São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOMBRA NO PLANALTO

Presidente da Câmara reconhece pressão do PT por mudança, mas diz que governo está "seguro" de seu caminho na economia

Planalto não fará "loucura", diz João Paulo

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), afirmou ontem que o governo não vai fazer nenhuma "loucura" na condução da política econômica, apesar de setores do partido pressionarem o governo por mudanças mais enérgicas.
"Embora haja necessidade, não vamos apressar o andar da carruagem. Estamos seguros de que o caminho está correto", disse João Paulo em visita ao Diretório Municipal do PT em São Bernardo do Campo (SP), onde reuniu-se com pré-candidatos petistas à prefeituras da região.
As declarações de João Paulo referem-se ao documento divulgado anteontem pelo PT, que reflete a avaliação do partido de que é preciso melhorar a economia para impedir o caso Waldomiro Diniz, ex-assessor da Presidência, de afetar o desempenho da sigla nas eleições deste ano. Waldomiro aparece em gravação cobrando propina de um empresário do ramo de jogos em 2002, quando trabalhava na Loterj (Loteria do Estado do Rio), no governo de Benedita da Silva (PT-RJ).
Na avaliação do presidente da Câmara, a maior pressão em busca de mudanças vem de grupos do partido que não compõem o governo federal. "Todo mundo acha que estamos transitando para outra estrutura econômica. A diferença é o tempo. Evidentemente que pessoas que não estão no governo federal, mas em outro canto, fazendo outra disputa, estão envolvidas com a idéia de que tem de ser mais rápido", disse.
Durante a reunião da Executiva Nacional do PT realizada anteontem, quando foi divulgado o documento que pede mudança, os pré-candidatos do partido às eleições foram os principais defensores das alterações na economia.
Estavam presentes a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, pré-candidata à reeleição, os deputados Nelson Pellegrino (BA) e Jorge Bittar (RJ), pré-candidatos às prefeituras de Salvador e do Rio de Janeiro respectivamente.
O deputado Vicentinho (PT), que disputará a Prefeitura de São Bernardo, disse se sentir "mal" com o caso Waldomiro, mas que isso não afetará sua campanha.
"Nós estamos com pressa de ter emprego, juros baixos, mas percebemos que o governo está adotando medidas para que a mudança se concretize." No encontro, o deputado contou com um bom cabo eleitoral: Lula, que aparece em uma fita de vídeo falando da trajetória e do futuro político de Vicentinho. A fita foi uma surpresa feita por João Paulo.
Para o presidente da CUT, Luiz Marinho, a política econômica já poderia ter sido alterada: "A visão que o PT manifesta agora mostra uma inquietação com essa transição, que está muito alongada. Acho que o partido tem razão".

Lentidão
A reação da cúpula do PT foi interpretada por analistas como conseqüência do ritmo lento de recuperação da economia.
"Há uma recuperação em curso, mas, além de não ser forte, ela é irregular, dá sinais de fragilidade. Evidentemente, isso traz desgaste político ao governo", diz Júlio Gomes de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial).
Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e professor do Ibmec, sugere que o governo passe a perseguir uma meta de inflação um pouco maior que o centro da meta de 5,5% neste ano para que os juros caiam. "Se o governo não fizer isso logo, o crescimento fica comprometido", disse.
Mas ele alerta para o perigo de que as pressões do PT levem o governo a afrouxar a política fiscal que estabelece para este ano um superávit primário de 4,25%.


Colaborou ÉRICA FRAGA, da Reportagem Local

Texto Anterior: Dirceu admite que errou, mas diz que fica no governo
Próximo Texto: Caixa sonegou documentos, diz procurador
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.