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QUESTÃO INDÍGENA
Incra e Funai de Roraima são invadidos em ato contra reserva
Fazendeiros e índios fecham estradas e "isolam" Boa Vista
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA
Fazendeiros e índios contrários
à homologação de uma terra indígena com área equivalente a 7,7%
do território de Roraima promoveram ontem uma série de protestos no Estado. As principais
vias de acesso a Boa Vista foram
bloqueadas, e os prédios do Incra
e da Funai foram invadidos.
Entidades indígenas acusaram
um grupo de 200 manifestantes
de ter espancado e tomado como
reféns dois padres e um missionário.
Os protestos ocorrem 15 dias
após o ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, ter afirmado que
a homologação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol (área de
1,75 milhão de hectares, equivalente a quase 12 vezes o território
da cidade de São Paulo), no noroeste do Estado, será realizada
neste mês. Na área, vivem 19 mil
pessoas, sendo 7.000 não-índios,
de acordo com o Censo 2000.
Os manifestantes criticam a
proposta do Ministério da Justiça,
de homologar a área como contínua, incluindo as cidades e as
plantações (sobretudo de arroz)
dentro de seus limites. Os não-índios teriam de ser removidos.
Para o índio macuxi Jonas Marcolino, presidente da Sociedade
Organizada de Roraima, a questão deve ser tratada com mais agilidade: "Até hoje, só houve uma
demarcação das terras, mas ainda
nada saiu do papel. Somos contrários à proposta do governo federal de demarcação contínua da
terra, o que causaria um isolamento das populações indígenas
que estão dentro dessa área".
Os protestos
Os bloqueios nas rodovias começaram por volta das 5h (horário local, 7h em Brasília), de acordo com a Polícia Rodoviária Federal. Os manifestantes, com carros, caminhões, tratores e toras de
madeira, interditaram o tráfego
nas vias. Nenhum veículo foi autorizado a cruzar os bloqueios.
No início da manhã, a Funai
(Fundação Nacional do Índio) em
Boa Vista foi invadida por cerca
de 200 indígenas. Segundo a PM,
um grupo de agricultores invadiu
de madrugada o prédio do Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Paulo César Quartieiro, presidente da Associação dos Arrozeiros, disse que
"o Estado de Roraima está sem
auxílio do governo federal. Agricultores estão sendo expulsos de
suas terras em favor de uma política indigenista fora da realidade
de nosso Estado". Os bloqueios e
as invasões prosseguiam até a
conclusão desta edição.
Em nota, o governo do Estado
informou que "aguarda uma solução pacífica, harmoniosa e consensual, que garanta o direito pleno da terra aos povos indígenas,
como também o direito dos cidadãos que ali residem [na reserva]
e construíram suas famílias de
maneira digna e honesta".
A Polícia Federal e a Polícia Militar estavam negociando ontem
com os manifestantes a suspensão dos protestos nas cidades de
Pacaraima (na reserva Raposa/
Serra do Sol) e de Boa Vista.
Colaborou MAURO ALBANO, da Agência Folha
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