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ELEIÇÕES 2006/PUBLICIDADE SUSPEITA
Estatal confirmou o interesse por prorrogação, mas manteve serviços sem amparo legal por 22 meses com gasto de R$ 27 mi
Agência alertou Nossa Caixa sobre o fim de contrato publicitário
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Nossa Caixa foi alertada previamente em 2003 pela Full Jazz
sobre o vencimento do contrato
com aquela agência de publicidade. O banco confirmou o interesse na prorrogação, mas manteve
os serviços, durante 22 meses,
sem amparo legal: não renovou o
contrato nem fez nova licitação.
"Em nenhum momento a Full
Jazz cometeu qualquer ato ilegal",
afirma Maria Christina de Carvalho Pinto, presidente da agência,
em entrevista concedida à Folha.
Em junho de 2003, dois meses
antes do vencimento do contrato,
ela pediu que o banco confirmasse, "por escrito", o interesse na
continuidade do relacionamento
na área de publicidade e marketing. Dez dias depois, o então gerente de marketing, Jaime de Castro Júnior, manifestou, em ofício,
a "intenção na prorrogação": "Essa agência será comunicada posteriormente sobre o valor do contrato, prazo de vigência da prorrogação e assinatura do referido
contrato", disse o gerente.
A promessa não foi cumprida.
O contrato venceu em setembro
de 2003. O banco seguiu encomendando serviços à Full Jazz até
junho de 2005. E fez pagamentos
até setembro do ano passado
num total de R$ 27,2 milhões.
Christina entregou a carta ao
então presidente Valdery Frota de
Albuquerque, na presença de
Waldin Rosa de Lima, chefe-de-gabinete da presidência sem qualquer vínculo formal com o banco.
"A partir daí, cabia à agência
aguardar. O sr. Jaime [de Castro
Júnior] não gostava de ser pressionado sobre esse assunto", diz.
Pelo contrato, os serviços eram
prestados de acordo com "orientação, determinação, pedidos e
controle" do departamento de
marketing", seguindo as diretrizes do sistema de comunicação
do governo do Estado. "Nada
acontecia sem a autorização específica do sr. Jaime", diz Christina.
As relações entre a Full Jazz e
Castro Júnior, demitido em dezembro de 2005, eram no mínimo
contraditórias, a julgar pelas opiniões do ex-gerente. Num catálogo do setor, Castro Júnior atestou,
em 2004, sua surpresa com "o
profissionalismo e a competência" da agência. Um ano depois,
reclamou à comissão de sindicância do "péssimo atendimento"
prestado pelas áreas de redação e
criação da Full Jazz.
Avaliações divergentes
Christina discorda do julgamento da 1ª câmara do Tribunal
de Contas do Estado, que considerou "irregularidade grave o pagamento por serviços prestados
sem cobertura contratual". Para o
TCE, a Full Jazz e a Colucci -que
também atendeu a Nossa Caixa
no mesmo período- "tinham
plena ciência da existência da irregularidade e continuaram prestando os serviços por dois anos,
sem se preocupar em requerer a
regularização da situação".
"Eu não era obrigada a mandar
a carta", diz Christina. Advogados
consultados pela agência dizem
que a Full Jazz "fez mais do que o
contrato pedia". Para ela, o TCE
cometeu "um erro de leitura", ao
julgar que os honorários da agência "variaram em até 18,75%, enquanto o contrato especificou honorários na base de 10%".
"O tribunal considerou a remuneração da agência sobre o valor
líquido pago aos veículos, quando, na verdade, toda a remuneração se faz sobre o valor bruto contratado", explica a publicitária.
O contrato prevê que a remuneração da agência na veiculação é
de 15% (é de 10% sobre serviços
de produção). A Full Jazz acredita
que o tribunal calculou a remuneração a partir de nota em que já
havia sido calculado o desconto
concedido pelos veículos às agências (de 20%, dos quais a Full Jazz
repassava 5% ao banco).
"A Full Jazz seguiu de maneira
rigorosa o contrato e teve receita
média em torno de 10%", diz. A
remuneração seria muito maior,
segundo ela, se o banco não concentrasse grande volume nos serviços de terceiros, sobre os quais a
agência recebia só 1% de honorários. "Não é praxe um volume tão
gigantesco nessas atividades, com
grande lucro para a Nossa Caixa e
grande prejuízo para nós."
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