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NO AR
Milhões
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Gilberto Gil ganhou o
que queria. Dinheiro.
Como indicou na Globo um
dos cineastas lobistas, a revolta
dos produtores cariocas foi com
a concentração de dinheiro nas
mãos de Luiz Gushiken. Dele,
Zelito Viana:
- São R$ 600 milhões. A secretaria (de Gushiken) fechou
isso tudo em suas mãos.
Não mais. No dizer de Gil,
"agora as políticas culturais voltam a ser conduzidas pelo Ministério da Cultura".
O produtor Luiz Carlos Barreto e seus porta-vozes também
ganharam o que queriam. Dinheiro.
Gushiken anunciou que vai
ordenar às estatais que "agilizem os projetos com contratos já
firmados", em outras palavras,
que retomem a liberação de dinheiro.
E assim o que a Globo vem
chamando de "classe artística"
saiu em paz com Lula, bradando "viva a cultura".
Só restou a interrogação sobre
o que ganha a Globo. Desde o
fim de semana, os artistas ouvidos nos telejornais da emissora
se resumiram a três ou quatro,
incluindo os citados.
E foram telejornais sobre telejornais, começando pelo Jornal
Nacional, dando voz a um lobby
avassalador.
O lobby venceu, de novo.
A piada do "dirigismo cultural" ficou ainda mais evidente
com uma aberrante declaração
de Zelito Viana:
- Que uma empresa privada,
que me dá dinheiro para um filme, faça merchandising, vá lá.
Agora, o governo querer?
É a diretriz cultural que imperou na última década e meia,
transferindo aos gerentes de
marketing -com dinheiro público- a decisão sobre a produção artística.
Lula foi eleito com a promessa
de acabar com isso. Mas aí escolheu Gil para ministro.
Já que se fala tanto em dinheiro, vale lembrar: é hoje, em Brasília, o julgamento das contas de
Norma Benguell.
Enquanto isso, o traficante
Fernandinho Beira-Mar não é
problema do governador do Rio,
Anthony Garotinho. Nem do
governo Lula.
Quem enfrenta o desgaste de
chamar entrevista coletiva e se
explicar, em todos os telejornais,
é o governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin.
José Sarney ouviu o que não
queria de Pedro Simon, num
bate-boca na TV Senado, mas
salvou ACM.
Só para recordar: com FHC
não foi assim. O arquivamento
se deu agora, sob os olhos do governo que mudaria tudo.
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