São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Maior doador da campanha de 2002 de Magno Malta (PL-ES) é réu em processo envolvendo José Carlos Gratz, ligado ao jogo do bicho

Acusado de desvio fez doação a autor da CPI

TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA

O autor do pedido para a instalação da CPI dos bingos e líder do PL no Senado, senador Magno Malta (ES), teve como maior doador de sua campanha em 2002 o advogado Beline José Salles Ramos, que responde a processo no STJ (Superior Tribunal de Justiça) por participação em atos de improbidade administrativa que podem ter desviado R$ 1,3 bilhão da União. Ele também é réu em processo com José Carlos Gratz.
Gratz, ex-presidente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo, teve envolvimento, como ele próprio já declarou, com o jogo do bicho no Estado.
Em um dos sete processos que correm atualmente contra ele no STJ, Salles Ramos e Gratz são réus na Notícia Crime 276-ES (2002/ 0048489-0). O relator do processo é o ministro Félix Fischer, e a ação corre no STJ em segredo de Justiça. Há a suspeita de que os dois e outras 24 pessoas tenham enviado dinheiro ilegal para o exterior em uma operação de 2002.
Salles Ramos, segundo a declaração de campanha de Malta ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), doou R$ 243 mil para o candidato a senador. O valor corresponde a 40,49% dos R$ 600.201,22 declarados por Malta ao TSE.
"Sempre que me foi pedido para colaborar com a campanha, eu ajudei", disse o advogado. Ele fez, no total, cinco doações para a campanha -duas de R$ 50 mil, uma de R$ 40 mil, uma de R$ 39 mil e uma de R$ 64 mil.
O senador, porém, diz não conhecer o seu maior doador de campanha. "Essas doações são feitas através do comitê de campanha. Não tenho controle sobre todos que doam dinheiro", disse.
De acordo com Salles Ramos, os dois freqüentam a mesma igreja, a Batista Evangélica de Vitória, no Espírito Santo.

Apólices da dívida pública
Em outras ações, Salles Ramos é acusado de "mecanizar" com desembargadores a distribuição de processos no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no Rio de Janeiro, relativos a pagamentos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
Os processos, que tiveram origem em denúncia do Ministério Público Federal, correm em segredo de Justiça no STJ por envolverem a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico dos réus.
O Ministério Público Federal identificou movimentações de bens e valores em nome de Salles Ramos que pareceram "estranhas e excessivas" para os padrões de renda do advogado.
Salles Ramos comprava títulos da dívida pública -alguns deles datados do tempo do Brasil Império (1822-1889)- por "milésimos do valor de face", segundo a denúncia do Ministério Público.



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