UOL

São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

General diz que debate distorce os fatos

FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

O general reformado Carlos Meira Mattos, 90, sub de Ernesto Geisel quando ele ocupava a chefia do Gabinete Militar do governo Humberto Castello Branco (1964-67), afirmou que o conteúdo das fitas divulgadas no livro de Elio Gaspari está sendo distorcido por uma má interpretação: "Quando você diz que quer matar alguém não quer dizer que realmente vá matar essa pessoa".
Segundo ele, dizer que Geisel permitia a tortura é um "despropósito, pois ele era contra qualquer tipo de violência".
Para a pesquisadora Maria Celina D'Araújo, do CPDoc (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), apesar de Geisel ter tentado enquadrar as forças de repressão dentro de uma linha de comando, o "baixo clero" -sargentos, capitães e oficiais reformados- continuou a fazer "terrorismo de direita". D'Araújo, autora do livro "Geisel, Depoimentos", em parceria com o pesquisador Celso de Castro, disse que alguns trechos das fitas trazem informações inéditas e paradoxais.
"Ele começou o processo de abertura ao mesmo tempo em que foi o primeiro presidente do regime a explicitar verbalmente a questão da tortura e do assassinato. Além disso, preocupou-se em deixar registradas as conversas."
O general reformado Newton Cruz, 79, disse ontem que tinha "resquícios ditatoriais" e era "omisso" diante das denúncias de tortura. Cruz foi chefe da Agência Central do SNI (Serviço Nacional de Informações) entre 74 e 76.
"Houve muita omissão em face da tortura, mas não houve incentivo. Que houve tortura, só um estúpido diria que não houve, mas houve dos dois lados", afirmou.
Para ele, a mentalidade dos militares era a de que havia uma revolução em curso. "Nós de um lado. De outro, os inimigos."
Essa filosofia de combate teria surgido durante o governo Costa e Silva, quando a chamada linha-dura do regime militar começou a imperar, disse o general.
Para Cruz, Geisel assumiu acreditando que poderia resgatar a mentalidade de tolerância do governo do general Castello Branco: "Mas o quadro era bem diferente". Cruz afirmou também duvidar que Geisel soubesse que estava sendo gravado.


Texto Anterior: Impacto do livro é muito forte, afirma Nilmário
Próximo Texto: De 2002 a 2004: CUT e Força trocam farpas no Senado
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.