São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Apenas 463 brasileiros se regularizam

ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

Se a esperança venceu o medo, conforme avaliou o PT ao ganhar a eleição de 2002, a notícia não chegou aos cerca de 80 mil brasileiros que vivem irregularmente em Portugal: para eles, esperança significa, em vez de voltar ao Brasil, regularizar a situação no país europeu, o que acaba sendo a única -e leve- sombra para o encontro de segunda-feira entre o premiê português, José Manuel Durão Barroso, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em julho, Lula e Barroso assinaram em Lisboa acordo que facilitava a legalização dos brasileiros em Portugal e dos portugueses no Brasil. Agora, não é mais necessário apresentar a papelada no país de origem. No caso dos brasileiros, podem fazê-lo nos consulados de Portugal na vizinha Espanha.
Cerca de 31 mil brasileiros inscreveram-se para obter os benefícios do acordo, quando o cálculo inicial era de que não mais de 10.000 o fariam. Resultado inevitável: extrema morosidade, o que irrita quem está em situação irregular. Até agora, só 463 imigrantes brasileiros conseguiram a legalização.
"Não se trata de má vontade", diz Gonçalo Mourão, ministro-conselheiro da embaixada do Brasil em Portugal. O processo é de fato complicado, porque envolve obter de longe documentos no Brasil, como atestado de bons antecedentes.
A busca de documentos indica que a massa de brasileiros que buscou a esperança em Portugal prefere ficar. Confirma empiricamente essa predisposição o lançamento recente de um segundo jornal para a comunidade brasileira.
O problema dos irregulares não chega, porém, a turvar um relacionamento que os dois governos consideram estar em ótimo ponto. Não há, de fato, nenhum conflito, mas o momento já foi melhor, ao menos do ponto de vista empresarial. Em 1998, os investimentos portugueses no Brasil atingiram o pico, para começar a declinar acentuadamente a partir de então, em grande medida porque era impossível mantê-lo nos patamares elevados atingidos.
O presidente da AIP (Associação Industrial Portuguesa), Jorge Rocha de Matos, diz que "a atitude dos empresários portugueses, com algumas exceções, continua a ser positiva em relação ao Brasil". Mas já surge uma nuvenzinha. "Naturalmente, o fato de a economia brasileira crescer abaixo das expectativas torna mais lento o retorno de alguns investimentos que foram feitos com base em previsões de crescimento da economia superiores às que se estão a verificar." (CR)

Texto Anterior: Laços históricos: Premiê luso vê "complexo" de elites da AL
Próximo Texto: Sombra no Planalto: Acusado de desvio fez doação a autor da CPI
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.