São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2008

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Exército não combate "currais eleitorais" no dia mais importante

Militares ficam apenas próximos aos locais de votação; presidente do TRE diz que as eleições foram "tranqüilas"

Candidato suspeito de ter ligações com o tráfico atua livremente na Rocinha; soldados atingem 2 homens com balas de borracha


RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de atuar sem incidentes na Operação Guanabara desde 11 de setembro, o Exército não conseguiu, justamente no dia das eleições, atuar eficientemente nos "currais eleitorais". As tropas não entraram nas favelas do Rio de Janeiro ontem, ficando apenas próximas aos postos de votação.
Sem repressão, a boca-de-urna irregular aconteceu de forma ostensiva nas comunidades, muitas vezes diante dos soldados, que prenderam apenas duas pessoas no Rio, na Cidade de Deus (zona oeste). Nessa comunidade, dois professores de jiu-jítsu se desentenderam com militares e foram atingidos por balas de borracha (um no abdome e outro na mão). O estado deles era estável no início da noite.
Na Rocinha, um pequeno grupo de militares não impediu que centenas de cabos eleitorais do candidato a vereador Claudinho da Academia (PSDC) distribuíssem camisetas amarelas (cor usada pelo candidato) e montassem postos com mesas e cadeiras nas ruas, indicando a eleitores seus locais de votação.
O candidato é presidente da associação de moradores e suspeito de ligações com o tráfico de drogas local, o que motivou a presença do Exército durante a campanha. Correligionários de Claudinho intimidaram pelo menos dois fotógrafos e quatro repórteres, inclusive a equipe da Folha.
"Qual é, meu bom, trabalha onde, está querendo o quê?", perguntou um homem à reportagem. Outro, de camiseta amarela, tentou, aos gritos, impedir que o fotógrafo do jornal tirasse fotos e depois quis forçá-lo a mostrar as imagens.
No Complexo do Alemão, sem nenhuma presença do Exército ou da Polícia Militar nos acessos das comunidades, centenas de pessoas entregavam santinhos, logo atirados às ruas, tomadas de propaganda.
Segundo o porta-voz do Exército, coronel André Luis Novaes, os locais de presença dos militares foram determinados pela Justiça Eleitoral. O presidente em exercício do TRE, Alberto Motta Moraes, disse que o episódio da Cidade de Deus e tiroteios que ocorreram em outros pontos da cidade não tiveram relação com as eleições, que considerou "tranqüilas, como há anos não se via no Rio". Para ele, seria "positivo" que o Exército permanecesse no segundo turno.
Sua principal queixa foi em relação à "imundice" da cidade, constatada em três sobrevôos de helicóptero.
Mais de 200 pessoas foram detidas em todo o Estado por prática de boca-de-urna, compra de votos, transporte ilegal de eleitores ou outros crimes eleitorais. A maioria dos casos aconteceu em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Cerca de cem pessoas foram flagradas fazendo boca-de-urna em favor do candidato à reeleição Washington Reis (PMDB) e levadas para a 59ª DP (Duque de Caxias).
Na capital, um candidato a vereador, Luiz Carlos Ramos (PSDB), foi detido.


Com Sucursal do Rio e Colaboração para a Folha , no Rio


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