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DE 2002 A 2004
Suposto dossiê feito por petistas desvia debate sobre reforma sindical
CUT e Força trocam farpas no Senado
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em ação orquestrada com a
Força Sindical, a oposição conseguiu desviar ontem o assunto da
audiência pública realizada na
Comissão de Assuntos Sociais do
Senado, cujo tema era a reforma
sindical, e explorou denúncia de
que integrantes da campanha do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no ano passado, teriam montado uma blindagem em torno do
petista distribuindo dossiês contra seus adversários.
Um dos atingidos teria sido o
presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho,
que era vice do candidato Ciro
Gomes (PPS), segundo matéria
publicada pela revista "Veja".
"Saí da eleição como bandido.
Estou perplexo porque achei que
era coisa de outro candidato [José
Serra, PSDB]. Tem até denúncia
de assalto a banco. Entrei com
ação no Ministério Público Federal para esclarecer esses fatos",
disse Paulinho. Ele se refere à retirada de documentos do cofre da
sede paulista do Banco do Brasil,
com informações contra o economista Ricardo Sérgio de Oliveira,
ex-caixa das campanhas tucanas e
ex-diretor do BB.
Preocupado com o desempenho de Ciro nas pesquisas, o grupo petista teria vazado denúncias
de desvio de recursos do FAT
(Fundo de Amparo ao Trabalhador) por Paulinho, além de suposto superfaturamento na venda de
uma fazenda para uma associação
de trabalhadores rurais.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que vai
pedir a abertura de uma CPI para
investigar o caso. Ele já teria 25
das 27 assinaturas necessárias.
Além de Paulinho, participava
da audiência pública ontem um
representante da CUT (Central
Única dos Trabalhadores), Carlos
Alberto Grana, que na época da
campanha era secretário-geral da
central. Grana seria responsável
pela logística do grupo petista.
"Não participei de nenhum
bunker. Minha participação foi
pública, organizava comícios. Nenhum dirigente da CUT esteve
envolvido em atividades subterrâneas de campanha", afirmou.
Paulinho disse que, enquanto
ele estava "com toda a inocência,
tinha gente atrás com arapongagem". "Agora estou atento, se eles
colocarem gravador na mesa,
também coloco".
Grana respondeu que a relação
da CUT com a Força "sempre foi
de certa desconfiança".
Quando as denúncias vieram à
tona, o presidente da Força Sindical anunciou sua saída do CDES
(Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social). Nesta semana, porém, indicou um representante para substituí-lo, João Carlos Gonçalves, o Juruna.
"A Força se reuniu, e a gente resolveu reconsiderar, atendendo a
um apelo do ministro Tarso Genro [CDES]. Não consigo mais me
sentir um conselheiro do presidente Lula, então indiquei um representante", disse Paulinho.
Senadores do PFL e do PSDB,
em vez de fazerem perguntas relativas à reforma sindical, pediam
explicações sobre o suposto esquema montado para proteger a
candidatura do presidente Lula,
fomentando reclamações dos petistas presentes. Paulinho chegou
a mostrar revistas da época com
sua foto estampada na capa devido às acusações.
"Pilha"
"Não vamos ficar colocando pilha nesse assunto. Consideramos
que ele está encerrado", disse
Grana, durante a audiência. Tanto Paulinho quanto a oposição
negaram que a questão esteja encerrada e disseram que vão insistir nos pedidos de explicação.
Para tentar desqualificar as denúncias, o senador Sibá Machado
(PT-AC) chegou a dizer que
membros do PT não teriam "capacidade mental" para fazer tal
articulação.
O líder do PT, senador Tião Viana (AC), também entrou em campo. "O PT tem absoluta tranquilidade na condução desse tipo de
assunto. Foi oferecido a nós o suposto dossiê Cayman [acusações
contra tucanos que depois se revelaram falsas], mas o presidente
Lula o recusou", disse o petista.
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