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General diz que debate distorce os fatos
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
O general reformado Carlos
Meira Mattos, 90, sub de Ernesto
Geisel quando ele ocupava a chefia do Gabinete Militar do governo Humberto Castello Branco
(1964-67), afirmou que o conteúdo das fitas divulgadas no livro de
Elio Gaspari está sendo distorcido
por uma má interpretação:
"Quando você diz que quer matar
alguém não quer dizer que realmente vá matar essa pessoa".
Segundo ele, dizer que Geisel
permitia a tortura é um "despropósito, pois ele era contra qualquer tipo de violência".
Para a pesquisadora Maria Celina D'Araújo, do CPDoc (Centro
de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea) da
FGV (Fundação Getúlio Vargas),
apesar de Geisel ter tentado enquadrar as forças de repressão
dentro de uma linha de comando,
o "baixo clero" -sargentos, capitães e oficiais reformados- continuou a fazer "terrorismo de direita". D'Araújo, autora do livro
"Geisel, Depoimentos", em parceria com o pesquisador Celso de
Castro, disse que alguns trechos
das fitas trazem informações inéditas e paradoxais.
"Ele começou o processo de
abertura ao mesmo tempo em
que foi o primeiro presidente do
regime a explicitar verbalmente a
questão da tortura e do assassinato. Além disso, preocupou-se em
deixar registradas as conversas."
O general reformado Newton
Cruz, 79, disse ontem que tinha
"resquícios ditatoriais" e era
"omisso" diante das denúncias de
tortura. Cruz foi chefe da Agência
Central do SNI (Serviço Nacional
de Informações) entre 74 e 76.
"Houve muita omissão em face
da tortura, mas não houve incentivo. Que houve tortura, só um estúpido diria que não houve, mas
houve dos dois lados", afirmou.
Para ele, a mentalidade dos militares era a de que havia uma revolução em curso. "Nós de um lado. De outro, os inimigos."
Essa filosofia de combate teria
surgido durante o governo Costa
e Silva, quando a chamada linha-dura do regime militar começou a
imperar, disse o general.
Para Cruz, Geisel assumiu acreditando que poderia resgatar a
mentalidade de tolerância do governo do general Castello Branco:
"Mas o quadro era bem diferente". Cruz afirmou também duvidar que Geisel soubesse que estava sendo gravado.
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