periferia -teatro,
piscina, centro de informática-,
valorizaram imóveis do entorno,
levaram infra-estrutura às regiões
e até algum status aos alunos.
Uma análise do desempenho de
Marta em 2000 e em 2004 mostra
que, de fato, ela cresceu mais
-ou deixou de perder- também nessas regiões, alvo de uma
segunda bandeira da administração petistas: os programas sociais.
O cenário dos programas, porém, é cheio de contradições.
Com 316.801 atendidos, eles são
os maiores do país, mas não chegaram nem às 589.057 famílias
cujos chefes têm renda inferior a
um salário mínimo e meio.
Injetam, a cada mês, R$ 13 milhões em famílias carentes, mas se
todas tivessem recebido ajuda
ininterrupta não ganhariam mais
de R$ 50 por mês, numa cidade
onde consumir as 2.280 calorias
diárias custa R$ 80, segundo a Organização Mundial da Saúde.
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