São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010

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Aliados criticam a sigla, mas mantêm apoio

No poder, PT se distanciou dos sindicatos e dos movimentos sociais que ajudaram a construir o partido

DA REPORTAGEM LOCAL

A experiência no poder afastou gradualmente o PT dos movimentos sociais que ajudaram a erguer o partido, mas, no oitavo ano do governo Lula, as lideranças desses segmentos evitam tornar explícita a fadiga desta histórica ligação.
"O PT fragilizou os laços de origem que o constituíram, e as bases sociais passaram a perder importância ao longo do tempo, quando o núcleo de poder ficou autônomo. O PT sabe que perdeu esses laços e também sabe que precisa retomá-los", afirmou Rachel Meneghello, professora do departamento de Ciência Política da Unicamp.
Responsável por construir no governo a ponte com as entidades da sociedade civil, o ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) nega o afastamento: "A relação do partido com as organizações populares continua fortíssima, mas é claro que ela evoluiu e transformou-se com as próprias mudanças do país. As grandes conquistas econômicas e sociais do governo Lula foram construídas junto com os movimentos".
Para a direção do MST, o PT preserva o elo com esses segmentos. Porém, segundo João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do movimento, a classe trabalhadora se fragmentou como consequência da "política neoliberal" dos últimos 20 anos, e o PT, por sua vez, deu prioridade à luta eleitoral -que, para ele, não garante "as mudanças estruturais".
O presidente nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Artur Henrique, admite que no primeiro mandato de Lula "havia muita confusão entre partido, governo e central sindical", o que gerou "estresse e incompreensões". No segundo mandato, disse, houve "amadurecimento" na relação.
"Não podemos transformar o movimento sindical num braço do partido", defendeu o sindicalista, para quem hoje a CUT tem a autonomia para contestar do governo. Ele rebate, ainda, as críticas sobre a transformação do governo Lula numa "república de sindicalistas".
"Não é pouco ter um governo que dialoga. No governo Lula, os movimentos sindicais encontraram canais de comunicação que não existiram em outros governos", disse João Felício, secretário sindical do PT.
Ex-petista, a deputada Luíza Erundina (PSB-SP) associa o distanciamento do PT das bases sociais às mudanças no mundo do trabalho, "que foi a matriz do partido". "Hoje o PT é um partido condicionado e determinado pelas questões institucionais. Não teve acúmulo de força nas bases sociais para alterar a lógica de governos dependentes de maiorias", afirmou Erundina.
O desafio petista, resume o governador Jaques Wagner, é equilibrar o jogo de forças entre a militância e os quadros petistas que passaram a integrar a burocracia dos governos. (MD)


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