São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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Dirceu admite que errou, mas diz que fica no governo

DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro José Dirceu (Casa Civil) afirma que não irá deixar o governo federal em razão do caso Waldomiro Diniz -seu assessor e homem de confiança que foi flagrado em gravação feita em 2002 na qual pede propina a um empresário do ramo de loterias.
A declaração foi publicada pela revista "Veja", deste final de semana. Questionado sobre a pesquisa Datafolha, publicada pela Folha na última quarta-feira, segundo a qual 67% dos entrevistados querem seu afastamento do cargo, Dirceu respondeu:
"Mas eu não vou sair do governo. Eu não tenho relação nenhuma com esse caso, não tenho nenhuma dúvida com relação a isso. Não participei, não tinha conhecimento. Não devo sair. Devo continuar fazendo meu trabalho. Tenho a confiança do presidente, do meu partido e dos partidos que apóiam o governo", afirmou o ministro da Casa Civil.
Então subchefe de Assuntos Parlamentares do Planalto, Waldomiro Diniz foi exonerado a pedido no último dia 13 após a divulgação da gravação da sua conversa com o empresário do jogo Carlinhos Cachoeira.
No período da gravação, Waldomiro Diniz trabalhava para o governo de Benedita da Silva (PT) no Rio de Janeiro. Era o presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro).

Primeiras acusações
As primeiras acusações contra ele, no entanto, surgiram em meados do ano passado e davam conta de que agia no Planalto em favor de empresários do jogo. Dirceu, que já havia sido chefe de Waldomiro na Câmara dos Deputados e chegou a dividir apartamento com ele, tomou conhecimento das acusações.
Questionado sobre esse ponto, o ministro afirmou que não errou ao não afastar o ex-assessor.
"O próprio Waldomiro solicitou uma investigação formalmente à Polícia Federal, ao Ministério Público e à Controladoria Geral da União. Eu acreditei nele, com base em um fato real que é o pedido de investigação. Tomei uma atitude adequada para as circunstâncias, já que não tinha conhecimento de nada e não havia no comportamento dele aqui no governo nenhum indício de irregularidade", disse o ministro.
Dirceu admitiu na entrevista ter cometido um "erro", mas disse que não praticou um "crime".
De acordo com o ministro, Waldomiro Diniz não era seu principal assessor da Casa Civil. Porém, Dirceu reconheceu que Waldomiro era o responsável pelas articulações com parlamentares.
"Ele coordenava e articulava minha relação com os deputados e senadores para votações, para as articulações políticas. Eu despachava com ele regularmente, toda a semana. E falava com ele todos os dias. O Waldomiro não assinava atos administrativos, não tinha poderes legais para isso", afirmou o ministro na entrevista.

CPI barrada
Desde o início do caso, o governo federal tem se posicionado contra a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) com o argumento de que o pedido de propina ocorreu antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter tomado posse, em 1º de janeiro de 2003.
Um requerimento com as assinaturas necessárias para a aprovação da investigação no Senado foi protocolado, mas os líderes governistas impediram a abertura da comissão com uma manobra regimental: decidiram não indicar os seus representantes.
Segundo a Folha mostrou no último dia 29, Waldomiro Diniz, antes de ser exonerado, estava empenhado na negociação de emendas parlamentares que somavam mais de R$ 1 bilhão.
Dirceu chegou a avisar aos líderes que Waldomiro seria o representante do governo nas negociações. Muitas das reuniões com os parlamentares ocorreram no gabinete do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).

Humildade
Na entrevista, o ministro, tido até o início da crise como uma espécie de primeiro-ministro do governo Lula, disse ser uma pessoa "humilde" e com "limitações".
"Em 2003 fiz o que tinha de fazer. E acho que cumpri bem. Não sou de falsa modéstia. Só que agora tenho outro papel no governo. Deixei a articulação política e federativa. Sei trabalhar em equipe, tenho disciplina", disse.
Anteontem, em São Paulo, o PT divulgou uma nota em apoio ao ministro, aprovada pela direção petista durante evento da Executiva Nacional.


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