São Paulo, domingo, 07 de janeiro de 2001

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Dops apreendeu equipamento de espionagem

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Relatórios do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) relacionam a Varig a uma tentativa de instalação de um transmissor no porto da cidade gaúcha de Rio Grande para fazer espionagem pró-alemã.
Os documentos do Dops ligando a empresa ao caso estão no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro e também foram localizados pelo historiador Alexandre Fortes, que confrontou as investigações norte-americana e brasileira sobre a Varig.
Em novembro de 1939, o Dops gaúcho descobriu no então Aeroporto São João, em Porto Alegre, nas proximidades de onde se localiza hoje o Aeroporto Internacional Salgado Filho, caixas que estavam sendo transportadas clandestinamente com equipamentos para a montagem de uma estação de rádio-telegrafia.
O Dops monitorou em sigilo a carga e acompanhou seu envio, em um avião da Varig, para a cidade de Rio Grande, onde o material foi apreendido por policiais.
Segundo a investigação do Dops, o equipamento seria instalado em um navio alemão que estava ancorado no porto de Rio Grande.
Relatório preparado pelo delegado Theobaldo Neumann, do Dops, com data de 28 de novembro de 1940, diz que a estação de transmissão serviria para informar "os navios de guerra de superfície (corsários) e os submarinos alemães em ação na costa do sul do Brasil sobre a existência de navios inimigos, seus movimentos dentro e fora dos portos".
De acordo com Alexandre Fortes, a iniciativa coincidia com a presença de navios da marinha inglesa no litoral da América do Sul, que no mês seguinte enfrentariam a embarcação alemã Graf von Spee na costa gaúcha.
O relatório de Neumann diz que, além de transportar o equipamento, a Varig pagou as passagens de um alemão que veio ao país montar a estação de transmissão.
A documentação do Dops mostra que Meyer foi preso por três dias e interrogado por causa do episódio envolvendo o equipamento de rádio-telegrafia. Segundo o relatório de Neumann, Meyer deixou claro que não era filiado ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, apesar de ter simpatia pela agremiação e ser um "adepto" de suas idéias.
O delegado do Dops registrou que Meyer afirmou participar da Frente Alemã do Trabalho, grupo que teve atuação política em programas de lazer e esportes de massa do regime nazista.
O Dops arquivou ainda uma lista apreendida em 1942 com um cobrador do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, o Partido Nazista, que tinha 71 nomes de supostos contribuintes. Entre eles estavam o de Otto Ernst Meyer, fundador da Varig, e de outros empresários gaúchos.
Outro relatório do Dops, sem título nem data, mas que pelos fatos que narra foi provavelmente escrito em 1940, diz que Meyer se correspondia com agentes nazistas que atuavam no Brasil.
Entre eles, afirma o relatório, estavam Bernardo Maahs e Wolfgang Neise, que tinham sido presos e extraditados por chefiar uma rede de espionagem na fronteira do Brasil com a Argentina e o Paraguai e alistar colonos gaúchos para o exército alemão. (SN)


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