São Paulo, quinta-feira, 07 de janeiro de 2010

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ANÁLISE

Francês fez propaganda gratuita do caça sueco

Após testar os modelos Rafale, F-18 e Gripen, a FAB concluiu que todos servem ao Brasil, daí a preferência pelo mais barato

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA Foi infeliz, para fins da competição nos termos estabelecidos pela FAB, a comparação feita ontem pelo ministro da Defesa da França. Hervé Morin disse que o seu concorrente no F-X2, o Dassault Rafale, é "uma Ferrari" disputando contra "um Volvo" -no caso, o sueco Gripen NG, preferido pelo relatório técnico da Aeronáutica.
Morin cunhou uma propaganda gratuita para os suecos: se o Volvo fizer o que você quer, para que gastar uma fortuna a mais com a Ferrari?
Esse questionamento está no centro da análise feita pela FAB, que de todo modo não analisou apenas o avião, mas o pacote de vantagens tecnológicas-industriais que veio com cada um deles.
Mas estreitando a análise ao caráter militar, para ficar na comparação de Morin, a FAB parece ter adotado o slogan involuntário do ministro.
O Rafale é um avião de uma classe diferente da do Gripen, por ser um caça mais pesado e com duas turbinas, contra o monomotor sueco que decola com oito toneladas a menos de peso que o francês.
Para os franceses, isso mostra o quão inequívoca é a vantagem de seu produto. A análise da FAB viu outros dados. Se o Gripen levanta voo com 16,5 toneladas totalmente armado e com tanques cheios, 44% desse valor é em armas. No caso do Rafale, essa proporção cai a 38%. No F-18, a 23%.
Ou seja, o sueco leva menos armas, mas é mais eficiente ao fazê-lo, e isso significa economia de combustível, lubrificantes e dos sistemas do avião. A sua fabricante, a Saab, diz ainda que sua hora-voo é de US$ 4.000, contra US$ 14 mil dos dois concorrentes -os franceses já disputaram esse número, mas não apresentaram a contestação no papel.
Ao definir que seu novo avião substituiria aviões de interceptação, de combate aéreo e de ataque a solo, a FAB obrigou que os caças fossem multiuso. E os três o são. Contra o Gripen NG há o fato óbvio: ele ainda é um avião em desenvolvimento, logo essa sua capacidade é teórica, baseada no desempenho projetado em seu protótipo de demonstração.
Tanto o Rafale quanto a versão oferecida do F-18, por sua vez, são comprovadamente aviões multiuso. O francês tem o diferencial de poder trocar de função em pleno voo, enquanto os americanos saem de solo com sua missão definida.
Cada avião tem sua vantagem. Se o fato de ser monomotor foi relevado pela FAB, já que o medo de falhas de motor é menor hoje em dia, qualquer piloto prefere ter em mãos a potência dupla de um biturbina como o F-18 e o Rafale. Ser menor e ter só uma fonte de calor de motor, contudo, deixa o Gripen menos visível ao radar.
Como computador voador que todos os três são, o Gripen leva vantagem e o F-18 fica mais para trás. Só que ele conta com um radar, ironicamente francês, que ainda não está operacional. Todos os três têm raio de ação semelhantes.
Depois de testar extensivamente os três modelos, durante meses de análise, a FAB determinou que todos têm as condições para cumprir a missão prevista. Logo, foi aí que a FAB preferiu o "Volvo" à "Ferrari". Com uma frota constantemente no chão por falta de dinheiro para voar, o preço foi determinante na escolha.
A isso soma-se o já sabido: o projeto mais aberto do Gripen permite maior absorção de conhecimento pela indústria nacional, apesar dos riscos embutidos nisso. Todas as empresas prometeram transferências tecnológicas e construção de partes ou até de todo o avião no Brasil, mas a Saab apresentou um que agradou mais à Embraer, a grande beneficiária nacional do F-X2.
Resta agora o óbvio: a decisão política. Os franceses estão muito à frente nesse quesito, e os americanos, lá atrás por conta das desconfianças tradicionais sobre os humores futuros de Washington -que a rigor deveriam se aplicar a Paris também, como os israelenses abandonados nas guerras da década de 70 sabem.


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