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Exército não combate "currais eleitorais" no dia mais importante
Militares ficam apenas próximos aos locais de votação; presidente do TRE diz que as eleições foram "tranqüilas"
Candidato suspeito de ter ligações com o tráfico atua livremente na Rocinha; soldados atingem 2 homens com balas de borracha
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Depois de atuar sem incidentes na Operação Guanabara
desde 11 de setembro, o Exército não conseguiu, justamente
no dia das eleições, atuar eficientemente nos "currais eleitorais". As tropas não entraram
nas favelas do Rio de Janeiro
ontem, ficando apenas próximas aos postos de votação.
Sem repressão, a boca-de-urna irregular aconteceu de forma ostensiva nas comunidades,
muitas vezes diante dos soldados, que prenderam apenas
duas pessoas no Rio, na Cidade
de Deus (zona oeste). Nessa comunidade, dois professores de
jiu-jítsu se desentenderam
com militares e foram atingidos por balas de borracha (um
no abdome e outro na mão). O
estado deles era estável no início da noite.
Na Rocinha, um pequeno
grupo de militares não impediu
que centenas de cabos eleitorais do candidato a vereador
Claudinho da Academia
(PSDC) distribuíssem camisetas amarelas (cor usada pelo
candidato) e montassem postos com mesas e cadeiras nas
ruas, indicando a eleitores seus
locais de votação.
O candidato é presidente da
associação de moradores e suspeito de ligações com o tráfico
de drogas local, o que motivou a
presença do Exército durante a
campanha. Correligionários de
Claudinho intimidaram pelo
menos dois fotógrafos e quatro
repórteres, inclusive a equipe
da Folha.
"Qual é, meu bom, trabalha
onde, está querendo o quê?",
perguntou um homem à reportagem. Outro, de camiseta
amarela, tentou, aos gritos, impedir que o fotógrafo do jornal
tirasse fotos e depois quis forçá-lo a mostrar as imagens.
No Complexo do Alemão,
sem nenhuma presença do
Exército ou da Polícia Militar
nos acessos das comunidades,
centenas de pessoas entregavam santinhos, logo atirados às
ruas, tomadas de propaganda.
Segundo o porta-voz do
Exército, coronel André Luis
Novaes, os locais de presença
dos militares foram determinados pela Justiça Eleitoral.
O presidente em exercício do
TRE, Alberto Motta Moraes,
disse que o episódio da Cidade
de Deus e tiroteios que ocorreram em outros pontos da cidade não tiveram relação com as
eleições, que considerou "tranqüilas, como há anos não se via
no Rio". Para ele, seria "positivo" que o Exército permanecesse no segundo turno.
Sua principal queixa foi em
relação à "imundice" da cidade,
constatada em três sobrevôos
de helicóptero.
Mais de 200 pessoas foram
detidas em todo o Estado por
prática de boca-de-urna, compra de votos, transporte ilegal
de eleitores ou outros crimes
eleitorais. A maioria dos casos
aconteceu em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Cerca de cem pessoas foram
flagradas fazendo boca-de-urna em favor do candidato à reeleição Washington Reis
(PMDB) e levadas para a 59ª
DP (Duque de Caxias).
Na capital, um candidato a
vereador, Luiz Carlos Ramos
(PSDB), foi detido.
Com Sucursal do Rio e Colaboração para a
Folha , no Rio
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