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JANIO DE FREITAS
Escândalo sem pescoço
Uma reunião, sexta-feira em
São Paulo, no apartamento
de Fernando Henrique Cardoso
com a presença de José Serra e José Aníbal, em vez de servir ao alegado exame das eleições estaduais, de fato se prestou a definir
a estratégia contra a revelação na
"Veja" do dia seguinte - segundo aviso dado à Presidência - de
outro caso de alta propina envolvendo Ricardo Sérgio de Oliveira,
"mala preta" nas campanhas de
Fernando Henrique e José Serra.
Clóvis Carvalho, chamado para
fazer sua "rentrée" na velha turma, chegou muito atrasado, não
se sabe se deliberadamente ou
não, e conversou com Fernando
Henrique já sem a presença de
Serra. Mas, dali por diante, tornou-se o indicador de Ricardo
Sérgio para a diretoria do Banco
do Brasil em 95, o que mais apropriadamente era debitado a Serra.
A estratégia combinada ficou
no sigilo da reunião, mas os fatos
não fogem à regra aplicada aos
escândalos desde o início do governo Fernando Henrique, para
evitar investigações. Desta vez,
porém, com uma perturbação: a
regra não levou em conta o compromisso do ministro Paulo Renato Souza de viajar ontem e ficar sete dias no exterior representando o governo.
A regra foi sempre a de escalar
depressa um ministro para para
pagar os ônus do escândalo, dando-se assim o caso por encerrado
com o prestimoso auxílio da mídia. Lá se foram o brigadeiro Murilo Gandra, no escândalo do Sivam; Francisco Graziano, que cometeu o despropósito de desvendar o lobby instalado dentro da
Presidência pelo embaixador Júlio Santos; Luiz Carlos Mendonça
de Barros, quando grampos telefônicos mostraram o próprio Fernando Henrique manipulando a
privatização das telefônicas, e,
para não ir mais longe, o agora
relembrado Clóvis Carvalho, que
pagou quando as divergências de
política econômica assumiram
sons escandalosos.
Com a sutileza que o caracteriza, o deputado José Aníbal despejou depressa sobre Paulo Renato
os insultos disponíveis. Mas o escalado teve a habilidade de não se
fazer substituído na viagem, demitindo-se. Pedir que, lá de fora,
se exonere do ministério e, portanto, da condição de representante do governo na reunião educacional, será jogar mais combustível e não água no escândalo.
Daí que o governo, sem um pescoço à mão para ser sangrado, esteja mergulhado, com total aturdimento, no risco de ficar ao léu
durante toda a semana, jamais
tão longa e tão perigosa. Com isso, José Serra ficou exposto à tese
de que a saída do governo passa a
ser a saída dele. No seu caso, saída mesmo, entrega do lugar e das
ambições.
Seria solução? Muitos dizem ser
a melhor maneira de evitar, logo,
ameaças pefelistas de apoiar uma
CPI. Haveria esse alívio, sim, embora a improbabilidade de que o
PFL um dia dê número para uma
CPI assim.
Não dissolve o escândalo, no entanto, nem evita o grave problema da investigação pelo Ministério Público e da quase inevitável
constatação de que os fatos, em
torno das privatizações, são ainda muito piores do que o divulgado até agora. Nesse sentido, o
aturdimento do governo, ontem,
foi correspondido pela expectativa mais generalizada sobre os
acréscimos prometidos pelo denunciante Luiz Carlos Mendonça
para alturas da noite, via internet. Ele talvez não soubesse que
governistas procuravam munição
para atingi-lo no peito.
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