São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2004

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SÃO PAULO

Cruzamento de desempenho tucano neste ano com série histórica de votações na cidade mostra expansão do PSDB rumo à periferia

Serra derrota Marta em sete redutos petistas

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

Está no avanço do PSDB rumo à periferia da capital a explicação para os quase oito pontos de vantagem que José Serra impôs à petista Marta Suplicy no primeiro turno das eleições municipais.
Um cruzamento do mapa eleitoral da cidade com o resultado de eleições anteriores mostra que os tucanos venceram a cápsula do centro-oeste, tomaram uma área historicamente dividida, engoliram o eleitorado malufista e bateram o PT inclusive em sete redutos da legenda (veja quadro).
A identificação dos redutos foi feita em uma pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Pesquisa) a partir do resultado de quatro eleições. Indicam as regiões nas quais as legendas tiveram índices de votação superiores aos de suas médias na cidade.
O fenômeno, porém, não se repetiu agora. Na capital, Marta teve 35,82% dos votos válidos. Nas zonas eleitorais dos redutos perdidos, variou de 25,99% a 34,12%.
"Esse crescimento de Serra pode ser creditado ao trabalho de vereadores ou ao papel localizado de políticos ligados ao Estado e o PSDB ", avalia Emmanuel Publio Dias, consultor político e professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
É também no que acredita o vereador Toninho Paiva (PL), o mais votado nos redutos petistas perdidos na zona leste. "O PT desagradou segmentos que formam a opinião local e que eram a alavanca do partido, como a educação e a igreja", diz Paiva. "Os adversários foram no vácuo."
O vereador cita como exemplo a campanha do advogado Adolfo Quintas. Eleito vereador para a 12ª vaga conquistada pelo PSDB, ele teve 20.908 votos na cidade -10.375 deles em Ermelino. Lá, integra uma associação de trabalhos comunitários, com estreita ligação com as paróquias locais.

Rumo ao centro
Na opinião de Paiva, o PT não reconheceu essa força eleitoral do voto local. "Até hoje não consegui me reunir nem com o presidente do meu partido para tratar disso [da atuação na campanha de Marta]. Agora, para virar o jogo, a cúpula precisa de influência no corpo-a-corpo. Fica este apelo."
Pelo mapa eleitoral, a saída seria, agora, fazer o caminho inverso ao de Serra e avançar para o centro-oeste, a região mais rica.
É uma questão numérica. Nas 14 regiões em que Marta bateu o tucano, 2,6 milhões pessoas escolheram algum candidato. Delas, só 479 mil não votaram nem em Marta nem em Serra -283 mil escolheram Paulo Maluf (PP).
Isso significa que mesmo que todas migrem para a candidatura petista mal será suficiente para superar os votos que o tucano obteve já no primeiro turno, quando a diferença entre os dois foi de 477 mil votos em toda a cidade.
Resta a Marta, portanto, correr atrás dos 772.501 votos que não foram nem para ela nem para o PSDB nas 27 zonas eleitorais em que Serra venceu -e onde a rejeição à prefeita também é maior.
Para Publio Dias, a tarefa de Marta é complicada: "O eleitor de centro-esquerda dessa área, sensível à periferia, já foi agregado."
Um dos discursos que podem encontrar eco no eleitorado mais central é o "antes e depois" da gestão Marta, segundo Chico Malfitani, ex-marqueteiro petista e responsável pela campanha vitoriosa de William Dib (PSB) contra o PT em São Bernardo do Campo.
O problema é que não é estratégico repisar a "herança maldita" de Maluf, sob o risco de perder os já reticentes malufistas órfãos.
"O próprio Duda [Mendonça, ex-marqueteiro de Maluf, hoje na campanha da prefeita] encucou durante anos um antipetismo nos malufistas", diz Malfitani.
A opção de Marta seria, então, apostar no discurso da continuidade: "Ela pode citar a revitalização do centro, a Faria Lima, os túneis. Ainda assim, pode vestir um santo e descobrir o outro".

CEUs e programas sociais
É arriscado, mas há indícios de que as realizações do governo podem ser bons cabos eleitorais. Marta venceu Serra, por exemplo, na área de influência de 19 dos 21 CEUs da cidade.
Instalados em áreas de extrema exclusão -tradicionais redutos petistas-, os escolões foram equipados com coisas que antes não se via na periferia -teatro, piscina, centro de informática-, valorizaram imóveis do entorno, levaram infra-estrutura às regiões e até algum status aos alunos.
Uma análise do desempenho de Marta em 2000 e em 2004 mostra que, de fato, ela cresceu mais -ou deixou de perder- também nessas regiões, alvo de uma segunda bandeira da administração petistas: os programas sociais.
O cenário dos programas, porém, é cheio de contradições. Com 316.801 atendidos, eles são os maiores do país, mas não chegaram nem às 589.057 famílias cujos chefes têm renda inferior a um salário mínimo e meio.
Injetam, a cada mês, R$ 13 milhões em famílias carentes, mas se todas tivessem recebido ajuda ininterrupta não ganhariam mais de R$ 50 por mês, numa cidade onde consumir as 2.280 calorias diárias custa R$ 80, segundo a Organização Mundial da Saúde.


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