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Delegado afirma ter sofrido "violência" em uma "trama"
Para Protógenes, apreensão visa tirar o foco da investigação sobre banqueiro
Durante entrevista em SP,
policial que coordenou a
Operação Satiagraha vê
"retaliação" a denúncias
feitas contra cúpula da PF
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, alvo de
mandados de busca e apreensão cumpridos pela própria PF,
disse ontem em São Paulo que
sofreu "uma humilhação e uma
violência" como parte do que
chamou de "trama" para "desfocar" as investigações que
atingiram o banqueiro Daniel
Dantas e o grupo Opportunity.
Em entrevista concedida no
mesmo hotel que, pela manhã,
havia sido vasculhado pela PF,
no centro de São Paulo, Queiroz afirmou que não foi ouvido
pelos delegados que conduzem
a investigação sobre os vazamentos. "O que me deixa mais
indignado é que isso ocorre
mais uma vez para desfocar o
trabalho principal da Polícia
Federal. O alvo principal é a organização comandada pelo senhor Daniel Dantas", disse Protógenes. Indagado se a operação de ontem demonstrava "o
poder de Dantas na própria instituição [PF]", o delegado afirmou: "Não tenho dúvidas. Isso
mais tarde vai ser revelado".
Protógenes foi questionado
se considera a operação de ontem uma "retaliação" às denúncias que fez contra a cúpula da
PF. "Sim, isso fica claro, eu não
preciso nem falar, os próprios
fatos dizem. Uma diligência
sem consistência acontece na
véspera do julgamento de um
habeas corpus [a favor de Dantas] no Supremo Tribunal Federal. E no dia 17 termina o prazo para os arrazoados [defesas]
finais das partes da ação penal
que está em curso."
O delegado afirmou ter enfrentado problemas no andamento da Operação Satiagraha.
"A todo tempo tentaram obstruir. Aí eu não posso apontar a
direção-geral, aponto a administração central. Agora, quem
ali dentro contribuiu para essa
obstrução, quem passava informações para o bandido me seguir, antes, durante e depois, aí
não sei. Entendo que essa investigação vai revelar."
Protógenes questionou a razão de o primeiro vazamento
da operação, ocorrido em abril,
em reportagem publicada pela
Folha, e a divulgação, pela direção-geral da PF, de trechos da
fita que registrou a reunião que
o afastou, em julho, segundo ele
não estarem sendo investigados com "o mesmo rigor, a mesma celeridade".
"Se isso estivesse sendo investigado, a cúpula da PF sofreria mandado de busca e apreensão", disse o delegado. "Cadê os
suspeitos de envolvimento nessa divulgação desse material?
Exijo que isto apareça, que isso
seja investigado nesse inquérito". Queiroz disse que os policiais federais levaram ontem
documentos, CDs, DVDs e até
rascunhos de sua tese de formatura, que tem como tema o
inquérito criminal.
Na entrevista, Queiroz leu
para os jornalistas uma poesia
da jornalista Elisa Lucinda ("Só
de Sacanagem") que fala sobre
corrupção no Brasil e a esperança "de que vai dar pra mudar
o final".
(RUBENS VALENTE)
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