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São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2003

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DE 2002 A 2004

Suposto dossiê feito por petistas desvia debate sobre reforma sindical

CUT e Força trocam farpas no Senado

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em ação orquestrada com a Força Sindical, a oposição conseguiu desviar ontem o assunto da audiência pública realizada na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, cujo tema era a reforma sindical, e explorou denúncia de que integrantes da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no ano passado, teriam montado uma blindagem em torno do petista distribuindo dossiês contra seus adversários.
Um dos atingidos teria sido o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que era vice do candidato Ciro Gomes (PPS), segundo matéria publicada pela revista "Veja".
"Saí da eleição como bandido. Estou perplexo porque achei que era coisa de outro candidato [José Serra, PSDB]. Tem até denúncia de assalto a banco. Entrei com ação no Ministério Público Federal para esclarecer esses fatos", disse Paulinho. Ele se refere à retirada de documentos do cofre da sede paulista do Banco do Brasil, com informações contra o economista Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-caixa das campanhas tucanas e ex-diretor do BB.
Preocupado com o desempenho de Ciro nas pesquisas, o grupo petista teria vazado denúncias de desvio de recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) por Paulinho, além de suposto superfaturamento na venda de uma fazenda para uma associação de trabalhadores rurais.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que vai pedir a abertura de uma CPI para investigar o caso. Ele já teria 25 das 27 assinaturas necessárias.
Além de Paulinho, participava da audiência pública ontem um representante da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Carlos Alberto Grana, que na época da campanha era secretário-geral da central. Grana seria responsável pela logística do grupo petista.
"Não participei de nenhum bunker. Minha participação foi pública, organizava comícios. Nenhum dirigente da CUT esteve envolvido em atividades subterrâneas de campanha", afirmou.
Paulinho disse que, enquanto ele estava "com toda a inocência, tinha gente atrás com arapongagem". "Agora estou atento, se eles colocarem gravador na mesa, também coloco".
Grana respondeu que a relação da CUT com a Força "sempre foi de certa desconfiança".
Quando as denúncias vieram à tona, o presidente da Força Sindical anunciou sua saída do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social). Nesta semana, porém, indicou um representante para substituí-lo, João Carlos Gonçalves, o Juruna.
"A Força se reuniu, e a gente resolveu reconsiderar, atendendo a um apelo do ministro Tarso Genro [CDES]. Não consigo mais me sentir um conselheiro do presidente Lula, então indiquei um representante", disse Paulinho.
Senadores do PFL e do PSDB, em vez de fazerem perguntas relativas à reforma sindical, pediam explicações sobre o suposto esquema montado para proteger a candidatura do presidente Lula, fomentando reclamações dos petistas presentes. Paulinho chegou a mostrar revistas da época com sua foto estampada na capa devido às acusações.

"Pilha"
"Não vamos ficar colocando pilha nesse assunto. Consideramos que ele está encerrado", disse Grana, durante a audiência. Tanto Paulinho quanto a oposição negaram que a questão esteja encerrada e disseram que vão insistir nos pedidos de explicação.
Para tentar desqualificar as denúncias, o senador Sibá Machado (PT-AC) chegou a dizer que membros do PT não teriam "capacidade mental" para fazer tal articulação.
O líder do PT, senador Tião Viana (AC), também entrou em campo. "O PT tem absoluta tranquilidade na condução desse tipo de assunto. Foi oferecido a nós o suposto dossiê Cayman [acusações contra tucanos que depois se revelaram falsas], mas o presidente Lula o recusou", disse o petista.


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