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QUESTÃO AGRÁRIA
Abra volta liderada por petista histórico
Na gestão Lula, renasce associação que pressiona por reforma agrária
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Acadêmicos de esquerda ligados à questão agrária já admitem
que a pressão dos sem-terra e o
suposto compromisso histórico
do PT com a reforma agrária são
insuficientes para fazê-la. Decidiram reorganizar a Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária) para pressionar o governo.
Criada em 1967 para realizar a
mesma cobrança do governo militar, a Abra estava paralisada desde 2002. Retornou oficialmente à
ativa na segunda-feira, com a eleição da chapa única encabeçada
pelo economista e petista histórico Plínio de Arruda Sampaio.
A volta da associação ocorre no
momento em que cerca de 200
mil famílias sem terra continuam
acampadas pelo país e o governo
não define como triplicará o orçamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário (R$ 1,05 bilhão) para cumprir a meta de assentar 115 mil famílias neste ano.
A Abra planeja reeditar sua revista e distribui-la nacionalmente,
promover abaixo-assinados e iniciar um lobby no Congresso.
Dizendo-se "supermotivado",
Arruda Sampaio chega à nova
função três meses depois de o governo federal ter dispensado o anteprojeto que elaborou para um
novo PNRA (Plano Nacional de
Reforma Agrária). Muitos dos colegas que o ajudaram no trabalho,
entre economistas, sociólogos e
geógrafos, estão na chapa.
"Nosso papel será anunciar as
contradições dos atos de governo
com as promessas de campanha,
além de cobrar políticas mais arrojadas", disse José Vaz Parente,
da Confederação Nacional das
Associações dos Servidores do Incra e da nova direção da Abra.
Entre as contradições a serem
apontadas, em meio ao crescimento do número de acampados
e de assassinatos no campo, estão
frases do então candidato Luiz
Inácio Lula da Silva: "Com uma
canetada só vou dar tanta terra
que vocês não vão conseguir ocupar" e "Sou o único capaz de fazer
uma reforma agrária pacífica".
Mesmo diante de um MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) acuado, na espera
das promessas governamentais, a
nova direção da Abra afirma que
a associação não vai centralizar a
pressão ao Palácio do Planalto.
Fala num "trabalho paralelo".
"A Abra não pode deixar esvaziar o tema. O objetivo será de
promover um debate na academia, ajudando a formar a opinião
da sociedade", disse Gérson Teixeira, ex-presidente da Abra e assessor da Secretaria Especial de
Aquicultura e Pesca, órgão vinculado à Presidência da República.
Para o agrônomo Horácio Martins de Carvalho, presidente da
Abra de 1999 a 2001, a volta deveria ser usada para "renovar" os
quadros. Vários membros atuais
são funcionários do governo.
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