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ANÁLISE
Francês fez propaganda gratuita do caça sueco
Após testar os modelos Rafale, F-18 e Gripen, a FAB concluiu que todos servem ao Brasil, daí a preferência pelo mais barato
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Foi infeliz, para fins da competição nos termos estabelecidos pela FAB, a comparação
feita ontem pelo ministro da
Defesa da França. Hervé Morin
disse que o seu concorrente no
F-X2, o Dassault Rafale, é "uma
Ferrari" disputando contra
"um Volvo" -no caso, o sueco
Gripen NG, preferido pelo relatório técnico da Aeronáutica.
Morin cunhou uma propaganda gratuita para os suecos:
se o Volvo fizer o que você quer,
para que gastar uma fortuna a
mais com a Ferrari?
Esse questionamento está no
centro da análise feita pela
FAB, que de todo modo não
analisou apenas o avião, mas o
pacote de vantagens tecnológicas-industriais que veio com
cada um deles.
Mas estreitando a análise ao
caráter militar, para ficar na
comparação de Morin, a FAB
parece ter adotado o slogan involuntário do ministro.
O Rafale é um avião de uma
classe diferente da do Gripen,
por ser um caça mais pesado e
com duas turbinas, contra o
monomotor sueco que decola
com oito toneladas a menos de
peso que o francês.
Para os franceses, isso mostra o quão inequívoca é a vantagem de seu produto. A análise
da FAB viu outros dados. Se o
Gripen levanta voo com 16,5 toneladas totalmente armado e
com tanques cheios, 44% desse
valor é em armas. No caso do
Rafale, essa proporção cai a
38%. No F-18, a 23%.
Ou seja, o sueco leva menos
armas, mas é mais eficiente ao
fazê-lo, e isso significa economia de combustível, lubrificantes e dos sistemas do avião. A
sua fabricante, a Saab, diz ainda
que sua hora-voo é de US$
4.000, contra US$ 14 mil dos
dois concorrentes -os franceses já disputaram esse número,
mas não apresentaram a contestação no papel.
Ao definir que seu novo avião
substituiria aviões de interceptação, de combate aéreo e de
ataque a solo, a FAB obrigou
que os caças fossem multiuso.
E os três o são. Contra o Gripen
NG há o fato óbvio: ele ainda é
um avião em desenvolvimento,
logo essa sua capacidade é teórica, baseada no desempenho
projetado em seu protótipo de
demonstração.
Tanto o Rafale quanto a versão oferecida do F-18, por sua
vez, são comprovadamente
aviões multiuso. O francês tem
o diferencial de poder trocar de
função em pleno voo, enquanto
os americanos saem de solo
com sua missão definida.
Cada avião tem sua vantagem. Se o fato de ser monomotor foi relevado pela FAB, já que
o medo de falhas de motor é
menor hoje em dia, qualquer
piloto prefere ter em mãos a
potência dupla de um biturbina
como o F-18 e o Rafale. Ser menor e ter só uma fonte de calor
de motor, contudo, deixa o Gripen menos visível ao radar.
Como computador voador
que todos os três são, o Gripen
leva vantagem e o F-18 fica
mais para trás. Só que ele conta
com um radar, ironicamente
francês, que ainda não está
operacional. Todos os três têm
raio de ação semelhantes.
Depois de testar extensivamente os três modelos, durante
meses de análise, a FAB determinou que todos têm as condições para cumprir a missão
prevista. Logo, foi aí que a FAB
preferiu o "Volvo" à "Ferrari".
Com uma frota constantemente no chão por falta de dinheiro
para voar, o preço foi determinante na escolha.
A isso soma-se o já sabido: o
projeto mais aberto do Gripen
permite maior absorção de conhecimento pela indústria nacional, apesar dos riscos embutidos nisso. Todas as empresas
prometeram transferências
tecnológicas e construção de
partes ou até de todo o avião no
Brasil, mas a Saab apresentou
um que agradou mais à Embraer, a grande beneficiária nacional do F-X2.
Resta agora o óbvio: a decisão
política. Os franceses estão
muito à frente nesse quesito, e
os americanos, lá atrás por conta das desconfianças tradicionais sobre os humores futuros
de Washington -que a rigor
deveriam se aplicar a Paris
também, como os israelenses
abandonados nas guerras da
década de 70 sabem.
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