São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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QUESTÃO AGRÁRIA

Abra volta liderada por petista histórico

Na gestão Lula, renasce associação que pressiona por reforma agrária

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Acadêmicos de esquerda ligados à questão agrária já admitem que a pressão dos sem-terra e o suposto compromisso histórico do PT com a reforma agrária são insuficientes para fazê-la. Decidiram reorganizar a Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária) para pressionar o governo.
Criada em 1967 para realizar a mesma cobrança do governo militar, a Abra estava paralisada desde 2002. Retornou oficialmente à ativa na segunda-feira, com a eleição da chapa única encabeçada pelo economista e petista histórico Plínio de Arruda Sampaio.
A volta da associação ocorre no momento em que cerca de 200 mil famílias sem terra continuam acampadas pelo país e o governo não define como triplicará o orçamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário (R$ 1,05 bilhão) para cumprir a meta de assentar 115 mil famílias neste ano.
A Abra planeja reeditar sua revista e distribui-la nacionalmente, promover abaixo-assinados e iniciar um lobby no Congresso.
Dizendo-se "supermotivado", Arruda Sampaio chega à nova função três meses depois de o governo federal ter dispensado o anteprojeto que elaborou para um novo PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária). Muitos dos colegas que o ajudaram no trabalho, entre economistas, sociólogos e geógrafos, estão na chapa.
"Nosso papel será anunciar as contradições dos atos de governo com as promessas de campanha, além de cobrar políticas mais arrojadas", disse José Vaz Parente, da Confederação Nacional das Associações dos Servidores do Incra e da nova direção da Abra.
Entre as contradições a serem apontadas, em meio ao crescimento do número de acampados e de assassinatos no campo, estão frases do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva: "Com uma canetada só vou dar tanta terra que vocês não vão conseguir ocupar" e "Sou o único capaz de fazer uma reforma agrária pacífica".
Mesmo diante de um MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) acuado, na espera das promessas governamentais, a nova direção da Abra afirma que a associação não vai centralizar a pressão ao Palácio do Planalto. Fala num "trabalho paralelo".
"A Abra não pode deixar esvaziar o tema. O objetivo será de promover um debate na academia, ajudando a formar a opinião da sociedade", disse Gérson Teixeira, ex-presidente da Abra e assessor da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca, órgão vinculado à Presidência da República.
Para o agrônomo Horácio Martins de Carvalho, presidente da Abra de 1999 a 2001, a volta deveria ser usada para "renovar" os quadros. Vários membros atuais são funcionários do governo.


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