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SOMBRA NO PLANALTO
Presidente da Câmara reconhece pressão do PT por mudança, mas diz que governo está "seguro" de seu caminho na economia
Planalto não fará "loucura", diz João Paulo
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente da Câmara dos
Deputados, João Paulo Cunha
(PT-SP), afirmou ontem que o
governo não vai fazer nenhuma
"loucura" na condução da política econômica, apesar de setores
do partido pressionarem o governo por mudanças mais enérgicas.
"Embora haja necessidade, não
vamos apressar o andar da carruagem. Estamos seguros de que
o caminho está correto", disse
João Paulo em visita ao Diretório
Municipal do PT em São Bernardo do Campo (SP), onde reuniu-se com pré-candidatos petistas à
prefeituras da região.
As declarações de João Paulo referem-se ao documento divulgado anteontem pelo PT, que reflete
a avaliação do partido de que é
preciso melhorar a economia para impedir o caso Waldomiro Diniz, ex-assessor da Presidência, de
afetar o desempenho da sigla nas
eleições deste ano. Waldomiro
aparece em gravação cobrando
propina de um empresário do ramo de jogos em 2002, quando trabalhava na Loterj (Loteria do Estado do Rio), no governo de Benedita da Silva (PT-RJ).
Na avaliação do presidente da
Câmara, a maior pressão em busca de mudanças vem de grupos
do partido que não compõem o
governo federal. "Todo mundo
acha que estamos transitando para outra estrutura econômica. A
diferença é o tempo. Evidentemente que pessoas que não estão
no governo federal, mas em outro
canto, fazendo outra disputa, estão envolvidas com a idéia de que
tem de ser mais rápido", disse.
Durante a reunião da Executiva
Nacional do PT realizada anteontem, quando foi divulgado o documento que pede mudança, os
pré-candidatos do partido às eleições foram os principais defensores das alterações na economia.
Estavam presentes a prefeita de
São Paulo, Marta Suplicy, pré-candidata à reeleição, os deputados Nelson Pellegrino (BA) e Jorge Bittar (RJ), pré-candidatos às
prefeituras de Salvador e do Rio
de Janeiro respectivamente.
O deputado Vicentinho (PT),
que disputará a Prefeitura de São
Bernardo, disse se sentir "mal"
com o caso Waldomiro, mas que
isso não afetará sua campanha.
"Nós estamos com pressa de ter
emprego, juros baixos, mas percebemos que o governo está adotando medidas para que a mudança se concretize." No encontro, o deputado contou com um
bom cabo eleitoral: Lula, que aparece em uma fita de vídeo falando
da trajetória e do futuro político
de Vicentinho. A fita foi uma surpresa feita por João Paulo.
Para o presidente da CUT, Luiz
Marinho, a política econômica já
poderia ter sido alterada: "A visão
que o PT manifesta agora mostra
uma inquietação com essa transição, que está muito alongada.
Acho que o partido tem razão".
Lentidão
A reação da cúpula do PT foi interpretada por analistas como
conseqüência do ritmo lento de
recuperação da economia.
"Há uma recuperação em curso,
mas, além de não ser forte, ela é irregular, dá sinais de fragilidade.
Evidentemente, isso traz desgaste
político ao governo", diz Júlio Gomes de Almeida, diretor do Iedi
(Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial).
Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e professor do Ibmec, sugere que o governo passe a perseguir uma meta de
inflação um pouco maior que o
centro da meta de 5,5% neste ano
para que os juros caiam. "Se o governo não fizer isso logo, o crescimento fica comprometido", disse.
Mas ele alerta para o perigo de
que as pressões do PT levem o governo a afrouxar a política fiscal
que estabelece para este ano um
superávit primário de 4,25%.
Colaborou ÉRICA FRAGA, da Reportagem Local
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